Tudo Começa (e Termina) na Família
Por Jamê Nobre
As sementes da igreja
Um dia, na eternidade, o Eterno disse: “Façamos o homem”. Ali se iniciava uma linda história vinda do coração sonhador de nosso Senhor.
O desejo do Senhor era ter filhos, herdeiros que ele pudesse amar, a quem pudesse dedicar-se, demonstrando sua essência: altruísmo, graça, amor que se doa voluntariamente.
Formou da terra, então, o homem e logo estabeleceu o princípio da igreja: o relacionamento do homem com Deus, todos os dias, em comunhão.
Deu também ao homem o encargo de trabalhar, cuidando do jardim, para que pudesse ser útil e não ocioso. Aí está o princípio do serviço. O homem foi formado para servir.
Depois disso, formou uma mulher e deu-a ao homem para que pudessem relacionar-se como iguais. Agora, já existia a família, que continuava dentro do projeto inicial: não era apenas uma pessoa, mas também uma família servindo ao Senhor. Assim nascia o projeto da Igreja de Jesus: uma família semelhante ao Senhor. Só faltavam os muitos filhos que viriam depois, nesse clima de adoração, na forma de serviço.
Na própria estrutura da família, o Senhor estabeleceu marcos: o homem e a mulher não seriam dois, mas uma só carne. Apesar de dois, não seriam dois, mas apenas um. Esse é o princípio fundamental e absoluto da unidade da igreja: embora sejamos muitos, somos um só pão.
O Senhor estava ali no meio daquela família. Ele conversava com o casal num ambiente de igreja – a igreja na casa. Deus comunicava-se com o homem no contexto familiar.
As sementes da heresia
Um dia, veio o desastre. O homem foi atrás de novidade. Achou que havia outra fonte de crescimento e saber. Achou que poderia, por si mesmo, descobrir mistérios. A mulher assumiu o comando da casa e determinou o que comeriam. É verdade que ela não assumiu uma postura ostensiva, mas, sutilmente, seduzida pela serpente, induziu Adão à desobediência. Ao invés de tomar para si a decisão de não buscar em outra fonte, Adão submeteu-se ao desejo da mulher e comeu do fruto proibido.
Quando o homem submeteu-se ao desejo da mulher, Satanás estabeleceu o princípio da heresia: a inversão de papéis na casa. O homem deixou de ser cabeça e passou a ser conduzido pelo sentimento da mulher. A heresia começou na casa – na igreja na casa.
É triste pensar que essa história se repete pela vida. O profeta de Deus, Jeremias, enfrentou uma situação semelhante quando as mulheres, por causa do sentimento de falta das coisas, levaram os homens a deixarem o sacrifício a Deus para fazer sacrifícios à rainha dos céus (Jr 44.18,19).
A culpa não é das mulheres e sim dos homens, que deixam sua função de comando, produzindo um desequilíbrio no coração da mulher.
Voltemos ao Jardim.
A tragédia do pecado produziu a maior e mais danosa consequência: afastou o homem de Deus. Aqui entrou a morte no mundo. Ao invés de se ver com os olhos de Deus, o homem passou a se ver com olhos de condenação. Viu que estava nu.
Afastado do Jardim, daquele clima em que a presença de Deus se manifestava todos os dias no seio da família, o homem gerou filhos, não mais à semelhança de Deus, mas à própria semelhança. Os temores, as dores, as ambições, os medos, tudo o que é produzido pela ausência de Deus foi transmitido para os filhos.
Gênesis 5.3 diz que o filho gerado nessa condição foi chamado de Sete. O significado desse nome é compensação. Eis o princípio da Babilônia, a falsa igreja: compensa-se a ausência de Deus com programas, com eventos, com ativismo, com coisas que parecem ser do Senhor. Porém, Deus não está ali. É Icabode.
Quando nasceram os primeiros filhos, ocorreu uma manifestação da luta presente no espírito do homem. Quando Caim percebeu que o sacrifício de Abel havia sido aceito, e o dele, não, decidiu matar o irmão. Nasceu a perseguição religiosa, e o motivo foi o culto (ou a diferença entre cultos).
Tudo começou em casa: tanto a adoração ao Senhor, a vida de comunhão e intimidade quanto o mal, a soberba, o culto com coração errado, a inveja e a morte.
Por onde começa a restauração?
A restauração do culto e da igreja, da vida de comunhão e adoração precisa começar com a restauração da posição do homem de guardar e proteger sua família das investidas de Satanás, com todas as suas artimanhas. Começa com a restauração do pastoreamento de cada família pelo marido e pai, alimentando e suprindo (esse é o sentido da palavra ”governar”).
