quinta-feira, 21 de outubro de 2010

QUEM É ISRAEL DE DEUS?

Quem é o Israel de Deus?

O aumento do anti-semitismo: os primeiros sinais de alerta

Pode-se dizer que o outono está se aproximando quando as folhas começam a fazer barulho ao vento frio. Há um vento teológico gelado que está soprando na forma de uma atitude que nega o direito de Israel à Terra Santa, conforme estabelece a Aliança de Deus com Abraão.

Essa negação está, aos poucos, tornando-se bem visível entre os dispensacionalistas progressistas (DP). Embora rejeitem essa acusação, os fatos indicam que eles estão cada vez mais desinteressados em apoiar o direito dos atuais judeus de viverem em sua antiga terra. 

Por um lado, eles afirmam ter sempre sustentado o cumprimento profético da volta física de Cristo e da conversão e restauração do povo judeu a suas raízes territoriais. Na melhor das hipóteses, essa crença parece fraca. Por outro lado, a voz de apoio dos DPs está agora mudando de posição. Essa mudança vem na forma de críticas contra o povo israelense e sua atual defesa de sua própria existência.

Essas críticas procedem atualmente de alguns líderes evangélicos de grandes seminários, que costumavam ser firmemente dispensacionalistas, mas que estão perdendo seu amor e diminuindo seu apoio tácito ao povo judeu!

A outra fonte de negação não é nova. Os amilenistas sempre negaram ou ignoraram as reivindicações literais da Aliança Abraâmica a uma volta histórica literal do povo judeu à sua terra. Recentemente, porém, parece que essa voz está encontrando oportunidades de se fortalecer.

Um exemplo é a publicação de O Israel de Deus, escrito por O. Palmer Robertson. O livro apresenta o amilenismo requentado com seus costumeiros argumentos fracos, mas com uma estratégia nova de censurar a atual geração de judeus por sua reivindicação à terra [de Israel]. 

 Essa crítica é logo seguida por [uma espécie de] apoio à reivindicação do povo palestino à Terra Santa. Em sua análise, Robertson freqüentemente faz uso de artimanhas ilusórias! No mesmo parágrafo (1), ele parece confundir propositalmente sua discussão da Antiga Aliança (a Lei) e as promessas proféticas da Aliança Abraâmica, que dá a terra perpetuamente aos descendentes de Abraão (é da Aliança Abraâmica que vem a expressão “terra prometida”.) 

Além disso (2), ele parece não dar atenção ao fato de que foi um Deus soberano que fez promessas firmes e literais de restaurar Seu povo terreno à terra. Na maior parte, ele simplesmente argumenta contra a reivindicação dos judeus à terra a partir da atual crise política.

Abaixo está um exemplo claro de como Robertson mistura os pactos bíblicos do Antigo Testamento. Ele faz isso de propósito ou por ignorância. Robertson escreve que há aqueles
que hoje reivindicam um relacionamento de aliança com Deus com base na administração da antiga aliança. Eles ainda consideram válida a aliança que Deus fez com Abraão na forma pela qual foi originariamente administrada. Teriam eles o direito legítimo sobre a terra da Bíblia? (p. 55, destaque meu).
Enquanto um grande número de árabes está tentando matar todos os judeus ou expulsá-los completamente, milhares de árabes vivem pacificamente, sem sofrer nenhum perigo,
sob o governo israelense. Na foto: atentado árabe em Israel.


Eis como Robertson responde a sua própria pergunta:
Um grande problema dessa posição é que há outros povos nesse território que também o reivindicam, especialmente porque ele pertencia às suas famílias havia várias gerações (p.55, destaque meu).
Na primeira citação, Robertson parece confuso. A “administração da antiga aliança” seria uma referência à Aliança Mosaica – a Lei – não à Aliança Abraâmica. 

