quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DISTRAÇÃO O MAL DO SÉCULO - 21

Distração – o Mal do Século 21

 “O Senhor é o meu pastor: nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma” (Sl 23.1-3).  

 Com toda certeza, você já leu e ouviu muitas vezes esse texto bíblico. Entretanto, eu gostaria de perguntar: até que ponto você o tem experimentado? Quanto tempo tem passado, recentemente, em pastos verdejantes? Repousando – não correndo atrás de uma bola, um entretenimento ou uma diversão – em pastos verdejantes? Qual foi a última vez que parou perto de águas tranquilas ou sentiu o Senhor refrigerar sua alma num verdadeiro ambiente de paz, clareza e restauração?

 A fonte do problema

 Há pouco tempo, comprei um livro de uma autora chamada Maggie Jackson sobre um assunto que considero extremamente importante para o mundo de hoje: distração (título do livro: Distracted: The Erosion of Attention and the Coming Dark Age – “Distraído: a erosão da atenção e a iminente era das sombras”). Quero citar alguns trechos desse livro e pedir que você reflita seriamente a respeito, pois são afirmações muito impactantes e assustadoras.

 A tecnologia fez com que a distração se tornasse onipresente. Estamos quase sempre ao alcance de algo novo para se colocar no cérebro. Com que frequência você fica no carro sem ligar o som? Quantas vezes você entra em sua casa/quarto/acomodação sem ligar a televisão ou, como é mais comum hoje, sem procurar o cabo da Internet? Lugares que antes ofereciam uma espécie de refúgio de tudo isso, como cafeterias ou salas de espera, hoje estão entre os recintos que oferecem maior grau de conectividade.

 Entretanto, como são nessas águas que costumamos nadar, é difícil perceber o que está acontecendo a menos que algum tipo de condição artificial se interponha – um fator “artificial” como – por exemplo – a natureza! O apagão ocasional é uma chatice, mas também uma dádiva. Uma longa caminhada a sós com uma mochila nas costas é uma experiência reveladora. Durante dois ou três dias, seu transmissor interno de CNN [ou CBN] continua com seu blá-blá-blá interminável. Porém, chega um ponto em que opiniões, discussões e planos começam a esgotar-se, e as vozes calam-se por um pouco. O silêncio nos traz sensações estranhas, esquisitas – até incômodas.
  
 Temos hoje, ao nosso dispor, mais de 50 milhões de sites para serem pesquisados, 1,8 milhão de livros em circulação, 75 milhões de blogs e outras tantas “nevascas” de informação. Mesmo assim, procuramos cada vez mais conhecimento por meio de buscas no Google ou manchetes no UOL (Terra, Yahoo, etc.), as quais engolimos na pressa ao mesmo tempo em que fazemos malabarismo com diversas outras tarefas simultâneas.

 Essa maneira de viver está corroendo completamente nossa capacidade de manter atenção profunda, contínua e perceptiva – que é a pedra fundamental de intimidade, sabedoria e, até mesmo, progresso cultural. Além disso, tal desintegração poderá custar um preço muito elevado para nós e para nossa sociedade.

 O fascínio escravizante por pessoas e coisas multitarefas e a lealdade quase religiosa a um estado de movimento constante são indicações de um universo de distração, no qual os antigos conceitos de espaço, tempo e lugar foram estraçalhados. É por isso que somos cada vez menos capazes de ver, ouvir e entender o que é relevante e permanente; é o que causa, muitas vezes, a sensação de que mal conseguimos manter a cabeça fora d’água; e é o que marca nossos dias com intermináveis pontas sem nós. Além disso, o enfraquecimento de nossa capacidade de concentração está ocorrendo a tal velocidade e em tantas áreas da vida que a erosão rapidamente atinge massa crítica. Estamos a ponto de perder nossa capacidade, como sociedade, de manter atenção focada com profundidade e por intervalos razoáveis de tempo. Em síntese, estamos desabando, como cultura, em direção a uma nova idade escura.