Veja como Jesus iniciou esse processo. Depois de declarar que a seara era grande, mas que as multidões não tinham pastor (Mt 9.35-38), ele enviou seus discípulos para resolver o problema, entrando nas casas e ali suprindo a necessidade das multidões.
Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela é digno, e hospedai‑vos aí até que vos retireis. E, ao entrardes na casa, saudai‑a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz (Mt 10.11-13).
Jesus queria alcançar cada cidade, cada povoado. Para isso, determinou uma estratégia que era de encontrar uma família digna em cada cidade. Nessa casa, os discípulos deveriam permanecer enquanto estivessem na cidade.
Família digna era uma casa que tinha bom nome na cidade – tinha boa reputação. Seria aquele tipo de gente que hoje descreveríamos como “quase crente”.
A obra de Deus sempre foi baseada em famílias: casa de Adão, de Noé, Davi, José e Maria, etc. A reconstrução dos muros foi feita por famílias (Ne 3.10, 16, 19, 20, 21, 24, 31; 4.14,16). O início da pregação entre os gentios foi na casa de Cornélio, um homem digno (At 10). A casa digna era o início da igreja em cada cidade.
Uma casa digna tornou-se o alicerce da igreja na cidade e, por meio dela, o Senhor cumpriu a promessa de abençoar todas as famílias da terra.
O texto de Gênesis 18.17-19 é bem esclarecedor:
E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e por meio dele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem retidão e justiça; a fim de que o Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado.
Tomemos o texto a partir do final: para que o Senhor pudesse cumprir sua promessa a Abraão em Gênesis 12.3, Abraão precisava ordenar seus filhos e sua casa a andarem no caminho do Senhor. Assim, ele se tornaria uma grande e poderosa nação.
O papel de Abraão não era o de ser abençoador das nações. Esse papel é do Senhor. Ninguém tem o poder de abençoar. Deus é o grande abençoador.
A tarefa e a responsabilidade de Abraão eram ordenar sua casa, fornecendo, assim, o canal através do qual ele, o Senhor, abençoaria as nações perdidas na Terra.
Vemos a mesma ideia em Mateus 9 e 10. As nações estavam perdidas, sem Deus. O Senhor chamou seus discípulos e mandou que eles se fixassem em casas dignas para que, por meio delas, ele, o Senhor, pudesse abençoar (pastorear) as ovelhas perdidas.
Na casa digna, o pai é o pastor. Dessa forma, Jesus provê o pastoreamento para as ovelhas sem pastor. Claro que os pais dessa família também receberiam supervisão e pastoreamento de outros “pais” espirituais mais maduros.
Converter o coração dos pais aos filhos
Esse princípio pode ser visto também em Malaquias 4.6. Quando o coração dos pais volta-se para os filhos, a Terra é poupada da maldição!
Alguns irmãos, muito preocupados em quebrar a maldição que veio sobre a Terra como produto da queda do homem, fazem ritos, atos proféticos, e esquecem que a maldição começou no mundo porque uma família quebrou o princípio do Senhor. Assim, nesse mesmo lugar é que a bênção terá de ser restaurada.
Converter o coração do pai ao filho não é um mero ato finito, mas uma atitude de pastoreamento que faz com que o coração do filho se converta igualmente a ele.
Não é um ato, repito, mas uma atitude e uma sucessão de atos. O pai torna-se o pastor de sua família, e esta passa a ser o canal de Deus para abençoar os vizinhos e toda a cidade.
O pai deve despertar para isto: ele é o pastor de sua casa. Ele precisa governá-la (supri-la). Não deve passar essa responsabilidade para a estrutura da igreja nem para os pastores. Estes devem cumprir seu papel (como episkopos) de supervisionar os santos.
Os episkopos (supervisores, bispos) da igreja devem aperfeiçoar os pais e, depois, verificar se eles estão cumprindo seu papel de pastores (discipuladores) na família. Assim, teremos a igreja na casa funcionando sem depender das estruturas, mas se relacionando com outras famílias, aprendendo umas com as outras.
A igreja alcançará as nações à medida que as famílias se posicionarem como agentes do Reino de Deus na face da Terra. Cada família precisa responsabilizar-se pelo lugar onde mora, entendendo que mora onde mora não por acidente, mas segundo o propósito de Deus.
A promessa de Deus foi: Em ti serão benditas todas as famílias da terra!
Que a igreja aprenda a posicionar-se no cuidado com as famílias para que elas sejam celeiro de vocações, arcos de onde serão lançadas as flechas que atingirão as nações com a pregação do evangelho do Reino de Deus.
A igreja começa e vive na casa, na família. O ajuntamento de todos em uma reunião grande deve ser apenas uma consequência da vida familiar em que cada membro da família cumpre seu papel.
O que passa disso é compensação, é Sete. É a atividade em lugar da manifestação de Deus.
Fonte: Revista Impacto
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