segunda-feira, 18 de abril de 2011

AS HORAS DO CALVÁRIO

As horas mais solitárias que alguém já passou sobre a terra foram as horas do Calvário; pois Jesus - além de ser Filho de Deus - era também homem ao morrer por nós.

Por que, entretanto, o Calvário foi o lugar mais solitário que já houve? Parece fácil responder a essa pergunta, pois muitos dos nossos leitores sabem tudo sobre o Calvário e a morte do Cordeiro de Deus. Mas mesmo assim, nunca conseguimos responder com precisão a essa pergunta porque somos incapazes de compreender o que Jesus realmente passou no Calvário.

Segundo a Escritura, Jesus foi crucificado à "hora terceira" (Mc 15.25) (às nove horas da manhã). E à "hora nona" (às três horas da tarde) Ele deu Seu grito alucinante: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?... Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (v. 34). Isso significa, portanto, que Jesus Cristo, quando deu esse grito – já estava dependurado há seis horas na cruz em pavorosa solidão! Significa que durante seis horas inteiras Ele esteve sem o Pai, sim, até mesmo Deus O abandonou. Que nessas seis horas na cruz Ele esteve sem o Pai é provado pelo fato de Ele – que normalmente sempre falava do Pai quando se referia a Deus – ter clamado a Deus. E que Ele estava também sem Deus é mostrado por Suas palavras desesperadoras: "...por que me desamparaste?" Apesar de Ele clamar a Deus, Deus O havia abandonado!

Nesse sentido, as palavras do centurião romano contêm um simbolismo profundo e trágico: "O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente este homem era Filho de Deus" (v. 39). Enquanto Jesus esteve dependurado na cruz, era como se Ele não fosse mais o Filho de Deus. Por quê? Porque naquelas horas Ele não tinha mais Pai. Mas – não era o Filho de Deus que estava dependurado ali na cruz? Naturalmente, mas não em Seu caráter glorioso, de Rei. Ele estava ali dependurado como homem, cuja aparência estava profundamente desfigurada, a quem todo o mundo desprezava, e virava o rosto. 

A respeito, o profeta Isaías já predisse palavras abaladoras aproximadamente 700 anos antes de Cristo: "...o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência mais do que a dos outros filhos dos homens... Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso" (Is 52.14b; 53.3). 

Quão terrível e pavorosa deve ter sido essa solidão para Ele! Pois a Ele, ao Senhor Jesus Cristo, aconteceu algo que jamais pode acontecer a nós, que nEle cremos: Ele realmente foi abandonado pelo Pai – durante horas. É o que expressa com a maior clareza Sua pergunta: "...por que me desamparaste?". Em outras palavras: "Tu me abandonaste – mas por quê?"

Nunca podemos acusar Deus de tal coisa porque não corresponde à verdade, pois o Senhor nunca nos abandonará, a nós que somos Seus filhos. No máximo, poderíamos dizer que nos sentimos abandonados. Na realidade, porém, nunca estamos sozinhos, pois em Hebreus 13.5b estão escritas as maravilhosas palavras: "De maneira alguma te deixarei nunca jamais te abandonarei." 

Ou pensemos nas palavras do próprio Senhor Jesus: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século" (Mt 28.20b). 

Paulo exclama com júbilo em Romanos 8.38-39: "Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." 

Não, nada, nem ninguém pode separar-nos de nosso Senhor, nunca seremos deixados sós; onde quer que estejamos, o Senhor está sempre presente! Ouça uma vez o que o salmista diz a respeito: "Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares: ainda lá me haverá de guiar a tua mão e a tua destra me susterá" (Sl 139.8-10). 

Em outras palavras: Senhor, tu estás sempre comigo; onde quer que eu esteja, o que quer que eu faça, para onde quer que eu vá, como quer que eu me sinta – tu estás sempre comigo. Sim, disso podemos estar certos, e graças ao Senhor que é assim.

Mas o próprio Senhor Jesus – quando esteve dependurado na cruz – não tinha mais nada disso; Ele ficou completamente privado de amor e consolo. Ao invés da alegre certeza da presença do Pai – Ele era atormentado por um horror paralisante. Ao invés de firme certeza interior – Ele sentia calafrios por causa do gélido silêncio de Deus. Ao invés do olhar amoroso do Pai – Ele só via trevas intransponíveis. 

Ao invés de afável e calorosa afeição do alto – os rugidos e a fúria de todo o inferno se abateram sobre Ele. Jesus Cristo experimentou exatamente o oposto daquilo que o salmista testemunha com tanta fé: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam" (Sl 23.4). Jesus andou literalmente pelo "vale da sombra da morte"; Deus não estava mais com Ele, a "vara e o cajado" do Pai não O consolavam mais.

"Por quê?", podemos perguntar, "por que, afinal?" Porque não era possível de outra maneira. Pois, apesar de Jesus ser o Cordeiro de Deus sem pecado, apesar de Ele nunca ter pecado em toda a Sua vida, apesar de Ele ter ficado puro e sem mácula, no Calvário Ele morreu como pecador. Bem entendido: Ele não morreu como pecador – pois, como dissemos, Ele era e continuou sem pecado –, mas Ele morreu por causa de pecados, isto é, dos pecados de todo o mundo.

