quinta-feira, 8 de abril de 2010

A MENTIRA

A Mentira - 


mentira
No âmago de todo problema já enfrentado neste mundo, existe uma mentira. Foi uma mentira que, no princípio, transformou a magnífica harmonia da criação original de Deus em discórdia. A maioria dos cristãos reconhece esse fato que se tornou uma parte indispensável do nosso kit evangelístico. 

 Entretanto, enquanto estamos demonstrando a origem do mal, geralmente deixamos de discernir a mentira que permeia a atmosfera da nossa própria época, a qual, imperceptivelmente, acaba infiltrando-se em nossas vidas. Tal como um fungo que floresce em lugares escuros e sem oxigênio, a mentira prospera entre os que amam mais as trevas do que a luz.

 Certa vez, Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Por que ele disse especificamente a verdade vos libertará? Porque é uma mentira que nos mantém no cativeiro.

 O que diz a mentira? Em essência, diz o seguinte: o homem consegue chegar lá sem Deus. Em outras palavras, todas as nossas aspirações humanas podem ser satisfeitas sem Deus. Felicidade, aventura, desafios, paz, amor, liberdade, propósito, tudo isso pode ser nosso e, ainda por cima, nem precisamos nos preocupar mais com Deus.

 A verdade que dissipa essa mentira pode ser expressa de muitas maneiras diferentes. Particularmente, gosto da maneira como Agostinho o disse: “Senhor, tu nos criaste para ti mesmo, e os nossos corações não encontram sossego enquanto não repousarem em ti”. Em síntese, não dá para chegar lá sem Deus. Para falar a verdade, não dá para chegar a lugar nenhum sem Deus. Todos os nossos mais profundos anseios, em última análise, são impossíveis sem Deus.

 Quando a mentira é exposta dessa forma, ela perde o seu poder. Torna-se tão obviamente errada que é até compreensível pensar que ninguém, pelo menos entre os cristãos, seria capaz de ser enganado por tal descarada contradição à verdade.

 Contudo, é precisamente essa a natureza da mentira. É algo sem substância que depende, em grande medida, de insinuação e conotação. Quando é trazida à luz, evapora. Satanás, o pai das mentiras, sabe muito bem disso e toma o maior cuidado para disfarçá-las sob toda sorte de papel de presente.

 A mentira é caracterizada por promessas que são quebradas, vez após vez, sem qualquer palavra de explicação ou desculpas.

 A Mentira na Propaganda e na Mídia

 A propaganda desempenha um papel muito significativo na propagação de promessas irrealizáveis. Promete-se que o homem que fumar determinado charuto será perseguido por um harém de mulheres sensuais. Mas, na prática, não acontece bem assim. Sim, não foi um fracasso total – a garota do departamento financeiro falou que gosta demais do cheiro de charutos. “Charutos e tangerinas sempre me lembram do Natal”, disse ela.

 Não é suficiente explicar o papel dos propagandistas apenas com base na sua motivação comercial. Essa motivação é apenas uma outra expressão mais básica da mesma falácia oculta, a de que a realização humana pode ser comprada.

 Não é apenas nas propagandas que se encontra a mentira. Os filmes e, especialmente, a televisão desempenham um papel enorme na propagação da mentira. Somos bombardeados por uma exibição desconcertante de imagens potentes, porém ilusórias, para a nossa escolha. Desde as últimas novelas até os seriados favoritos de detetives e policiais. É impossível não encontrar uma imagem em especial com a qual gostaríamos de nos conformar. É uma questão de nos categorizar o mais próximo possível. Esqueça quem você é e seja como um deles.

 A mídia nos apresenta imagens que nada têm a ver com a integridade pessoal das pessoas. Um vilão, na vida real, pode ser visto como um amoroso pai de família, na tela, ou vice-versa.

 Meu ponto é que não podemos confiar em tais imagens. Não podemos aceitá-las por aquilo que parecem ser. As máscaras são fáceis demais de serem assumidas.

 As pessoas se envolvem com as estórias da novela, admiram os personagens, adotam os gestos, as modas, o vocabulário. Pior do que isso, usam-nos como modelos nos seus valores, opiniões e atitudes. Parecem tão verdadeiros, tão convincentes, tão bem-sucedidos. Mas suas opiniões se baseiam em uma outra visão de mundo e não merecem confiança.