 Quase um terço dos trabalhadores hoje sente que raramente tem tempo para refletir sobre o trabalho que realiza ou analisá-lo adequadamente. Mais de 50% normalmente são obrigados a fazer malabarismo com uma quantidade excessiva de tarefas simultâneas ou são interrompidos tantas vezes que sentem dificuldade de concluir seu trabalho. Uma pesquisa, feita ao longo de um ano inteiro, constatou que os trabalhadores não só mudavam de tarefa a cada três minutos durante o dia de trabalho, mas também que metade das interrupções era iniciada por eles mesmos. As pessoas estão tão atordoadas que não têm tempo para refletir sobre o mundo ao redor, muito menos sobre seu futuro.

 O que é atenção?

 Uma das melhores definições de atenção que já encontrei vem do ano longínquo de 1890, quando as pessoas ainda sabiam o que isso significava. É uma definição do psicólogo e filósofo norte-americano William James:

 Atenção é a ação em que a mente toma posse, de forma clara e vívida, de um entre vários objetos ou linhas de pensamento simultaneamente possíveis. Implica o afastamento de algumas coisas para poder ocupar-se efetivamente de outras. Atenção é o maestro do cérebro, o único capaz de dirigir harmonicamente a orquestra multifuncional da mente. Em suas diversas ramificações, estão as chaves não só para formas mais elevadas de pensamento, mas também para a moralidade e, até mesmo, para a própria felicidade. 

 O mundo virtual que a Internet traz hoje para dentro de nossa casa oferece-nos experiências, atividades e até uma forma de interagir com coisas, eventos e pessoas que estão a centenas ou milhares de quilômetros de distância. Com isso, destruiu o nosso conceito de espaço, porque está em todo lugar e ininterruptamente ligada.

 O conceito atual de multitarefas (ou tarefas simultâneas) redefiniu nossa noção de tempo. Não é mais uma questão de sequência. Temos, hoje, cérebros de macacos que pulam por aí, coçam-se ali e saltam para aquele galho acolá. Uma vida de movimento perpétuo remodelou nosso relacionamento com o espaço e com o significado de estar no mundo.

 Dessa forma, as coisas que antes serviam como âncoras, permitindo que formássemos um senso de quem somos, do que é realmente importante e do objetivo da nossa vida, estão sendo corroídas rapidamente – diante dos nossos olhos. A velocidade desse processo está nos afetando não apenas socialmente, mas, de acordo com um volume cada vez maior de evidência assustadora, também fisiologicamente. Já foi realizada uma série de estudos sérios que mostram os efeitos de distração e atividades multitarefas sobre o cérebro humano. Os resultados são, no mínimo, alarmantes, pois mostram que a distração do mundo atual está sutilmente produzindo efeitos muito nocivos nos centros de estresse e criatividade. Estamos ficando mais estressados e menos criativos. Daí, a iminência de uma nova idade escura.

 Todos nós sentimos isso – porque vivemos neste mundo, nesta época. Alguns o sentem com mais intensidade do que outros. Com certeza, você conhece alguém que não tem celular, não usa a Internet ou não tem e-mail. Mas essas pessoas são cada vez mais raras. A verdade é que, hoje, somos pessoas distraídas, e que essa distração está trazendo consequências.

 Durante uma semana normal, podemos sentir fortes anseios momentâneos pela presença de Deus; tais lampejos de saudade, porém, são neutralizados, às vezes em questão de instantes, pelas distrações da cultura. É um celular que toca: “Chegou uma mensagem para você!” Uma rápida olhada no calendário, a campainha... Pode ser qualquer uma dessas coisas ou de uma multidão de outras.

 Excesso de informação – falta de ouvir Deus

 Eu gosto de ter acesso à informação. Sinto, de certa forma, que se sou o presidente de uma organização chamada “Grupo Sentinela”, cujo objetivo é ser atalaia, saber as coisas de antemão para alertar os outros, então preciso estar por dentro dos fatos. Foi exatamente por isso que me inscrevi para receber vários feeds RSS. Caso você não saiba, um feed RSS é um pequeno alerta que você recebe no computador dizendo que há, por exemplo, 18 artigos do jornal Washington Post, 22 do The New York Times e 15 da Wired Magazine esperando por você. No meu caso, a soma dessas informações chega às centenas. Se passo apenas dois ou três dias sem checar os meus feeds, tenho de excluir todos ou gasto um tempo considerável me atualizando.