Você sabe o que significa morrer a morte do pecador; você sabe qual é a terrível e inescapável conseqüência de tal morte? Nesse tipo de morte

– Deus não está presente;
– o céu está fechado;
– o Eterno afasta o olhar!

Por isso, uma morte assim é o mais terrível, pavoroso e horroroso que pode acontecer a uma pessoa. Existem testemunhos suficientes a respeito. A seguir, citamos somente alguns:
– O ateu David Hume gritou por ocasião de sua morte: "Estou nas chamas!"

– A morte de Voltaire, o famoso zombador, deve ter sido tão terrível que sua enfermeira disse depois: "Por todo o dinheiro da Europa, eu não gostaria mais de ver um ateu morrer!"
– Hobbes, um filósofo inglês, disse pouco antes de sua morte: "Estou diante de um terrível salto nas trevas."

– Goethe exclamou: "Mais luz!"
– Churchill morreu com as palavras: "Que tolo fui!"

Bastam esses poucos exemplos para nos mostrar claramente o que significa morrer como pecador. E Jesus experimentou esse tipo de morte, apesar de Ele mesmo – que isso fique bem claro – ser e continuar sendo absolutamente sem pecado. Ele experimentou uma morte tão pavorosa porque na cruz Ele tomou sobre Seu próprio corpo todos os pecados de todos os homens de todos os tempos. Pedro diz em sua primeira epístola: "carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça" (1 Pe 2.24a). 

Quando Jesus morreu a morte do pecador, realmente o céu ficou fechado, o Pai desviou o olhar, o Eterno se afastou; e Ele, o Filho, ficou dependurado, só e abandonado, na cruz. Que ondas pavorosas do inferno devem ter se abatido sobre Ele. No Salmo 22 os sofrimentos de Jesus naquelas horas horrorosas são descritos de modo amedrontador, bem detalhado e claro: "Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. Contra mim abrem as bocas, como faz o leão que despedaça e ruge. Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se-me dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim me deitas no pó da morte. Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim" (vv. 12-17).


Meu irmão, minha irmã, como isso deve ter sido terrivelmente difícil para Jesus Cristo! Não é de admirar, pois, que de repente tenha partido de Seu coração ferido este grito: "...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Esse foi o grito de um homem que caiu num profundo abismo, e cujo coração estava completamente dilacerado.

É interessante lembrar que até então Jesus nunca havia sido abandonado pelo Pai. E agora, na cruz – Ele não somente foi abandonado pelo Pai, mas também estava cercado pelos poderes do inferno. Não, até então o Pai nunca O havia abandonado; pelo contrário –o Pai esteve constantemente nEle. Por exemplo, Jesus disse: "Quem me vê a mim, vê o Pai" (Jo 14.9b). E em João 11.41b lemos: "Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai..." Portanto, até essa hora tinha havido completa harmonia entre Ele e o Pai. E Jesus se alegrou por essa harmonia, e testemunhou dela, por exemplo, com as palavras:

"...porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou" (Jo 8.16).
"E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só..." (Jo 8.29b).
"Eu e o Pai somos um" (Jo 10.30).
"...para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai" (Jo 10.38b).

Que maravilhosas palavras! Mas, exatamente por isso foi muito mais duro e trágico o contraste entre elas e as horas na cruz. Oh! que caminho Jesus teve que seguir! E, por quê? Para redimir a você e a mim; pois nós deveríamos ter estado ali na cruz!

Talvez agora compreendamos um pouco melhor o profundo abismo dos sofrimentos do Cordeiro de Deus; talvez sejamos capazes agora de participar um pouco dos Seus sentimentos, do que Ele passou. Mesmo assim, uma ou outra pessoa poderá perguntar:

Jesus não sabia que tudo seria assim?

Ele falou várias vezes a respeito aos Seus discípulos. Lemos, por exemplo, em Mateus 16.21: "Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas cousas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitado no terceiro dia." Aqui Ele falou claramente que ainda teria que "sofrer muitas cousas". 

Além disso, havia muitas profecias do Antigo Testamento que apontavam com clareza assustadora para esses acontecimentos; e Jesus conhecia todas essas palavras da Escritura. 

Portanto, certamente Ele sabia de tudo. Apesar de que jamais poderemos responder a essa pergunta definitivamente, hoje vou tentar – com todo respeito ao Cordeiro de Deus – dar uma resposta bem superficial. Jesus Cristo – apesar do fato de ser o Filho de Deus e de todas as coisas serem manifestas perante Ele – talvez não soubesse de uma coisa: quão terrível seria a separação entre Ele e o Pai; quão horroroso seria ser abandonado pelo Pai! Pois, repito: Ele nunca antes havia ficado sem o Pai – muito menos sido abandonado pelo Pai.

Entretanto, talvez você diga agora: Mas Jesus sempre sabia de tudo. Tudo – será que Jesus realmente sabia de tudo? Ele mesmo falou certa vez de algo que não sabia, ou seja, da hora da Sua volta: "Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai" (Mc 13.32). 

Portanto: isso era uma coisa que Ele não sabia. Por isso, não será que somente o próprio Pai sabia o que o Filho realmente teria de passar na cruz; quão difícil realmente seria a separação? Não será que o Pai tenha se calado sobre esse assunto por causa de Seu grande amor pelo Filho?