 A Mentira na Política e no Estilo de Vida

 Os políticos se tornaram alvos de chacota por causa da freqüência com que quebram suas promessas. No entanto, por estranho que pareça, as pessoas estão sempre prontas a acreditar que o próximo grupo de políticos fará melhor. Mas como poderão ser melhores quando é o sistema inteiro que está em erro? A partir do momento que seu manifesto, embora não declarado, é criar uma sociedade em que as pessoas possam se realizar sem Deus, o fracasso é inevitável. Nesse caso, não faz diferença alguma se estamos falando sobre políticos da direita ou da esquerda.

 Pete Townshend, um guitarrista famoso de uma banda de rock nos anos 70 (The Who), compôs uma música chamada Won’t Get Fooled Again (Não Serei Enganado Outra Vez), na qual comenta a superficialidade do sistema e compara a política com modas de cabelo. “Onde antes se partia o cabelo à esquerda, agora se parte à direita”, a letra diz. A música chega a um tremendo crescendo, e o solista canta gritado: “Apresento-lhe o novo chefe – é o mesmo chefe antigo!”

 Enquanto não fizermos de Jesus nosso “chefe”, cada novo chefe será o mesmo chefe antigo, que simplesmente mudou de chapéu.

 Há um grande coro de reclamações na sociedade sempre que se sente uma ameaça ao seu padrão de vida. Mas itens como televisores, aparelhos de DVD, carros novos, celulares e ar-condicionado não são requisitos para qualidade de vida. Não é a falta dessas coisas que deveríamos estar lamentando. Um aparelho que economiza tempo e que nos oferece mais espaço para sermos mais absorvidos por imagens fictícias não está realmente nos prestando um serviço. Argumentaremos, é claro, que usaremos o tempo com proveito. Mas será que usaremos mesmo? Não possuamos mais coisas do que somos capazes de governar. Pelo contrário, adotemos um estilo de vida mais simples, que possa ser controlado.

 O mundo está cheio de pessoas que acreditam na mentira de que algo melhor está bem ali, um pouquinho além do seu alcance. Se tão somente pudessem...

 “Se não tivesse me casado tão jovem.” Um outro divórcio está a caminho. “Ah, se tivéssemos condições de dar uma viagem de férias para nossos filhos...” A mamãe vai logo começar a trabalhar e os filhos vão sofrer porque ela não mais estará em casa quando voltarem da escola.

 O amanhã assoma no horizonte da maioria das pessoas como uma grande panacéia de todos os males. Elas vivem nas suas imaginações, nunca reconhecendo que hoje é o amanhã de ontem. Escapismo sem disfarce está cada vez mais aceitável. Fantasias eróticas e românticas ganharam posição de prestígio.

 A Mentira no Romantismo e Erotismo

 Se quisermos ser livres dessas coisas, é importante que identifiquemos a mentira ao invés de tentar desesperadamente excluir os alvos ilusórios das nossas vidas.

 No cerne do erotismo está a mentira que promete realização sexual, mas que, no fim, só produz frustração. O problema é que se eu não estiver andando em comunhão com o Senhor quando a tentação sexual chegar, a condenação pode me levar a esconder-me dele, e as trevas nas quais tentei me esconder serão o ambiente no qual a mentira prosperará. Precisamos enfrentar tais tentações de forma sincera e direta. Há ampla graça e perdão com Deus.

 Vamos dar mais um passo adiante. O que é, exatamente, que está sendo prometido? Por que a promessa nunca pode ser cumprida? Situações específicas podem diferir, mas faça essas perguntas sobre cada tentação. Faça isso em comunhão com Deus. Ele é maravilhosamente compreensivo e totalmente incapaz de ser chocado ou escandalizado. A verdade o libertará.

 Romantismo é superficialmente menos grosseiro que erotismo, porém a raiz básica de ilusão e irrealidade é a mesma. Existe o mesmo desejo ilegítimo de experimentar algum benefício sem custo ou responsabilidade. Somos irredutíveis quanto aos males de se escapar para o mundo da fantasia por meio de drogas, e não percebemos que viver no mundo da nossa imaginação é fazer a mesma coisa, só que sem drogas.

 É bom arrepender-se e ser perdoado, mas é ainda melhor, em comunhão com Deus, identificar a mentira e ser transformado de sonhador em alguém que tem visão e está preparado a ansiar e trabalhar em favor de um alvo alcançável.

 Prometeram-nos que podíamos experimentar tragédia sem dor; amor sem doação; mistério sem incerteza. É tudo tão seguro. Podemos nos apaixonar sem nos machucarmos. Se as coisas não estiverem andando do jeito que queremos, podemos começar de novo com outro livro, ou começar a imaginar um relacionamento ilícito com outra pessoa.

