Rute: Amando com Devoção
Na história de Rute, encontramos alguns interessantes e importantes paralelos com os nossos dias, que fazem deste um livro muito profético. É interessante notar que Rute é lido no Shavuot (Pentecostes) quando celebramos tanto a entrega da Torá (ou da lei, no Monte Sinai) quanto o derramamento do Espírito Santo em Atos 2. Se entendermos o significado dos nomes das figuras centrais do livro, também entenderemos esse paralelo entre o tempo de Rute e o nosso.
As Personagens
No capítulo 1, nos primeiros dois versículos, vemos uma família que está deixando a terra de Israel. O marido é Elimeleque, e sua esposa é Noemi. Elimeleque significa Deus é meu rei, e Noemi significa agradável. Vemos várias vezes nas Escrituras o relacionamento entre O Deus Eterno e Israel descrito como o de marido e mulher. Elimeleque simboliza O Eterno que está apaixonado por Noemi, que representa Israel. O amor dele é um amor eterno, como declarou o profeta Yermiyahu (Jeremias): “Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí (Jr 31.3). Esse amor não se alterou com a infidelidade que, muitas vezes, Israel demonstrou: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses...” (Os 3.1).
Por que Elimeleque teve que sair da terra? No livro de Yechezkel (Ezequiel), lemos que Deus se retirou primeiro do templo (Ez 10.18) e depois de Jerusalém (Ez 11.23) porque os filhos de Israel contaminaram a terra com seus pecados. Quando Elimeleque partiu, Noemi também não pôde ficar. Era uma figura de Israel saindo para o cativeiro, não apenas o cativeiro babilônico, mas o cativeiro muito maior durante os quase dois mil anos após a destruição de Jerusalém em 70 A.D.
Os nomes dos dois filhos de Noemi revelam o que os judeus experimentaram na Diáspora. O primeiro filho era Malom, que significa doença ou enfermidade. O outro filho chamava-se Quiliom, que significa chegando ao fim, deixando de existir. Se pensarmos nos pogroms, perseguições, execuções em massa, cruzadas, inquisições e no Holocausto, podemos entender como o significado daqueles dois nomes se cumpriu.
Vemos também que Noemi tinha duas noras, representando as igrejas gentias. Uma chamava-se Orfa, e a outra, Rute. Ambas viveram de acordo com o significado de seus nomes: Orfa vem da palavra hebraica Oreph, que significa a parte de trás do pescoço. De fato, ela deu as costas para Noemi (Rt 1.14). Orfa representa a história da igreja no geral. É claro que houve exceções como Corrie Ten Boom e muitos outros, porém, tomando como exemplo a época do Holocausto, notaremos que pouquíssimos cristãos tomaram uma posição de coragem contra a injustiça e crueldade praticadas contra os judeus.
Rute significa aquela que ama. Ela representa os que amam, com devoção, o Messias e o povo judeu. A mais profunda expressão de amor vem através de um relacionamento de aliança como aquele que Rute desenvolveu com Noemi. Sua decisão foi expressa com estas belíssimas palavras: “Não me instes para que te deixe, e me obrigue a não seguir-te; porque aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu, e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra cousa que não seja a morte me separar de ti” (Rt 1.16-17).
O Significado da Aliança entre Rute e Noemi
Rute não fez um compromisso no sentido moderno da palavra. Hoje, quando se fala em “fazer um compromisso”, a maioria das pessoas quer dizer mais ou menos o seguinte: “Tentarei cumprir minha promessa, mas, caso não der certo, lhe pedirei desculpas”. Rute não reservou para si a opção de recuar de sua promessa de amar e servir Noemi para sempre.
Rute entrou nesse relacionamento de aliança quando Noemi estava prestes a voltar para a terra de Israel. Hoje vivemos num tempo em que Deus está cumprindo as profecias antigas trazendo seu povo de volta para a terra. A condição de Noemi nesse retorno dá uma boa descrição do estado dos judeus exilados que ainda hoje estão voltando de todas as partes do mundo.