Apesar de não sabermos a resposta, nesse contexto podemos pensar na relação de Abraão e Isaque. Quando os dois ainda estavam a caminho do local do sacrifício, Isaque, que não sabia de nada, perguntou ao seu pai: "Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" (Gn 22.7b). O que Abraão respondeu a Isaque? Lemos em Gênesis 22.8a: "Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto". Isaque sabia, portanto, do sacrifício, mas não sabia da terrível verdade de que ele deveria ser a vítima.

Jesus Cristo sabia do Calvário. Ele sabia que seria o Cordeiro do holocausto; mas será que Ele também sabia quão terrível seria quando o Pai – nas horas do Seu sofrimento e da Sua morte – teria que abandoná-lO? Bem, não o sabemos, e também nunca teremos uma resposta definitiva para essa questão aqui na terra. Uma coisa, porém, é segura: as horas do Calvário realmente foram as mais difíceis e solitárias pelas quais ninguém na terra jamais passou; e o Filho do Homem, Jesus Cristo, as sofreu.

O alto objetivo dos sofrimentos de Jesus

Por que o Senhor da Glória teve que sofrer de forma tão extrema? Para redimir muitas e muitas pessoas escravizadas! Oh! quão maravilhosamente esse objetivo dos sofrimentos de Jesus é descrito no livro do profeta Isaías: "...quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade... com o seu conhecimento, justificará a muitos... Por isso eu lhe darei muitos como a sua parte..." (Is 53.10b,11b,12a). 

Glorioso, não é mesmo?! E até hoje são acrescentados diariamente novos justificados à Sua posteridade. Mas tudo começou nessa terrível cruz solitária. Quanto mais se agravava Seu caminho de morte, quanto mais profundamente Jesus entrava em dores e sofrimentos, maior e mais real se tornava o fato de que assim o caminho ao reino dos céus estava sendo aberto para a Humanidade. A cada hora de dores se aproximava a grandiosa vitória de Jesus, a porta da graça se abria cada vez mais.

Vejamos essa gloriosa verdade em relação à parábola de Jesus sobre os trabalhadores na vinha. Nela nos é mostrado maravilhosamente, de forma figurada, o processo que Jesus enfrentou na cruz – quanto mais horas de dores, mais próxima e maior a vitória. Leiamos a primeira parte dessa parábola: "Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo pela terceira hora viu, na praça, outros que estavam desocupados, e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram. Tendo saído outra vez perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma, e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados, e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então lhes disse ele: Ide também vós para a vinha" (Mt 20.1-7).

Essa parábola aponta maravilhosamente para o reino celestial e para todos que estarão nele algum dia. Ela nos mostra também que não faz diferença se alguém encontra cedo o caminho ou se chega somente à hora undécima. O que importa é que muitos venham! Não vamos nos ater agora na parábola em si, mas extrair dela maravilhosos paralelos sobre os acontecimentos do Calvário.

1 – Quando começou o verdadeiro caminho de morte de nosso Senhor? Não me refiro ao caminho de sofrimentos em geral, que já começou na manjedoura em Belém, mas ao caminho de morte e crucificação em si, através do qual Ele, como Deus, o disse através do profeta Isaías, geraria uma posteridade, ou seja, justificaria a muitos. Quando começou esse caminho da cruz? Lemos em Marcos 15.1: "Logo pela manhã entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, escribas e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos." E quando o dono da casa, na parábola citada, começou a enviar trabalhadores para sua vinha, isto é, quando o Rei do reino dos céus começou a chamar Sua posteridade para Seu reino? Também cedo de manhã: "Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha" (Mt 20.1).

2 – Quando, exatamente, Jesus foi crucificado? À hora terceira (nove horas da manhã): "Era a hora terceira quando o crucificaram" (Mc 15.25). E quando os próximos trabalhadores foram enviados para a vinha, isto é, quando o Rei do reino dos céus chamou os seguintes da Sua posteridade para Seu reino? À terceira hora (às nove horas da manhã): "Saindo pela terceira hora viu, na praça, outros que estavam desocupados, e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo" (Mt 20.3-4).

3 – Quando se abateram as terríveis trevas sobre toda a terra? À hora sexta (às doze horas): "Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona" (Mc 15.33). E quando os trabalhadores seguintes foram chamados para a vinha, ou seja, quando foram novamente chamados outros à posteridade no reino dos céus? À hora sexta (ao meio-dia): "Tendo saído outra vez perto da hora sexta..., procedeu da mesma forma" (Mt 20.5).

4 – Quando o Senhor Jesus Cristo deu o Seu grito abalador?. À hora nona (às três horas da tarde): "À hora nona clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mc 15.34). E quando foram enviados mais trabalhadores para a vinha, isto é, chamados ainda mais pessoas para a posteridade no reino dos céus? À hora nona (às três horas da tarde): "Tendo saído outra vez perto da hora... nona, procedeu da mesma forma" (Mt 20.5).

5 – Quando Jesus Cristo foi sepultado? Antes do anoitecer no dia anterior ao sábado (aproximadamente às cinco horas da tarde): "Ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, vindo José de Arimatéia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus... Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara, e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo" (Mc 15.42-43,46). 