Os judeus receberam a promessa da terra através da Aliança Abraâmica, não da Mosaica, embora fossem inicialmente expulsos da terra por não obedecerem à Lei de Moisés, à qual ninguém jamais pôde obedecer! Na segunda citação, Robertson não parece estar ciente da história do Oriente Médio. Nunca houve uma nação “palestina” naquela terra. 

Durante séculos aquele território ficou sob o controle de governantes muçulmanos e, depois, dos turcos, que governaram a região com mão de ferro. Os povos árabes viveram ali em pequenas vilas, como invasores e nômades. Pelo fato dos turcos cobrarem impostos das pessoas com base no número de árvores em sua propriedade, os árabes as cortaram totalmente e deixaram a terra nua, tornando-a árida, com pântanos e terrenos secos e poeirentos.

Repito: Nunca houve uma nação “palestina” na Terra Santa.
Robertson prossegue:
Uma segunda atitude daqueles que declaram que a terra pertence eternamente aos judeus, em relação ao povo que já habitava o território, simplesmente defende que as pessoas já presentes devem ser deslocadas. A terra deve ser desocupada, a qualquer custo, para que os judeus possam tomar posse dela (p. 56, destaque meu).
Os pré-milenistas jamais propuseram que os árabes que vivem naquela terra sofressem atos de crueldade. Muito pelo contrário. Enquanto um grande número de árabes está tentando matar todos os judeus ou expulsá-los completamente, milhares de árabes vivem pacificamente, sem sofrer nenhum perigo, sob o governo israelense. Robertson vai além com seu amilenismo e mostra como está confuso com as questões. Ele escreve:
se a terra da Bíblia pertence aos participantes da nova aliança, como alguns afirmariam, deveria pertencer a todos os que são descendentes de Abraão pela fé, judeus ou gentios, israelitas ou palestinos (Gl 3.26-29) (p. 57).
Na Aliança Abraâmica (Gênesis 12.1-3), Deus prometeu a terra exclusivamente à descendência de Abraão. Ele prometeu que através de Abraão “serão benditas todas as famílias da terra” (v. 3). Essa “bênção” viria mediante a Nova Aliança. Os cristãos estão hoje recebendo os benefícios da salvação através de Cristo, que a ratificou por Seu sangue e Sua morte (Lucas 22.20). 

Algum dia, no futuro, os judeus reconhecerão e aceitarão Jesus como Messias e Salvador, quando Ele voltar triunfante. Eles O aceitarão baseados na Nova Aliança. Também naquele tempo eles herdarão as promessas relativas à terra e habitarão ali no reinado de mil anos do Senhor.
A dispensação atual da Igreja é, realmente, composta de judeus e gentios, que aceitaram Jesus como Salvador. Juntos, no tempo presente, os crentes judeus e gentios são abençoados pela Nova Aliança, que é uma extensão do aspecto da “bênção” da Aliança Abraâmica!

Com uma interpretação inteiramente errada das alianças, e das Escrituras em geral, Robertson declara ainda:
Reconhecer a validade da reivindicação à “promessa da terra” redentora (seja como for que essa promessa seja entendida) por um grupo de pessoas identificado de alguma forma que não seja pela fé em Jesus como o Cristo inevitavelmente implica um retorno ao plano de sombras (ou tipos) das provisões de redenção da antiga aliança. A aceitação desse tipo de reivindicação significaria uma regressão às antigas formas tipológicas da obra redentora de Deus (p. 57).
Continuando, ele escreve:
O reconhecimento de um povo distinto que é recebedor das bênçãos redentoras de Deus e, no entanto, tem uma existência à parte separada da igreja de Jesus Cristo cria problemas teológicos insuperáveis. Jesus Cristo tem somente um corpo e uma única noiva, um povo que ele chama como seu, que é o verdadeiro Israel de Deus. Esse povo é composto de judeus e gentios que acreditam que Jesus é o Messias prometido (p. 57, destaque meu).
Essas declarações mostram uma profunda ignorância das diferentes questões proféticas e escatológicas na Escritura. O problema de Robertson é que ele não conhece a Bíblia tão bem quanto afirma!