Noemi disse de si mesma: “Tenho eu ainda no ventre filhos?” Em outras palavras: “Estou estéril”, ou, de modo mais geral: “Estou improdutiva. Não tenho a capacidade de gerar vida”. Depois, continuou dizendo: “Sou velha demais para ter marido, pois o Senhor tem descarregado contra mim a sua mão”. Ela não estava dizendo apenas que não era boa o bastante para Deus, mas que, na verdade, ele a havia rejeitado. No fim, concluiu: “Se eu dissesse que tenho esperança...”; no entanto, ela não podia dizer isso, pois estava sem esperança. Depois, ela ainda acrescentou: “Não me chameis Noemi (agradável), chamai-me Mara (amargurada). Sou uma mulher velha, improdutiva, sem esperança e amarga. Perdi tudo. Ditosa eu parti, porém o Senhor me fez voltar pobre.”
O Sofrimento de Noemi
Estas palavras descrevem tão vividamente o povo judeu que sobreviveu ao Holocausto. Jeremias, assim como outros profetas, descreve os exilados retornando para Israel da seguinte forma: “Porque assim diz o Senhor: Teu mal é incurável, a tua chaga é dolorosa. Não há quem defenda a tua causa; para a tua ferida não tens remédios nem emplastro” (Jr 30.12-13).
Deixe-me ilustrar esta verdade com algumas experiências reais. Uma vez eu fui de bicicleta ao pequeno shopping próximo à nossa casa. Todas as vagas para bicicletas estavam tomadas. Vi um senhor idoso indo destrancar o cadeado de sua bicicleta para ir embora. Parei a minha atrás da dele e fiquei esperando quieto por sua vaga. Ele sentiu que alguém estava atrás dele e logo seu corpo inteiro começou a tremer. Em seguida, começou a gritar dizendo: “Só um segundo, estou saindo, estou saindo.”
O fato de alguém ter parado atrás dele desencadeou memórias da sua experiência num campo de concentração e o fez lembrar-se de um guarda nazista parado atrás dele, arma na mão, ameaçando sua vida. Eu o acalmei, e depois conversamos por um tempo. Ele me mostrou o número tatuado em sua mão e falou do sofrimento pelo qual passara. Eu lhe contei a respeito dos meus avós que também sobreviveram aos campos.
Esses sobreviventes são pessoas que sofreram muito. O sofrimento destruiu neles a capacidade de ter e expressar certos sentimentos, especialmente o amor. Criaram a geração seguinte num deserto emocional. Muitos daquela segunda geração cresceram esperando pela primeira oportunidade de fugir de sua família. Estavam famintos por amor. Isso fez com que muitos se casassem com a primeira pessoa que apareceu, mesmo sendo bem jovens. Com certeza, muitos desses casamentos terminaram em divórcio, produzindo lares desestruturados para a terceira geração, com pais que nunca receberam amor e não sabiam como expressá-lo.
Além do Holocausto, houve muitos outros eventos na história que feriram profundamente as almas do povo judeu. Essas feridas foram passadas de geração a geração. E certamente não há ninguém além de Deus capaz de sarar estas feridas. Ele prometeu naquele mesmo capítulo de Jeremias que curaria os feridos no meio do seu povo. “Porque te restaurarei a saúde, e curarei as tuas chagas, diz o Senhor; pois te chamaram a repudiada, dizendo: É Sião, já ninguém pergunta por ela” (Jr 30.17).
A Nova Noemi
Antes de explicar mais sobre como o chamado de Rute é parte do processo de cura que Deus prometeu, eu gostaria de compartilhar com vocês algumas informações sobre a nova Noemi – aqueles que estão retornando à terra. A maioria deles vem da antiga União Soviética. Nos últimos dez anos, mais de um milhão de pessoas imigraram para Israel. Isto significa um crescimento populacional de 25%. São pessoas que precisavam de casas para morar, de empregos e de escolas. Eles necessitavam de assistência médica.
A maioria vem de um passado marcado pela pobreza. Muitos deles ganhavam o equivalente a US$ 20 por mês (algo como R$ 45,00), o que não era suficiente para sobreviver. Vários chegaram a iniciar uma nova vida em Israel com menos possessões do que muitos de nós levaríamos para uma viagem de férias. Vieram de uma sociedade na qual não possuíam um sistema bancário, não havia um competitivo mercado de mão-de-obra e onde nunca tiveram de alugar um apartamento porque a moradia lhes era fornecida. Estas são algumas das muitas coisas que hoje eles precisam encarar, sem falar no novo idioma.