E exatamente ao mesmo tempo, às dezessete horas, à hora undécima, na parábola foram novamente enviados trabalhadores para a vinha, ou seja, chamadas outras pessoas à posteridade no reino dos céus: "...e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados, e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então lhes disse ele: Ide também vós para a vinha" (Mt 20.6-7).

Essa comparação alegórica entre a morte de Jesus e a parábola dos trabalhadores na vinha nos mostra como através dos sofrimentos de Jesus na cruz, que ficavam cada vez mais intensos, a redenção se aproximava cada vez mais. Quanto mais se agravava Seu caminho de morte, mais resplandecia a verdade de que assim estava sendo preparado o caminho ao reino dos céus para a Humanidade.

Resumindo: cedo pela manhã começou o caminho da cruz de Jesus – e de madrugada vieram os primeiros trabalhadores para a vinha do dono da casa. À terceira hora (9 horas) Jesus foi crucificado – e à terceira hora foram chamados os trabalhadores seguintes para a vinha. 

À hora sexta (12 horas) se abateram as trevas sobre toda a terra – e à hora sexta foram chamados mais trabalhadores. À hora nona (15 horas) Jesus gritou Seu abalador "Por quê?" – e exatamente nessa hora foram novamente chamados trabalhadores na parábola. E à undécima hora (17 horas) Jesus Cristo foi sepultado; na parábola dos trabalhadores na vinha na mesma hora foram chamados mais uma vez trabalhadores. Aqui vemos claramente o que o profeta Isaías profetizou: "Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si" (Is 53.11).

Ao vermos tudo isso novamente hoje – essa maravilhosa obra do Calvário com seus grandiosos efeitos –, impõe-se a pergunta: o Senhor Jesus fez tanto por nós – mas o que podemos fazer por Ele?

O que podemos Lhe dar?

Oh! na verdade, nada! Pois conhecemos a nós mesmos e sabemos quão rapidamente novos propósitos e promessas são esquecidos. Apesar disso, devemos dar uma resposta ao Senhor! Talvez um acontecimento da vida de Pedro possa nos ajudar nesse sentido. Em certa ocasião, ele estava em Jope, na casa de um curtidor chamado Simão. Seu lugar de oração era sobre o eirado (terraço) da casa. Lemos em Atos 10.9: "No dia seguinte..., subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta". Se bem que esse texto na verdade não tem nada a ver com o Calvário, interessam as palavras "por volta da hora sexta". Portanto, Pedro subiu ao eirado ao meio-dia (12 horas) para orar

E quando começaram as três piores horas para o Senhor Jesus na cruz? Igualmente à hora sexta: "Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona" (Mc 15.33). É comovente o fato de que Pedro – consciente ou inconscientemente – tenha feito da pior hora de seu Senhor na cruz sua hora de oração diária! Pois podemos supor que não se tratou de uma oração única, ao acaso, mas de um costume regular. Como quer que seja, de qualquer modo, Pedro estava orando ao Seu Senhor na hora em que Jesus tinha passado pelos maiores tormentos na cruz. 

A pergunta é: o que podemos fazer pelo nosso Senhor Jesus; o que podemos Lhe dar? – na verdade, a minha e a sua resposta deveria ser bem clara: recomeçar uma vida de oração intensiva, baseando-nos a partir de agora conscientemente na morte de nosso Redentor! Em outras palavras: nunca mais oremos sem antes pensar porque podemos orar; sem que tenhamos completa clareza de porque temos o privilégio de orar; e sem estarmos plenamente convictos de que temos que orar! Pois: Jesus Cristo nos deu – através de Seus sofrimentos inomináveis e de Sua morte na cruz – a filiação pela qual podemos exclamar em oração:

"Aba, Pai!" Sim, é o que está escrito: "E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gl 4.6). Amém.

(Marcel Malgo - http://www.chamada.com.br)
Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, março de 1997.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

PARA SANTIFICAR O POVO, PELO SEU "PRÓPRIO SANGUE"

"Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério" (Hb 13.12-13).

As palavras "...para santificar..." esclarecem porque Jesus teve que sofrer e morrer "fora da porta". A Sexta-Feira da Paixão nos mostra, por um lado, a seriedade abaladora do pecado: se o Deus onisciente e onipotente não viu outro caminho a não ser deixar Seu amado Filho morrer publicamente de maneira terrível na cruz, a questão do pecado deve ser horrivelmente séria. Por outro lado, entretanto, também vemos nos acontecimentos do Gólgota a grandeza do insondável amor de Deus. 

A Sexta-Feira da Paixão também nos dá uma visão da profundeza assustadora da luta entre a luz e as trevas. Essa luta pelo poder já começou antes da fundação do mundo, quando a "estrela da manhã" caiu em sua orgulhosa rebelião contra Deus e se transformou em Satanás (comp. Is 14.12-15; Ez 28.14-17). O mesmo Satanás, em forma de serpente, enganou Eva, a mulher de Adão, o primeiro homem. Desse modo, acentuou-se o conflito entre a luz e as trevas até à hora em que foi decidido na cruz do Gólgota.

