quinta-feira, 25 de março de 2010

A DÁDIVA DO SOFRIMENTO


A DÁDIVA DO SOFRIMENTO
“... PARA 0 CONHECER E 0 PODER DA SUA RESSURREIÇÃO E A COMUNHÃO DOS SEUS SOFRIMENTOS, CONFORMANDO-ME COM ELE NA SUA MORTE; PARA DE ALGUM MODO ALCANÇAR A RESSURREIÇÃO DENTRE OS MORTOS.” Fp 3:10, 11.
PERSEVERANÇA
Primeira impressão:
março de 1983
Rubiataba, Goiás
A Dádiva do Sofrimento
por Peter Parris
Quando Jesus interrogou dois discípulos desiludidos depois da sua morte, deu-lhes a entender que o sofrimento fazia parte integral da sua experiência. Não era necessário que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória (Lc 24:26)? Eles não podiam compreender como tal morte ignominiosa pudesse ser compatível com a glória de Cristo. Jesus então mostrou-lhes através de todas as Escrituras como era necessário que ele sofresse antes de entrar na sua glória. Getsêmani, Gábata, e Gólgota (Jo 18:1; 19:13, 17) eram passos necessários para chegar ã glória. Getsêmani era o jardim em que Jesus agonizava em oração, e onde no fim encurvou-se ã vontade do seu Pai, apesar de quase morrer naquele local. Gábata era o pavimento onde ele foi tão injustamente julgado por Pilatos, e açoitado ao mesmo tempo que era rejeitado pela multidão. Gólgota era o lugar onde suportou a cruz, dando a sua vida e morrendo como espetáculo diante do céu e da terra. Jesus chamou os discípulos desiludidos de néscios por serem tardos para crer no que os profetas disseram, e prosseguiu explicando-lhes a necessidade do seu sofrimento.
O escritor aos Hebreus nos afirma que Jesus aprendeu a obediência através do sofrimento; e tendo sido aperfeiçoado, tornou-se a fonte de eterna salvação a todos aqueles que são obedientes (Hb 5:8, 9). Ele foi tentado nos seus sofrimentos e por causa destas experiências é capaz de socorrer todos aqueles que são tentados (Hb 2:18). Um resultado prático do sofrimento na vida de Jesus foi fazer dele um fiel sumo sacerdote que acabou por vencer toda tentação.
Pedro falou mais sobre o sofrimento do que qualquer outro autor na Bíblia e referiu-se também ã necessidade do sofrimento e aos resultados que o acompanham. Em alguma época da nossa vida, o sofrimento será necessário para que o Senhor alcance os objetivos que deseja para nós. Não há nada que ofenda mais ao “velho homem” do que sofrimento injusto. Traz ã tona qualquer resquício de auto-preservação e egocentrismo que ainda permanece em nós. O sofrimento revela atitudes e reações erradas. Se nos arrependermos da velha natureza e expressarmos a nova, cresceremos e seremos abençoados. Se mantivermos a atitude correta durante o sofrimento, estaremos declarando nossa união com Jesus e o espírito da gloria de Deus repousará sobre nós (1 Pe 4:14).
Evidentemente é melhor sofrer por fazer o que é certo do que sofrer por fazer o errado (1 Pe 4:15, 16). A vontade e o propósito de Deus incluem o sofrimento por causa dos resultados que este produz em nós. Não vem apenas como resultado das nossas más ações, mas como um meio de aperfeiçoar-nos, mesmo quando estamos fazendo o que é certo. As experiências do cume da montanha são sempre bem-vindas, mas no cume da montanha só podemos descansar e apreciar a vista. Nada cresce lá; não se pode semear nem colher. É um lugar onde só se pode contemplar a vista - que é muito agradável, refrescante e necessário.
Mas é no vale que se produz o fruto. Freqüentemente o cume da montanha está acima das nuvens, mas os vales debaixo das nuvens recebem a chuva que traz vida. Os rios correm pelos vales e lá vicejam os pastos verdejantes. Assim também as experiências nos vales são para nós períodos em que desenvolvemos nossa salvação. O crescimento da nossa fé está ligado diretamente aos nossos momentos de sofrimento, apuro e perseverança. Nossa paciência é aperfeiçoada. Acumulamos experiência que é a medida da nossa maturidade. O sofrimento freqüentemente é o instrumento que nos lança totalmente na dependência de Deus. Quando a situação exige algo além dos nossos recursos naturais, nossa única saída é a provisão sobrenatural do Senhor. Nossos impasses pessoais podem ser o meio que o Senhor usa para abrir um caminho diante de nós.