 Mentiram para nós. A vida não é segura. Precisamos da segurança do nosso Deus se quisermos vencer na vida real e não ficar nas ilusões do mundo bidimensional que nos rodeiam.

 Encontrando Realidade

 Eu estava visitando um fazendeiro recentemente no caminho para casa, ao voltar de uma viagem de alguns dias. Depois de uma refeição muito agradável, meu anfitrião me convidou a ver suas ovelhas sendo tosadas. Hesitei um pouco em dizer sim, porque eu queria mesmo chegar em casa e evitar o trânsito mais pesado nas estradas. Além disso, como já tinha visto essas operações na televisão, achei que já sabia tudo a respeito. Porém, talvez para não dar a impressão de desinteresse, talvez por um motivo mais profundo, respondi que daria uma olhada.

 Caminhamos através de um grande galpão onde se tosavam as ovelhas, e logo fui impactado pelo forte cheiro. Um perito neozelandês estava fazendo o serviço, e fiquei tremendamente impressionado com o esforço físico envolvido no seu trabalho. Primeiro, era necessário levantar o animal pesado e peludo, depois, com habilidade, ele manipulava a criatura, usando as próprias pernas para escorá-la e prendê-la, enquanto, em seguida, passava a despi-la de sua cobertura.

 Era infinitamente mais “real” e “vivo” do que eu imaginara, a partir das imagens vistas no aparelho eletrônico. O mesmo ocorre com todos os aspectos da vida que pensamos conhecer, mas que, na verdade, vimos apenas em dimensões bem menores e com perspectiva muito inferior na televisão ou nos filmes.

 Quanto tempo passamos fora do ambiente de concreto e asfalto que criamos para nós mesmos? Estou convencido que o simples fato de estar entre árvores e campos, rios e flores selvagens, já alimenta nossa alma. Fomos levados enganosamente a acreditar que essa é uma atividade não essencial.

 Se quisermos aceitar o desafio para viver de acordo com a verdade, teremos que nadar rio acima contra a correnteza atual. As áreas de carreira e educação terão de ser analisadas.

 Não se encontra realização em carreiras da forma que muitos a procuram. A educação também não é a chave. Deus é nossa realização e aquele que fixa o coração nele não será frustrado.

 Um amigo meu recebeu o convite para estudar inglês na Universidade Cambridge. Ele explicou posteriormente como tomou a decisão:

 “Ir à faculdade significaria desfazer amizades e deixar para trás algo que estava nascendo, algo que eu tinha certeza que provinha de Deus. Eu estava começando a reconhecer com profunda alegria que essas amizades, em contraste com tantas outras que observava, prometiam fazer parte de algo bem maior do que as pessoas envolvidas, algo permanente. Eu estava apenas vagamente consciente dessas coisas, no entanto um curso de faculdade apresentava uma ameaça muito substancial a tudo isso. Conseqüentemente, foi com muita alegria e alívio que percebi que o desejo do meu coração era permanecer onde estava. Assim, ainda que o mundo inteiro parecesse ter o conceito fixo de que, para uma pessoa na minha posição, o caminho para a universidade era obrigatório, fiquei muito feliz em permanecer ‘livre’. Não era uma questão de ser certo ou errado ir à universidade, mas que sua atração naquele momento não se comparava de forma alguma com o que Deus estava planejando para nós onde estávamos. E não daria para levar o que Deus estava fazendo na minha vida para uma situação nova na faculdade, porque meu lugar no seu Reino já estava investido, não em princípios facilmente transportados, mas em relacionamentos específicos com pessoas específicas.”

 A Estratégia de Satanás

 O objetivo final de Satanás é oferecer um sistema que é governado por ele mesmo e por seus agentes, completamente alternativo à maneira como Deus quer as coisas.

 A religião também faz parte dos seus planos. Satanás está sempre inventando novos sistemas filosóficos e religiosos no seu desejo benévolo, ou melhor, malévolo de atender às necessidades de todos. Satanás não tem compromisso com a verdade. Ele não está comprometido com satanismo ou magia negra da mesma forma como Jesus se compromete com a verdade do cristianismo. Ele não se importa se você é ateu, espiritualista ou panteísta. Não devemos nos surpreender com a variedade e falta de coerência no meio de sistemas não cristãos.

 Certa vez, Deus falou com Bob Mumford: “Mumford, você e eu somos incompatíveis, e eu não mudo!”. Porém Satanás não é tão inflexível assim. Ele o ajudará a edificar seu próprio sistema se você não conseguir achar algo com que se identificar.