As palavras "pelo seu próprio sangue", em Hebreus 13.12, nos causam admiração e nos levam à adoração. Pois a Escritura diz em Levítico 17.11: "...a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida." Quando lemos atenta e repetidamente o Antigo Testamento, especialmente as leis sobre os sacrifícios e seus muitos detalhes, vemos repentinamente, à luz do sacrifício singular de Jesus Cristo, o significado da minúcia com que o Deus eterno ordenou todos esses sacrifícios através de Moisés:
  • a oferta pela culpa: Jesus tomou nossa culpa sobre Si
  • a oferta pelo pecado: Ele foi feito pecado por nós
  • a oferta pacífica: o coração de quem aceita a Jesus fica cheio de louvor e gratidão a Deus, pois passa a ter paz com Deus
  • o holocausto: ele aponta para a entrega completa do Filho de Deus
  • a oferta de manjares: ela representa a vida santa e sem pecado de Jesus
Mil anos antes do Gólgota, já ouvimos o grito de Jesus na cruz através da boca de Davi: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de meu salvamento as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel... Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda... Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitam sortes. Tu, porém, Senhor, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me" (Sl 22.1-3,11,16-19). Aqui já O vemos sofrendo "fora da porta" na palavra profética. E "lá fora", abandonado por Deus, Ele derramou Seu precioso sangue, que tem oito efeitos:

1. Ele purifica de todo pecado (1 Jo 1.7).
2. Ele redime do poder do pecado (Ef 1.7).
3. Ele nos resgata do fútil procedimento diabólico legado por nossos pais (1 Pe 1.18-19).
4. Ele produz paz com Deus (Cl 1.20).
5. Ele dá justificação diante de Deus (Rm 5.9).
6. Ele nos aproxima de Deus, a nós que "antes estávamos longe" (Ef 2.13).
7. Ele nos santifica (Hb 9.13-14).
8. Ele nos dá acesso livre à presença direta de Deus (Hb 10.19).
Mas, meus amigos, quão alto preço Jesus pagou por isso!

O que realmente aconteceu no Getsêmani

Já quando Jesus entrou naquele jardim na noite anterior à Sexta-Feira da Paixão, Ele foi preparado como o Cordeiro que seria morto. Dos evangelistas, somente Marcos fala dos sentimentos mais profundos do Senhor Jesus quando foi feito pecado lá no Getsêmani. Em Marcos 14.33-34 está escrito dEle: "E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai." Em outras palavras: Sua expressão mostrava profundo temor e aflição.

Esse terrível temor, entretanto, não era da morte na cruz do Gólgota. Pelo contrário. Aqui no Jardim Getsêmani, Deus o Pai já começou a se afastar do Seu Filho, porque O fez pecado (2 Co 5.21). Então, os poderes satânicos da morte se lançaram sobre Jesus, para frustrar o grande alvo que Ele tinha em mente – redimir a ti e a mim. Quando Jesus viu que começava a morrer lá no Getsêmani, pouco antes de começar a agonia e Seu suor se tornar como gotas de sangue, Ele se inclinou diante do Pai e Lhe pediu:
 
"Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua. Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra" (Lc 22.42-44). Que cálice Jesus pediu que passasse dEle? Ele se referia ao cálice do Gólgota? Não, pelo contrário. Tratava-se do cálice que Ele teria que tomar evidentemente no Getsêmani, se o Pai não O livrasse dele.

Esse cálice consistia para Jesus em ter que morrer já no Getsêmani, sem poder realizar a obra de salvação no Gólgota. Mas, conforme Filipenses 2.8, Ele foi "obediente até à morte (no Getsêmani), e morte de cruz (no Gólgota)." Por isso, no Getsêmani, Ele orou três vezes ao Pai com as palavras: "...contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua." Aí Deus interferiu, porque Seu amado Filho tinha passado também por esta prova de obediência.

O que aconteceu no Getsêmani é também descrito em Hebreus 5.7: "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade". Quando Jesus orou ao Pai no Getsêmani: "...contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua", o Pai O ouviu. Desse modo, por meio do sumo sacerdote e de Pilatos, Jesus foi conduzido ao Gólgota.

Tendo experimentado em Sua alma o ficar "fora" no Getsêmani, Ele teve que sofrer o "ser feito pecado" em corpo, alma e espírito – não mais na escuridão da noite, mas publicamente, de dia. Entretanto, está escrito dEle: "...o qual em troca da alegria que lhe estava proposta (de poder nos santificar), suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia..." (Hb 12.2).

As grandiosas dimensões dos sofrimentos de Jesus

Tendo como pano de fundo a luta milenar entre luz e trevas no mundo invisível, podemos imaginar o que o Filho de Deus teve que passar naquelas horas no mundo visível. O fato de Jesus ter sofrido "fora da porta" (Hb 13.12b), apresenta grandiosas dimensões. Pois, sofrer "fora da porta" significou para Ele:

1. Esvaziamento
Lemos a respeito em Filipenses 2.6-7: "pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana." Quando o Filho de Deus se esvaziou a si mesmo da glória que tinha com o Pai e se tornou homem, Ele se dirigiu para "fora da porta", para tomar sobre si voluntariamente o "vitupério" (a afronta, o desprezo) que o aguardava.