 Agora, a pergunta é a seguinte: todo esse tempo que invisto, que nós como cultura investimos, para ficar por dentro dos fatos, sempre atualizados, serve para que se é exatamente essa atividade que nos impede de ouvir a voz e a sabedoria de Deus? O que, no final do dia, realmente aprendemos? E o que passamos a saber é adequado para fazer diferença em nossa cultura? Em nossa sociedade? Em nossa comunidade?

 Basicamente, a informação que recebemos diz respeito ao que está quebrado no mundo, ao que não está funcionando. Agora, se investíssemos esse mesmo tempo meditando na presença de Deus, naqueles pastos verdejantes, ao lado das águas tranquilas, conectando-nos à revelação e sabedoria do Espírito, talvez aprenderíamos algo verdadeiramente útil.

 Nosso amor, como diz o profeta Oséias, é como o orvalho da madrugada (Os 6.4) que desvanece num instante. Sinto-me terrivelmente envergonhado quando vejo que é dessa forma que me comporto diante do Senhor, que a minha atenção para com ele é frequentemente tão fugaz, tão efêmera. Um amigo meu fez a seguinte declaração: “Jesus é o único noivo que conheço que tem uma noiva que quase não fala com ele”.

 Às vezes, tento imaginar como seria a Última Ceia se acontecesse em nossos dias. De quem seria o celular que tocaria? Quem estaria olhando o relógio pensando no compromisso de ir a uma reunião ou de passar para pegar alguém? Vivemos numa cultura tão distraída que nem percebemos que estamos distraídos.

 O que Deus fará conosco?

 Existe um livro de Malcolm Gladwell, um bestseller chamado O Ponto de Desequilíbrio (“The Tipping Point”, em inglês), que examina como produtos ou ideias tornam-se virais (causando mudanças repentinas como se fossem fatores epidêmicos) dentro de uma sociedade. É um livro fascinante. Nesse livro, o autor conta a história de dois psicólogos da Universidade de Princeton que decidiram conduzir um estudo com os alunos inspirado na parábola do bom samaritano.

 Cada membro do grupo de seminaristas recebeu a tarefa de preparar um pequeno discurso sobre um tema bíblico. Em seguida, deveria dirigir-se a pé para um prédio vizinho no campus para apresentá-lo. No caminho, era obrigatório passar por um homem caído num beco, cabisbaixo, olhos fechados, tossindo e gemendo. O objetivo era descobrir quem pararia para socorrê-lo. Vários seminaristas, indo para dar uma palestra sobre o bom samaritano, literalmente passaram por cima do indivíduo caído e seguiram correndo para seu compromisso. A única coisa que realmente importava para eles era a urgência de sua tarefa.

 Ouvi um relato do famoso autor Os Guinness sobre uma tribo, nas Filipinas, em que os nativos se referiam aos missionários ocidentais como “pessoas com deuses nos pulsos”. Diziam isso porque, quando os missionários precisavam tomar uma decisão, ao invés de se voltarem para o Deus dos céus e da terra,  sempre olhavam para o relógio no pulso para achar direção. Outros, talvez, encontrem orientação na conta bancária, no celular ou na agenda.

 Há pouco tempo, vi uma apostila para pastores com o título Como Contextualizar para Cristãos Ocidentais. Esse é um título perigoso. Dentre outras, continha as seguintes sugestões:

1. Se quiser comunicar o evangelho e seus desafios para cristãos ocidentais, você precisa “anunciar com ousadia”. Faça isso de forma visual. Dê seu recado com frequência e de maneira bem clara. Todo mundo está com pressa; ninguém tem tempo para parar – só para ler correndo.

2. Respeite as restrições de tempo da sociedade de hoje; adapte-se às suas exigências de agendas e horários. Concilie as atividades de missões e avivamento com eventos que já estão programados.

 Acho que, do ponto de vista de Deus, esse deve ser um desafio bem interessante. O que será que ele terá de fazer para adaptar-se a esses ocidentais com cérebros de macacos?

por George Otis
Postaso Por Roberto
Fonte: Revista Inpacto
Abraço


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