Jó é o exemplo mais destacado de paciência e confiança adquiridas através da adversidade. Quando anunciaram-lhe a perda desastrosa dos seus filhos e possessões, ele prostrou-se e adorou a Deus. “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor (Jó 1:21), foi a sua resposta. Quanto a si mesmo, ele disse que mesmo que Deus o matasse, ainda confiaria nele (Jó 13:15). Sem que Jó soubesse, Deus estava usando o seu testemunho contra Satanás. Quando o sofrimento ocorre nas nossas vidas, podemos confiar que o Senhor o está usando para destruir o mal.
É somente quando apreciamos o fato que nosso amoroso Pai celestial está em controle do nosso sofrimento que podemos corresponder com confiança e até mesmo com regozijo. Tiago nos exorta a considerar as diversas provações que encontramos como motivo de alegria por causa daquilo que produzem (Tg 1:2-4). Finalmente, se perseverarmos, receberemos a coroa da vida (Tg 1:12). Paulo nos encoraja ao comparar nossos sofrimentos atuais com a glória que será revelada em nós, e conclui que o sofrimento não é digno de ser comparado com a glória (Rm 8:17, 18). Ele afirma que uma condição para reinar com Cristo é sofrer com ele.
A comunhão dos sofrimentos de Cristo (Fp 3:10) significa que realmente compartilhamos das suas aflições, e de alguma forma misteriosa preenchemos o que resta das aflições de Cristo a favor do seu corpo, a igreja (Cl 1:24). Por causa dos resultados dos nossos sofrimentos podemos abraçar nossas diversas, e até numerosas provações com um profundo senso de gozo. Este gozo pode ser uma profunda consciência de triunfo final mesmo quando o efeito imediato sobre nós é de tristeza e pesar.
Outro efeito desenvolvido através do sofrimento é uma mudança de valores. Aquilo que é temporal perde sua influência dominante para o que é eterno (2 Co 4:17, 18). Através do sofrimento o anseio para estar ausente do corpo e presente com o Senhor se intensifica. Promove a obra da cruz em nossas vidas e aprofunda o desejo de ser crucificado para o mundo. Tornamo-nos desiludidos com as coisas deste mundo e aproximamo-nos mais da nossa esperança em Jesus. Encontramos uma consolação que satisfaz o profundo do nosso ser e que nos torna mais conscientes das coisas eternas do que das temporais. Atendemos mais prontamente as coisas espirituais do que às coisas carnais, e através de tudo isto descobrimos a expressão de Cristo sendo formada em nossa personalidade. No sofrimento, extraímos da sua vida em nós a fim de dominar e substituir as velhas reações naturais e descobrimos que o Cristo que estava em nós apenas potencialmente agora tomou-se o Cristo em nós em realidade.
Sabemos que nunca seremos tentados além daquilo que podemos suportar (1 Co 10:13). Nossa dificuldade surge quando somos empurrados para novas áreas. Nessas ocasiões pensamos que estamos sendo levados para além daquilo que suportamos, mas na verdade é apenas além daquilo que já conhecemos, para uma nova area de experiência. A suficiente graça de Deus sempre estava lá para ser abundante para conosco. Por estas razões podemos conhecer a realidade do regozijo na tribulação, e podemos considerar motivo de toda alegria quando tivermos de enfrentar diversas provações.
Se deixarmos de julgar e ajustar devidamente as nossas vidas, seremos castigados pelo Senhor, para não sermos julgados com o mundo (1 Co 11:31, 32). Mesmo que venha na forma de fraqueza, doença ou morte, é melhor receber disciplina nesta vida do que na vindoura. O salmista escreve que antes de ser afligido, ele se extraviava; e foi bom para ele ter passado pela aflição, pois sabia que pela fidelidade do Senhor é que ele foi afligido (Sl 119:67, 71).