2. Tornar-se realmente um com o pecado
Já no Getsêmani, como vimos, e então publicamente na cruz do Gólgota, Jesus Cristo foi feito pecado por nós por parte de Deus, o Pai: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Nós, que nascemos no pecado (Sl 51.5), nem podemos compreender o que significou para o Filho de Deus, que não tinha pecado, ser identificado com o pecado e, ainda mais, ser Ele mesmo feito "pecado".

3. Tirar todos os pecados
Jesus também sofreu "fora da porta" porque tirou os pecados de todos os homens de todos os tempos. João Batista exclamou a respeito dEle: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (Jo 1.29). Não está escrito "tirará", mas que Jesus "tira" o pecado do mundo. Isso significa que já naquele tempo, quando encontrou João Batista, o pecado pesava sobre Ele.

Quando somos acusados injustamente de uma coisa ruim, que não fizemos, algo começa a "trabalhar" em nós. Isaías 53.11a fala profeticamente de Jesus, referindo-se ao "penoso trabalho de sua alma". Quanto trabalhou a alma de Jesus sob a carga dos bilhões e bilhões de pecados que foram lançados sobre Ele, isto é, atribuídos a Ele – o Cordeiro "sem defeito e sem mácula" (1 Pe 1.19).

4. O ser levantado na cruz
O sofrer "fora da porta" foi ainda mais profundo, ainda mais definitivo. Quem jamais entendeu a profundidade assombrosa das palavras de Jesus em João 3.14-15, que são tão indescritivelmente gloriosas para nós? Lá está escrito: "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna." Por que o Senhor se referiu a esse acontecimento do Antigo Testamento? Resposta: naquele tempo, o povo de Israel se rebelou contra Deus e contra Moisés (comp. Nm 21.4-5). 

Como castigo, "o Senhor mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel" (v. 6). Quando os restantes do povo foram a Moisés, arrependendo-se do seu pecado e confessando-o, e Moisés intercedeu por eles diante do Senhor (v. 7), "disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste: e será que todo mordido que a mirar, viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze, e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava" (vv. 8-9). 

Somente quando o Senhor da Glória como que se identificou completamente com a antiga e má serpente e se deixou pregar no madeiro maldito, Ele pôde pisar a cabeça dela. Nesse momento, Ele, a luz do mundo, teve o mais intenso confronto com o poder das trevas; e Ele realizou essa luta completamente sozinho.

5. O abandono de Deus
Esse sofrimento "fora da porta" se tornou mais terrível para Jesus quando também Deus, o Pai, se afastou dEle, porque não O via mais como Seu Filho, mas como o próprio pecado. Pois Deus odeia o pecado com ódio eterno; mas Ele ama o pecador com eterno amor.
Agora vamos olhar em espírito para o Crucificado, com santa reverência:

O que Jesus realmente fez na cruz?

O solo em que se encontra a cruz é sagrado. Quanto já se falou, orou, cantou e pensou a respeito daquilo que Jesus realizou ali! E mesmo assim nos admiramos cada vez mais sobre Seu amor incompreensível!

No Novo Testamento encontramos 29 vezes a palavra "cruz" e 47 vezes o verbo "crucificar". Que nosso Senhor, durante Sua vida terrena, sempre tinha em mente a cruz é provado pela Sua repetida exigência de que todos que queriam segui-lO deviam "tomar a sua cruz" (comp. Lc 14.27; 9.23; Mt 10.38; 16.24; Mc 8.34; 10.21). 

Quando Moisés e Elias estiveram com Jesus sobre o alto monte, eles "falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém" (Lc 9.31); eles falavam da Sua cruz. O apóstolo Paulo o lembrou aos gálatas quando lhes escreveu: "" gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?" (Gl 3.1). 

Em outras palavras: quem viu, ou seja, quem compreendeu o que Jesus fez na cruz, perde o orgulho e a obstinação; tal pessoa não pode mais cair de volta em esforços próprios para querer se justificar diante de Deus pelas próprias obras. Entretanto, devemos frisar antecipadamente que até hoje "a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus" (1 Co 1.18). 

E aqui já resplandece o indescritível que Jesus fez por nós na cruz. Nenhum homem é capaz de entender toda a profundidade das palavras encontradas em João 1.29: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Hermann Bezzel (1861-1917) tentou expressá-lo com as seguintes palavras:

Vejam, essa é a grandeza de Jesus Cristo! Ele experimentou e sofreu em sua totalidade cada um dos pecados de que um homem é capaz. Tudo o que faz o pecado ser tão atraente: o prazer que ele promete; a vantagem que ele faz vislumbrar; o momento de satisfação que é obtido com um ato escondido; Jesus deixou tudo isso fazer efeito sobre si.

Assim Ele veio à humanidade, a nós. Então, o pecado se tornou para ele não algo que se conhece de ouvir falar, mas uma realidade palpável. Desse modo, Ele assumiu o corpo da humanidade e passou por todas as tentações da grandeza e por toda a miséria da insignificância. Ele deixou vir sobre si tanto os atrativos e as tentações do poder como os fios de seda do engano com que uma vida humana é envolvida antes de ser presa em correntes de ferro e destruída. Mas, Ele não sucumbiu ao pecado!