 Uma das principais ambições de Satanás é governar a igreja. Aqui ele precisa lançar mão de suas artimanhas mais sutis. Muitos cristãos acham que pelo fato de terem Deus no seu vocabulário estão livres da mentira do mundo, mas infelizmente há ampla evidência da sua infiltração no meio deles. Os cristãos continuam, em grande medida, independentes de Deus e uns dos outros, cada qual cuidando do próprio jardim e limpando o próprio carro. Suas grandes preocupações são o preço da carne e se vão conseguir viajar de férias este ano. “Eu não queria que você convidasse pessoas para casa depois do culto sem me avisar – não arrumei a sala ainda.”

 As reuniões da igreja são conduzidas como se a igreja fosse uma democracia. Um homem, um voto, sem levar em conta o caráter ou o dom, e sem discernir autoridade espiritual. Profissionalismo e formalidade permeiam a igreja, promovendo a mentira de que Deus não pode ser conhecido íntima ou pessoalmente. Mas “Aba” realmente significa “Papai”. Os templos mais parecem tribunais, com dependências que lembram escritórios de advogados, ambientes pouco propícios para uma família.

 A tática principal de Satanás não é convencer pessoas na igreja de que Deus não existe. Pelo contrário, por meio de promulgar constantes mentiras sobre a natureza de Deus, ele espera seduzir as pessoas e atraí-las para fora do seu lugar de descanso na graça incondicional de Deus para pensarem que deveriam estar fazendo algo para Deus. Dessa forma, sementes de independência são lançadas. Uma igreja que procura oferecer adoração ou serviço a Deus sem depender da capacitação da vida do Espírito está abrindo o caminho para Satanás mostrar sua carta de trunfo.

 Creio que, nos próximos anos, haverá grande crescimento do interesse das pessoas pela religião. Entretanto, não terá nada a ver com a entrega da independência humana ou do reconhecimento de Jesus como Senhor. Será caracterizado por uma confusão de rituais, sinais sobrenaturais e idéias conflitantes. Será um avivamento religioso que servirá para fortalecer as pessoas na sua independência de Deus.

 A Saída

 Como poderemos achar uma saída no meio de toda essa confusão? A resposta é maravilhosamente simples.

 “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina...” (Jo 7.17). Discernimento entre verdade e erro não é uma questão de intelecto. É uma questão de ter coração aberto para Deus. Embora a mentira seja formidável, não é todo-poderosa. Não pode ocupar mais domínio na nossa vida do que lhe permitimos. Satanás precisa da nossa cooperação. Se a mentira se infiltrou na nossa sociedade, foi somente na proporção em que a permitimos. Romanos 1.25 diz: “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira”, literalmente, na mentira. Tem havido uma disposição de abandonar a verdade que tínhamos em troca de uma mentira.

 Pense nisso da seguinte forma: estou dentro de um longo túnel escuro. Enquanto vou apalpando no escuro, vejo uma minúscula pontinha de luz. Se eu andar em direção àquela luz, automaticamente me qualificarei para receber mais luz, e assim sucessivamente até sair na plena luz do dia. Mas se eu firmemente me recusar a ir naquela direção porque prefiro não achar a luz naquela direção, continuarei nas trevas, batendo minha cabeça contra a parede.

 Ao andar humildemente com Deus, com um coração de integridade, descobriremos que não haverá lugar para qualquer aspecto da mentira em nossas vidas. Veremos que simplesmente não cabe, não se encaixa. É irrelevante. Se nos acostumarmos a conversar com Deus, momento por momento, na nossa vida e a dividir com os outros a simplicidade do diálogo com Deus, ritual e liturgia tornar-se-ão irrelevantes.

 Se eu estiver satisfeito com meu relacionamento com Deus hoje, a promessa de achar satisfação amanhã por meio de um carro novo será irrelevante.

 Em Lamentações 3.24 lemos: “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele”. Se o Senhor verdadeiramente é a minha porção, coisas tais como lascívia, romantismo, prestígio social, materialismo e falsa religião acharão pouca aceitação no meu coração. Se minha mente for renovada diariamente pelo Espírito Santo, acostumando-se mais e mais a pensar sobre a vida do ponto de vista dele, serei cada vez menos conformado com este mundo e com a mentira que permeia toda sua essência.  

 Este artigo foi publicado originalmente em julho de 1978, numa revista periódica da Inglaterra chamada Fulness (que não circula mais).
Postado por Roberto
Abraço

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