Este tipo de sofrimento é causado por nós mesmos, pois de alguma forma temos nos desviado de andar em união com Cristo. Deus nos ama demais para deixar de nos castigar, pois ele não nos quer perder eternamente. Embora talvez possamos evitar um pouco de disciplina, não poderemos passar totalmente sem castigo a não ser que já sejamos perfeitos e sempre façamos tudo com perfeição. Deus trata conosco como a filhos (Hb 12:7). Ele açoita a cada filho que recebe, mas com infinito amor e cuidado. Se Jesus aprendeu obediência pelo que sofreu, você acha que nós, que tantas vezes somos desobedientes, poderemos aprendê-lo sem sofrimento?
TRADUÇÃO LITERAL DE UM HINO
Quando te chamo às águas profundas a passar,
Os rios de tristeza não te irão inundar,
Pois estarei contigo para abençoar na aflição
E santificar-te na maior tribulação.
 Quando entre provas ardentes teu caminho encontrar
Minha graça toda suficiente eu irei providenciar.
As chamas nenhum mal te farão; tão somente procurarei
Tuas impurezas consumir — e o teu ouro refinar.
 A alma que em Jesus se inclinar a repousar
Nunca aos inimigos a hei de abandonar.
Esta alma, ainda que todo o inferno a procure abalar
Eu nunca, não nunca, a irei desamparar.
Perseverança

por David Matthews
Perseverança certamente não é uma palavra alegre, nem tampouco uma palavra popular; contudo é uma palavra essencial para o vocabulário do cristão. Perseverança e sofrimento são quase inevitavelmente interligados. Na mente ocidental, o sofrimento é automaticamente um mal e deve ser eliminado prontamente. Por isto achamos difícil aceitar a idéia que um pouco de sofrimento, seja físico ou emocional, pode ate mesmo fazer bem para nós. Talvez um dos sinais do reino dos céus entre nós será uma redução drástica no nosso uso de comprimidos para mal-estares relativamente pequenos como dores de cabeça ou resfriados.
O sistema de Previdência Social tem feito muito bem para a sociedade em geral, e eu, pelo menos, não fico sonhando sobre os bons tempos do passado. O maior perigo, entretanto, é a tendência de produzir uma sociedade dependente que sempre espera que o governo resolva as inconveniências da vida.
Somos tão preocupados com nossa felicidade que qualquer coisa que chega a ameaçá-la deve ser resistida a todo custo, mesmo que acabamos ganhando uma úlcera como resultado. Ninguém precisa de perseverança para suportar
*Obs. A palavra usada no original é “endurance” que significa “suportar”. Como não há substantivo correspondente em português, usamos “perseverança”.
a felicidade e, sendo assim, nunca aprendemos a perseverar. As vezes fico me perguntando quanto tempo perdemos suplicando para que Deus nos tire das circunstâncias desagradáveis que ele enviou para nos abençoar.
Há três espécies de perseverança que precisamos examinar. Primeira: aceitação passiva, segunda: rendição, e terceira: confiança ativa. Das três a segunda é a mais perigosa. Produz hipocondríacos cristãos que se tornam depósitos de lixo para tudo que Satanás quiser lançar neles. E triste reconhecer que há algumas filosofias cristãs que interpretam esse tipo de rendição como espiritualidade. Esta é uma reversão dos antigos estóicos, dos quais talvez Simão Estilotes seja o mais bem conhecido. Simão passou uma grande parte da sua vida empoleirado desconfortavelmente em cima de uma estaca, como um ato de rendição. Dizem que as pessoas colhiam até mesmo os piolhos que caiam do seu corpo como relíquias religiosas. Deus não nos chama nem para nos render ao sofrimento nem para procurá-lo, muito menos infligi-lo sobre nós mesmos. Rendição pode ter aparência de espiritualidade e santificação, mas na realidade é exatamente o contrário aos olhos de Deus. Leva inevitavelmente à justiça própria por um lado, ou, por outro, a uma depressão espiritual que mata a iniciativa e nos torna surdos ã voz profética de Deus.