Para mim, entretanto, o mais grandioso consiste do fato de que "Aquele que não conheceu pecado" Deus "o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." Isso significa que Jesus não somente tirou os pecados do mundo, que ninguém pode contar, mas que Ele, que não tinha pecado, assumiu nossa natureza pecaminosa e assim tomou sobre si o terrível castigo de Deus pelo pecado e pelos pecados.

Mas, por que isso tinha que acontecer justamente numa cruz? Por que não de outra forma, menos terrível? Encontramos o motivo em Gálatas 3.13, onde está escrito: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro". Por isso, em Seu caminho de sofrimentos, Jesus foi identificado tão claramente com Sua cruz. Por exemplo, em:

– João 19.17: "...e ele próprio, carregando a sua cruz..."
– João 19.18: "...onde o crucificaram..."

Pensemos por alguns momentos sobre essa última frase. Imaginemos em espírito, sem muitas palavras, o que aconteceu então no Gólgota: chegando à colina, eles fizeram rapidamente os preparativos. A cruz foi levantada e firmada; os martelos, cravos e cordas foram preparados. Uma grande multidão cercava a colina e se aglomerava para assistir ao ato horrendo que se realizaria. O Senhor estava tranqüilo, em silêncio. 

Certamente também Ele sentiu calafrios em Seu íntimo. O que, entretanto, devia estar se passando em Seu coração, em Seus pensamentos? O Salmo 22 o revela. Do fundo do Seu coração, Ele clamava ao Pai: "Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda" (v. 11). Oh! que terrível: cercado pelas Suas criaturas, a Origem da vida está sendo executada! Por isso, Ele orou: "Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. Contra mim abrem as bocas, como faz o leão que despedaça e ruge" (vv. 12-13).

Pouco antes da crucificação de Jesus está dito: "Deram-lhe a beber vinho com mirra, ele, porém, não tomou" (Mc 15.23). Era costume dar uma bebida anestésica aos criminosos antes da execução, como atualmente se anestesia um paciente antes de uma operação para tornar os nervos insensíveis. Não sabemos por qual motivo se fazia isso. Será que era por compaixão de quem ia sofrer? Creio que não. 

Certamente se agia assim por consideração àqueles que tinham que realizar o horripilante trabalho de pregar o condenado na cruz. Sem dúvida, muitos criminosos gritavam de forma abaladora, alguns se defendiam como leões depois da primeira martelada, outros conseguiam se soltar no desespero das dores. Portanto, naquele tempo cruel certamente se procurou um meio para facilitar tal trabalho sangrento.

De qualquer modo, é completamente errado supor que se tenha tido misericórdia do Senhor. Pelo contrário, também nesse caso se cumpriu o clamor profético do salmista: "não há... ninguém que por mim se interesse" (Sl 142.4). Jesus recusou a bebida anestésica. Ele queria tomar o cálice do Pai em plena consciência. Nenhuma gota de amargura deveria passar despercebida. 

Pois Ele sabia que não seria atingido por nada além daquilo que o Pai justo tinha determinado para Ele como expiação pelo mundo caído. Isso, entretanto, Ele queria tomar sobre si inteiramente como Substituto, em sagrado reconhecimento do justo juízo de Deus sobre o pecado. Isso é importante para nós. Também nós devemos suportar conscientemente os sofrimentos que Deus nos impôs. 

Ainda hoje o mundo oferece como má solução aos sofredores que se beba do seu cálice de tontear para esquecer, espantar e mitigar a dor. Sugere-se: deves desanuviar, deves aproveitar, não deves pensar continuamente em tua tristeza; vem conosco, te mistura entre os alegres, vai ao teatro, participa das nossas alegres festas, e logo perceberás que grande parte da tua tristeza é somente imaginação. Assim o mundo seduz. Assim ele quer curar a dor da tribulação.

O Senhor, porém, quer nos conduzir à comunhão dos Seus sofrimentos. Mas por quê? Em Filipenses 3.10-11 nos é dada a jubilosa resposta: "para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos." Sem a Sexta-Feira da Paixão nunca teria acontecido a Páscoa! 

Por isso, se Deus nos impõe um sofrimento, devemos senti-lo, tomá-lo sobre nós conscientemente e carregá-lo diante dEle com orações e súplicas. Então ele trará bênçãos presentes e eternas. Lemos no Salmo 126.5-6: "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes." Um dia, certamente será algo glorioso além de qualquer medida ter passado pela comunhão dos sofrimentos de Cristo. O fruto da tribulação será grandioso além de qualquer expectativa!

O lado profético da Sexta-Feira da Paixão

Após Sua ressurreição, o Senhor se juntou aos desanimados discípulos no caminho de Emaús e "Então lhes disse Jesus: " néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.25-27). 

Também aos Seus demais discípulos Ele falou a seguir – referindo-se ao Gólgota e à Sua ressurreição – sobre o cumprimento da palavra profética: "São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia" (Lc 24.44-46).

O principal tema de que o Ressuscitado tratou com Seus discípulos foi: o cumprimento da palavra profética através do Seu sofrimento, da Sua morte e da Sua ressurreição. Como já constatamos antes, também as leis dos sacrifícios do Antigo Testamento (ofertas pela culpa, pelo pecado, holocausto, etc.), em todos os seus detalhes, apontam com muita clareza para o sacrifício singular do corpo de Jesus Cristo. Mas Ele, nosso grande Sumo Sacerdote, é representado ainda mais nitidamente pelo sumo sacerdote antigo-testamentário.