Deus quer usar dois grupos para facilitar seu trabalho de cura. Em Jeremias 30.18-20, vemos a restauração da Congregação Messiânica na terra prometida com o propósito de receber os que retornariam do exílio. O outro grupo é a igreja gentílica. No Messias, esses dois são feitos um novo homem (Ef 2.11-15).
O Chamado de Rute
Então, o que significa para a igreja aceitar o chamado de Rute? Nós já sabemos que representa um relacionamento de compromisso que não deve ser quebrado. Mas, como se pode vivê-lo, no dia-a-dia? Vamos aprender com Rute. Seu segredo era um relacionamento cada vez mais íntimo com Boaz. Boaz é uma figura do Messias.
Isto é o que temos registrado a respeito dele: “Tinha Noemi (Israel) um parente de seu marido (um resgatador – Yeshua), senhor de muitos bens, da família de Elimeleque (meu Deus é Rei), o qual se chamava Boaz (há poder nele)” (Rt 2.1). Este versículo mostra que Boaz não é apenas um dos ancestrais do Messias, mas também uma figura dele.
Vejamos como se desenvolve o relacionamento de Rute com Boaz. “Ela se foi, chegou ao campo, e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz” (Rt 2.3). Rute (a igreja) estava procurando provisão para ela e para Noemi (Israel). Enquanto ela estava procurando, “por casualidade (ela) entrou na parte que pertencia a Boaz”. A expressão “por casualidade” em hebraico, na verdade significa que ela não calculou em sua mente, não estava consciente do que estava fazendo, porém foi conduzida àquele lugar específico assim como ocorreu com Jacó quando chegou em Betel.
Assim, ela foi levada à fonte da provisão da mesma forma como nós o seremos se buscarmos como Rute. Boaz confirmou isso a ela dizendo: “Não vás colher a outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com as minhas servas… Não dei ordem aos servos que te não toquem?” (Rt 2.8,9). Boaz (o Messias) está dizendo: “Você veio ao lugar certo. Você veio a mim para encontrar provisão e proteção, e eu os darei a você – isso e muito mais”.
A resposta de Rute a tamanha gentileza e bondade foi adoração. “Então ela, inclinando-se, rosto em terra...” (v.10). A palavra traduzida como “inclinando-se” tem dois significados – inclinar e adorar. Nós devemos expressar nossa gratidão e adoração pela direção e provisão que não merecemos, assim como Rute sabia que não merecia aquilo. “Como é que me favoreces e fazes caso de mim, sendo eu estrangeira?” (v.10). Ela não considerou seu gesto como algo normal, como se lhe devesse aquela atenção, o que abriu o caminho para outra revelação. “Bem me contaram tudo quanto fizeste a tua sogra” (v.11). Ele sabe de tudo, e tudo é importante para ele. É importante o suficiente para que ele repare e se lembre de cada detalhe, não importa o quão pequeno possa parecer para nós.
O Que Rute Pode Oferecer?
O Messias reparou nas duas moedas da viúva. Ele usou os dois peixes e os cinco pães que pareciam tão estupidamente pequenos comparados à necessidade. Os discípulos expressaram o mesmo pensamento que nós teríamos se estivéssemos naquela situação. Eles disseram: “Nós não temos dinheiro suficiente (recursos) para alimentar essa quantidade de gente e, mesmo se tivéssemos, até que comprássemos tudo, seria muito tarde (não temos tempo suficiente)”.
Entretanto, aquele garoto tinha uma perspectiva diferente. Ele não disse que dividir dois peixes entre cinco mil pessoas resultaria em pedaços tão pequenos que seria preciso uma lupa para serem vistos. O que ele pensou provavelmente era algo assim: “O Mestre quer fazer algo. Claramente o que tenho não é suficiente, mas, como ele pediu isso de mim, eu lhe oferecerei o que tenho. Ele saberá como multiplicar”.