A oração de Davi, de validade permanente, é: “Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam” (Salmo 122.6).


As promessas relativas à terra para Israel vêm através das promessas proféticas da Aliança Abraâmica, e são eternas. Essas promessas não mudam, nem foram revogadas! 

A escritura da terra pertence ao povo judeu para sempre mediante Jacó. Embora seus olhos estejam cegos no tempo presente, algum dia os judeus serão redimidos, e realmente têm uma existência separada da Igreja. Esses eventos ocorrerão para Israel quando a Igreja tiver sido arrebatada!

Nesta atual dispensação, há apenas um corpo, e esse corpo é a Igreja! Entretanto, foram feitas promessas ao povo judeu, isto é, promessas nacionais. É claro que a redenção dos judeus inclui promessas relativas à terra e o reconhecimento do Senhor Jesus como seu rei terreno e Messias!

A Bíblia nos diz:

“...toda esta terra que vês, eu ta darei, a ti [a Abraão] e à tua descendência, para sempre” (Gênesis 13.15).
“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus” (Gênesis 17.7-8).
“Se falharem estas leis físicas [da lua e das estrelas] diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre” (Jeremias 31.36).

O resto do livro de Robertson continua a rejeitar o direito atual dos judeus de estarem naquela terra. Os dispensacionalistas nunca apoiaram Israel quando Israel esteve errado, e sabem que judeus se converterão antes e enquanto estiverem entrando na terra. O Espírito Santo os persuadirá: “Porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra” (Ezequiel 37.14), e eles “olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito” (Zacarias 12.10).

Mas o apoio a Israel em nossos dias não deve ser abalado! A oração de Davi, de validade permanente, é: “Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam” (Salmo 122.6). E mesmo hoje, enquanto os judeus se opõem ao Evangelho, Deus ainda os ama. Paulo escreve: “Quanto ao evangelho, são eles [os judeus] inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas [judeus]; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11.28-29).

As promessas irrevogáveis de Deus

O Senhor atualmente ama o povo judeu porque Ele lhe fez promessas irreversíveis de bênçãos.


Em outras palavras, o Senhor atualmente ama o povo judeu porque Ele lhe fez promessas irreversíveis de bênçãos. Portanto, temos um mandato de também cuidar dele atualmente, apesar do fato dos judeus não conhecerem Jesus como seu Salvador e Messias!

Poucos dias antes de escrever este artigo, ficamos chocados quando o presidente de um grande e famoso seminário voltou atrás em seu apoio ao Israel moderno. Embora reconhecesse que os judeus têm promessas futuras sobre aquela terra e que estas se cumprirão, ele argumentou que o povo judeu precisa tratar “os estrangeiros” [os palestinos] como se fossem israelitas. 

Ele citou Ezequiel 47.21-22: “Repartireis, pois, esta terra entre vós, segundo as tribos de Israel. Será, porém, que a sorteareis para vossa herança e para a dos estrangeiros que moram no meio de vós, que geraram filhos no meio de vós; e vos serão como naturais entre os filhos de Israel; convosco entrarão em herança, no meio das tribos de Israel” (Ezequiel 47.21-22).

Embora esse professor tenha comentado, com razão, que essa é uma passagem sobre o reino (Milênio), ainda assim ele a aplicou à atual situação de “guerra” na Terra Santa entre Israel e os maus palestinos que desejam destruir a nação judaica. Ele disse, supostamente citando Cristo: “‘Tratem os outros como vocês quiserem ser tratados’. Isso soa como o que disse Jesus, não é mesmo? De acordo com Ele, se tratarmos os outros como quisermos ser tratados, cumpriremos a lei e os profetas”.

A seguir, ele teve a ousadia de perguntar: “Vocês sabem o que está faltando em Israel? Apenas o cumprimento de um pequeno item no programa de Deus: trate os outros como você quiser ser tratado”.

