sexta-feira, 25 de junho de 2010

SANTOS DESCONHECIDOS

Santos Desconhecidos 

WILLIAM WORDSWORTH, numa excelente passagem, expõe sua crença de que existem muito mais poetas no mundo do que supomos,

           "homens dotados de supinos dons,
           Visão e outras mais faculdades divinas",

mas que são desconhecidos porque lhes faltou ou não puderam cultivar o dom da versificação.
Depois ele resume a sua crença numa sentença que sugere verdade que ultrapassa o que quer que ele tenha tido em mente na ocasião:

             "As mais poderosas mentes
             são aquelas das quais, muitas vezes,
             o ruidoso mundo menos ouve."

A maioria de nós, nos momentos de maior sobriedade, admite a validade dessa observação, mas o duro fato é que, quanto às pessoas comuns, não são as descobertas dos momentos de sobriedade que determinam a nossa filosofia de ação; antes, são as noções frívolas e enganosas que o "ruidoso mundo" nos impõe. A sociedade humana em geral (e a nossa em particular) caiu no erro de supor que grandeza e fama são sinônimos. Ao que parece, tem-se como certo que cada geração fornece certo número de homens superiores e que os procedimentos democráticos infalivelmente os encontram e os colocam em posição de proeminência. Quão errado pode ficar o povo!

Basta-nos conhecer, ou sequer ouvir, os grandes nomes de nossa época para descobrirmos quão desprezivelmente inferiores são eles, na maioria. Muitos parecem ter chegado à sua eminência atual graças a pulso, descaramento, fibra, atrevimento e muita sorte acidental. Afastamo-nos deles passando mal do estômago e indagando, num momento de desânimo, se isso é o melhor que a raça humana pode produzir. Mas recuperamos o nosso domínio próprio pelo simples expediente de trazer à memória alguns dos homens simples que conhecemos, homens que vivem sem ser anunciados e decantados, e que são feitos de substância infinitamente melhor do que os alardeados fanfarrões que ocupam muitos dos mais altos cargos do território nacional.

Se queremos ver a vida com firme lealdade e em sua totalidade, devemos fazer um estrênuo esforço para romper com o poder daquela falsa filosofia que iguala grandeza a fama. Ambas podem ser, e muitas vezes são, oceanos e continentes separados.

Se a igreja fosse um corpo totalmente livre da influência do mundo, poderíamos lançar o problema acima referido sobre os filósofos seculares e ir cuidar da nossa vida; mas a verdade é que a igreja também padece desta noção má. Os cristãos caíram no hábito de aceitar os mais barulhentos e notórios dentre eles como os melhores e maiores. Eles também aprenderam a igualar popularidade a excelência e, em franco desafio ao Sermão do Monte, aprovam, não os mansos, mas os auto-afirmados; não os que choram, mas os que têm autoconfiança; não os puros de coração, que vêem a Deus, mas os caçadores de publicidade, que buscam manchetes.

Se pudéssemos parafrasear Wordsworth, poderíamos fazer dizer a seus versos:

               "Os mais puros santos
               São aqueles dos quais, muitas vezes,
               a ruidosa igreja menos ouve",

e as palavras seriam verdadeiras, profunda e maravilhosamente verdadeiras.

Depois de mais de trinta anos de observação do cenário religioso, sou forçado a concluir que, muitas vezes, santidade e liderança da igreja não são sinônimos. Em muitas ocasiões, preguei a cristãos cheios de graça, que tinham ido tão mais longe que eu nos doces mistérios de Deus que eu deveras me sentia indigno de amarrar os cordões de seus sapatos. Todavia, eles se assentavam e ouviam mansamente enquanto alguém que lhes era inferior se levantava no lugar de proeminência e declarava com imperfeição verdades que de longa data lhes eram familiares por íntima e bela experiência. Eles devem ter sabido e sentido quanta teoria e quão pouco real e vívido conhecimento havia no sermão, mas nada diziam e, sem dúvida, apreciavam o pequenino benefício que havia na mensagem. 

Fora a igreja uma comunidade pura e cheia do Espírito, totalmente conduzida e dirigida por considerações espirituais, certamente os mais puros e mais santos homens e mulheres seriam os mais apreciados e os objetos de maior honra; mas o que ocorre é o oposto. A vida piedosa não é mais considerada importante, a não ser quanto aos muito velhos ou aos mais que mortos. As almas pias são olvidadas no turbilhão das atividades religiosas. Os ruidosos, os auto-afirmados, os divertidos são procurados e recompensados de todos os modos, com presentes, multidões, oferendas e publicidade.

Os que se assemelham a Cristo, os que se esquecem de si mesmos, os que vivem como se já estivessem no mundo por vir são empurrados para um lado para darem lugar ao último farrista convertido, geralmente não convertido muito bem e tendo ainda muito de farrista. 

Toda filosofia de vista curta, que ignora as qualidades eternas e dá valor a trivialidades, é uma forma de incredulidade. Os cristãos que encarnam essa filosofia anseiam por recompensa atual; são impacientes demais para esperar o tempo do Senhor. Não subsistirão no dia em que Cristo fizer conhecido o segredo do coração de todos os homens e recompensar cada um de acordo com as suas obras. O verdadeiro santo enxerga mais longe; dá pouca importância aos valores transitórios; com os olhos postos no futuro, aguarda anelante o dia em que as realidades eternas virão aos que lhes fazem jus, ocasião em que se verá que a vida piedosa é tudo o que importa. 

Estranho quanto for, as almas mais santas que já viveram ganharam a reputação de pessimistas. Sua sorridente indiferença para com as atrações do mundo e sua firme resistência às tentações que elas exercem têm sido mal compreendidas por pensadores superficiais e atribuídas a um espírito anti-social e à falta de amor à humanidade. O que o mundo não foi capaz de ver é que esses homens e mulheres peculiares contemplavam uma cidade invisível; andavam dia a dia à luz doutro reino, de um reino eterno. Já estavam prelibando os poderes do mundo vindouro e fruindo a distância a vitória de Cristo e as glórias da nova criação. 

Não, os santos desconhecidos não são pessimistas, nem são eles misantropos e desmancha-prazeres. São, em virtude de sua fé religiosa, os únicos verdadeiros otimistas do mundo. Seu credo foi firmado com simplicidade por Juliana de Norwich, quando disse: "Mas tudo estará bem, e tudo estará bem, e todo tipo de coisa estará bem." Apesar de haver pecado no mundo, argumentava ela, uma tremenda visitação a confrontar-nos, tão perfeita é a expiação, que virá o tempo em que todo o mal será erradicado e tudo será restaurado, voltando à sua prístina beleza em Cristo. Então, "tudo estará bem, e todo tipo de coisa estará bem".

O cristão sábio contentar-se-á em esperar por esse dia. No ínterim, servirá a sua geração segundo a vontade de Deus. Se ele for deixado de lado nas lutas por popularidade religiosa, dará a isto atenção mínima. Ele sabe a Quem está procurando agradar e está disposto a deixar que o mundo pense dele o que quiser. De qualquer forma, ele não estará por aqui por muito tempo, e para onde ele vai, os homens não serão conhecidos por algum tipo de classificação daqui da Terra, mas pela santidade do seu caráter. 

Extraído de: HOMEM: HABITAÇÃO DE DEUS, de A.W.TOZER; Editora MUNDO CRISTÃO, p. 79

por William Wordsworth
Postado por Roberto 
Fonte: Revista Impacto
Abraço





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