No começo, Rute não tinha nada para oferecer a Noemi, contudo ela seguiu a direção em seu espírito, recebida do Messias, e continuou adorando-o assim como você e eu podemos fazer. Quando fizermos isso, descobriremos que ele suprirá mais necessidades do que jamais conseguiríamos, mesmo usando todo o nosso tempo e recursos. Quando agimos assim, recebemos algo mais do Messias, a promessa de uma recompensa completa. “O Senhor retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do Senhor” (Rt 2.12). Ela não recebeu a promessa de uma recompensa apenas, mas de uma recompensa completa. Você também receberá uma recompensa por servi-lo fielmente, porém a recompensa completa está ligada à forma com que você se relaciona com o povo judeu, de acordo com a oportunidade que o Senhor lhe der.
O Que Rute Queria
Até aqui temos visto algumas coisas incríveis: direção, provisão, proteção, favor e a promessa de uma recompensa completa. Muitos de nós pensaríamos que isso já seria mais que suficiente, mas Rute queria mais. Ela sabia que acima das dádivas está o Doador. Acima da provisão está o Provedor. Ela queria conhecê-lo mais. Ela queria ser íntima dele. Ela estava pronta para ir além em conhecê-lo, para chegar até aonde fosse possível.
“Havendo, pois, Boaz comido e bebido, e estando já de coração um tanto alegre, veio deitar-se ao pé de um monte de grãos; então chegou ela de mansinho, e lhe descobriu os pés, e se deitou” (Rt 3.7). Rute foi até aonde uma mulher solteira pode ir sem cometer adultério. Você não pode ser íntimo de uma pessoa em público quando está cercado por muita gente. Você precisa ter uma hora e um lugar para estar a sós com ele sem perturbação ou interrupção. Um tempo especial para pessoas que se amam.
Yeshua repreendeu a congregação em Éfeso porque eles abandonaram seu primeiro amor. Realizaram grandes coisas e exercitaram grande discernimento espiritual mas, para ele, isso não podia substituir um relacionamento íntimo de amor. Quando começarmos a amá-lo por quem ele é e não por aquilo que ele pode dar, desfrutaremos de sua confiança e entenderemos seu coração. Como resultado, ele liberará recursos com os quais nunca poderíamos sequer sonhar.
Quando Rute veio até Boaz, ele disse assim: “Dá-me o manto que tens sobre ti, e segura-o… e ele o encheu com seis medidas de cevada e lho pôs às costas” (Rt 3.15). Antes disso, ela recebia uma provisão diária para si mesma e para Noemi, mas agora com uma “oferta única” ela teria provisão para as duas por muitos dias. Junto com o presente, ela recebeu uma instrução específica: “Não vá à sua sogra de mãos vazias”.
Neste ponto, muitos de nós estaríamos satisfeitos o bastante para parar, mas Rute não estava. Ela queria o máximo daquele relacionamento. Ela queria conhecer toda a profundidade e a intimidade que lhe fosse possível. Então ela casou-se com Boaz. Desse casamento, um bebê nasceu. As Escrituras dizem algo maravilhoso sobre isso. “A Noemi nasceu um filho” (Rt 4.17). Algo parece estar fora de ordem. Rute deu à luz e a Noemi nasceu um filho? Sim! Rute foi tão longe em servir a Noemi que se prontificou a abrir mão de seu próprio bebê, seu próprio fruto para trazer vida a Noemi. Quando os judeus começarem a ver semelhante serviço abnegado, tamanho sacrifício por parte da igreja, ficarão perplexos. Esse tipo de doação, envolvendo alto custo pessoal, trará cura às velhas feridas, preconceitos e mal-entendidos. Não somente cura, mas também trará a revelação do Messias ao povo judeu. “Seja o Senhor bendito, que não deixou hoje de te dar resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste” (Rt 4.14). Quando a igreja começar a servir com esse nível de sacrifício, isso não só trará conhecimento do Redentor de Israel, mas também avivamento. O nome dele será famoso em Israel.
Deus está chamando você para ser uma Rute, para ter uma parte na restauração de Israel, para que se cumpram as palavras de Shaul (Paulo): “que será o seu restabelecimento (de Israel), senão vida dentre os mortos?” (Rm 11.15).
Elder Gamliel, judeu messiânico.
Traduzido do site www.tents-of-mercy.org.por Elder Gamliel
Postado por Roberto
Fonte: Revista Impacto
Abraço
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