O povo judeu vem reivindicando a terra que o Senhor lhe prometeu. Sim, ele retornou em estado de incredulidade, porém Deus, em Seu próprio tempo e pelo Seu Espírito Santo, corrigirá isso. Sabemos que os judeus ainda sofrerão na Tribulação, mas devemos nos lembrar de que, no tempo presente, o Senhor os chama “amados” por causa de Suas promessas no passado. Os cristãos evangélicos devem ter a mesma atitude neste tempo.

Esse professor da Bíblia que escreveu as palavras acima sugere que Israel está tratando os palestinos com crueldade. Quero testificar que, tendo feito vinte e três viagens a Israel, nunca os vi sendo tratados de modo cruel. Muitos palestinos vivem com os israelenses e são profundamente abençoados. Israel é a única democracia no Oriente Médio e a justiça faz parte de suas políticas, mesmo sob a horrível pressão dos que desejam matar os judeus.

Esse mesmo professor deixa de mostrar que os noticiários sobre o Oriente Médio e Israel parecem ter um só lado – contra o povo judeu. Quase todos os árabes desejam ver os judeus entregando parte da “terra prometida” ou sendo expulsos completamente pela violência. São a teologia e o ódio dos árabes que mantêm a ferida sangrando.

O Israel de Deus

Voltemos às declarações de Robertson. Ele comete o mesmo erro horrendo a respeito da afirmação de Paulo, “o Israel de Deus” (Gl 6.15-16). Nessa passagem, Paulo escreve: “Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus”.

Embora nem todos os estudiosos concordem, alguns dos gramáticos mais respeitados crêem que Paulo está se referindo a israelitas salvos e não aplicando “o Israel de Deus” como uma nova designação para a Igreja, conforme dizem os amilenistas.
Dunn escreve:
A referência... seria ao povo judeu como um todo... em outras passagens Paulo jamais chama os “cristãos” de Israel. Mas, à luz de seu argumento inicial, a expressão deve significar o povo judeu precisamente em sua identidade na Aliança [Abraâmica], como “Israel” em vez de “os judeus”.[1]
Bruce acrescenta:
Mas a referência ao Israel de Deus não precisa ser uma mudança de idéia. [Paulo] teria se sentido à vontade com uma oração que pedisse a Deus “paz e misericórdia sobre nós e sobre todo o Israel, teu povo”. Sendo assim, as palavras “e sobre o Israel de Deus” teriam saído prontamente de seus lábios.

Paulo tinha muita esperança na bênção final sobre Israel... o fato de que alguns israelitas estavam fazendo isso [aceitando Cristo] era, aos seus olhos, uma garantia de que esse remanescente aumentaria até que, com a reunião de todos os gentios [plenitude], “todo o Israel será salvo” (veja Romanos 11.25-26 – N.R.). Essa invocação de bênção sobre o Israel de Deus provavelmente tem uma perspectiva escatológica.[2]
O Israel de Deus é Israel! Não é a Igreja. Paulo nunca rotula a Igreja, na qual realmente há judeus e gentios crentes, como o “Israel de Deus”.

Conclusão

Os evangélicos devem apoiar os judeus que agora se reuniram na Terra Santa vindo de todos os lugares do mundo. Embora alguns demonstrem resistência para confessar que essa volta que está ocorrendo hoje é parte das profecias, não pode haver dúvida de que, no mínimo, é o começo do começo. 

Mal Couch, Th. D., Ph.D., é fundador e reitor do Seminário Teológico Tyndale e do Instituto Bíblico Tyndale em Fort Worth/TX (EUA).
Notas:
  1. James Dunn, The Epistle to the Galatians (London: A & C Black, 1993), 345.
  2. F. F. Bruce, Commentary on Galatians (Grand Rapids: Eerdmans, 1992), 274-75.
Publicado anteriormente na revista Notícias de Israel, maio de 2004.

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