Aceitação passiva, na verdade, não é muito melhor do que rendição. Isso pode ser ilustrado melhor se examinarmos o assunto da cura divina. É muito evidente que nem todos os doentes (e alguns diriam muito poucos) são curados. Isto era verdade na época dos evangelhos da mesma forma que o é hoje. Há muitas razões por que isso ocorre, mas eu gostaria de sugerir que muitos outros seriam curados de suas doenças se pudessem simplesmente se livrar da passiva aceitação da enfermidade em seus corpos. Não precisamos negar o fato que muitos têm-se encontrado com Deus no meio da doença ou através dela, mas isto não faz do mal um bem. O verdadeiro perigo da aceitação passiva do sofrimento é que ela embota o nosso discernimento. E muito claro nas Escrituras que algumas coisas devem ser suportadas e outras resistidas. A chave real para a questão está no fato de que algumas coisas, como por exemplo, a tentação, devem ser suportadas e resistidas ao mesmo tempo.
Confiança ativa em Deus é o único fundamento seguro no qual a verdadeira perseverança cristã pode ser edificada. Paulo diz: “E gloriamo-nos (não é bom que fomos incluídos?) na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde...” (Rm 5:2-5). Eis aí o âmago da questão. Você pode observar que ele começou e terminou com esperança.
Perseverança não é um fim em si mesmo, é simplesmente a esperança sendo testada. De certa forma esta é a dor da perseverança — Deus colocou-nos numa esperança que simplesmente não desaparece e em seguida encontramo-nos em circunstâncias que contradizem quase por completo essa esperança.
Temos um conceito muito idealista dos homens e mulheres da historia que mantiveram uma viva esperança através da perseverança. Sem dúvida você já leu sobre a paciência de Jó; no entanto, apesar do registro das Escrituras pensamos, de alguma forma, que Jó nunca se queixou nem perdeu seu senso de direção. A coisa vital que devemos aprender com Jó é que ele perseverou, não que ele atingiu a perfeição. Ele amaldiçoou o dia em que nasceu. Ele disse: “Queixar-me-ei na amargura da minha alma... Se pequei, que mal te fiz a ti, ó Espreitador dos homens? Por que te fizeste de mim um alvo? (Jó 7:11, 20). Perseverança não se encontra numa vida de sossego; é fundida nas fornalhas de amargura e da confusão. É cultivada no coração honesto que ousa questionar e dar a Deus acesso à sua dor e seu senso de abandono. Deus não exige que você persevere com um sorriso angélico em seu rosto e sem interrogações no seu coração. Simplesmente pede que depois de expressar toda a amargura e desapontamento, você persevere como quem viu a esperança e não a abandonará.
Estou certo que você já descobriu que a vida cristã inclui uma boa porção de provações. Não sei por que tais provações sempre nos surpreendem. Alguns escritores do Novo Testamento nos diriam que devemos esperar as provas e mesmo nos regozijar nelas! Talvez isso seja exigir demais! Com toda seriedade, porém, é aqui que o inimigo ganha a primeira partida. Ele entra antes de tomarmos consciência. Ele sempre nos ataca de surpresa. Precisamos de alguns princípios práticos para ajudar-nos a perseverar. Não se precipite em aceitar as circunstâncias como inevitáveis. As vezes suportamos situações porque não tivemos a coragem para mudá-las e nem as nossas atitudes. Lembro-me como aconselhei uma amiga a que aprendesse a empurrar-se entre as pessoas para entrar num ônibus ao invés de passivamente deixá-lo ir embora.
Lembre daquilo que Deus já disse e coloque todas as provações atuais no contexto da sua história com Deus. As provações têm uma tendência de suprimir a nossa percepção da presença de Deus e produzir uma depressão, a qual, se permitirmos, irã apagar toda a sua bondade e misericórdia que tem-nos acompanhado durante nossa vida. É importante neste tipo de depressão que confessemos verbalmente a sua fidelidade e a sua presença. Muitos de nós têm um hábito de não amolar os outros com os nossos problemas - isto chama-se independência, e não o recomendamos. Deus nos uniu ao seu povo e precisamos aprender a apreciar a disposição que há para compartilhar as cargas uns dos outros. Nossos amigos podem também ajudar-nos a colocar tudo no contexto próprio. Fomos chamados para a perseverança, mas não para caminhar sozinhos.
Finalmente, não desista. Há um segredo muito simples para ganhar a batalha — ou você está em pé ou está se levantando. Como alguém disse em certo lugar: O justo pode cair sete vezes num dia mas ele sempre se levantará.
Estes artigos foram traduzidos da revista Fulness, volume 29.
Os direitos autorais pertencem a:
Fulness
47, Copse Road, Cobham, Surrey
Inglaterra
Abraço: 
Roberto

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