Como este podia ser imediatamente reconhecido? Por aquilo que o Senhor ordenou em Êxodo 28.36-38: "Farás também uma lâmina de ouro puro, e nela gravarás à maneira de gravuras de sinetes: Santidade ao Senhor. Atá-la-ás com um cordão de estofo azul, de maneira que esteja na mitra; bem na frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniqüidade concernente às cousas santas, que os filhos de Israel consagrarem em todas as ofertas de suas cousas santas; sempre estará sobre a testa de Arão, para que eles sejam aceitos perante o Senhor." Aqui temos a base profética antigo-testamentária daquilo que está escrito em Hebreus 13.12: "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta." Em João 19.17 vemos Jesus em Seu caminho para o Gólgota: "Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico".

Sua vida era de "santidade ao Senhor". E, pelo derramamento do Seu sangue na cruz, Ele entregou Sua vida santa. Pouco antes, Ele se referiu a isso em Sua oração sacerdotal, quando disse ao Pai: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade" (Jo 17.19). Esse elevado alvo, que Jesus tinha em mente quando se deixou crucificar, ou seja, que sejas "santificado", está sendo realizado em ti? Em outras palavras: és santificado para Ele? És Sua propriedade? Por que é tão importante para Deus que sejamos "santificados na verdade"? 

Porque somente dessa maneira corresponderemos à Sua vontade, que é descrita assim em Êxodo 28: "...para que me ministre o ofício sacerdotal..." (v. 3), ou: "...para me oficiarem como sacerdotes..." (v. 1,4). Esse é o objetivo, o grande alvo da Sexta-Feira da Paixão.

Os dois aspectos do Grande Dia da Expiação em sentido profético

Uma vez por ano Israel comemorava (e comemora) o Grande Dia da Expiação: o Yom Kippur. Nesse dia, ninguém realizava qualquer trabalho, pois todo o povo se reunia junto à tenda da congregação, ou seja, no templo. Somente o sumo sacerdote realizava a grande obra da reconciliação. Lemos a respeito em Levítico 16.30-32a: "Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o Senhor. É sábado de descanso solene para vós outros, e afligireis as vossas almas: é estatuto perpétuo. Quem for ungido e consagrado para oficiar como sacerdote no lugar de seu pai, fará a expiação..."

Esse primeiro aspecto do Yom Kippur foi cumprido na Sexta-Feira da Paixão, quando Jesus Cristo não derramou sangue estranho, mas Seu próprio sangue e, assim, penetrou no Santo dos Santos: "Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção" (Hb 9.11-12). 

E para que realmente entendamos bem que o Yom Kippur – no que se refere à reconciliação – realmente foi cumprido, o autor da Epístola aos Hebreus volta mais uma vez ao assunto no mesmo capítulo: "Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar pelo sacrifício de si mesmo o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos..." (Hb 9.24-28a).

A maravilhosa conclusão em sentido profético do Grande Dia da Expiação comemorado anualmente, entretanto, ainda está por acontecer, pois lemos logo a seguir: "...aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação" (v. 28b). Vocês vêem os centenas de milhares, sim, de milhões de filhos de Israel aguardando? O que eles aguardam? Por que, após quase dois mil anos de dispersão, eles voltaram de todo o mundo para Israel, à terra dos seus pais? Para esperar pela volta do Sumo Sacerdote em Suas vestes de glória! 

A respeito, os sumos sacerdotes do Antigo Testamento também tinham um "sinal dos tempos", pois em Êxodo 28.33-35 está escrito sobre as "vestes de glória" de Arão: "Em toda a orla da sobrepeliz farás romãs de estofo azul, púrpura e carmesim; e campainhas de ouro no meio delas. Haverá em toda a orla da sobrepeliz uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã. Esta sobrepeliz estará sobre Arão quando ministrar, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do Senhor, e quando sair, e isso para que não morra."

Há quase dois mil anos, Jesus Cristo, como Grande Sumo Sacerdote, entrou no Santo dos Santos celestial pelo Seu próprio sangue (comp. Hb 9.12-14). Em breve, porém, Ele aparecerá com as vestes da glória, "sem pecado, aos que o aguardam para a salvação." Entretanto, somente aguardam realmente por Ele os que se deixaram santificar pelo sangue de Jesus. E, quem são esses? Aqueles que já tomaram a única atitude correta diante do que está dito em Hebreus 13.12: "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta." Essa conseqüência obrigatória, vital, do Seu sangue derramado "fora da porta" pela nossa santificação é descrita com lógica inescapável no versículo seguinte, sendo expressa na exigência:

"Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério" (Hb 13.13)!

O que realmente se pretende dizer com isso? Trata-se de uma identificação completa com Jesus, como o fez Paulo, que testemunha em Gálatas 2.19b-20: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim." Quem quer entregar, como Paulo, sua própria vida, com todas as suas paixões e cobiças? Estás realmente disposto a renunciar a tudo que tens (comp. Lc 14.33) e a tomar Seu jugo sobre ti?

Quão vergonhosos são, freqüentemente, nossos lamentos! O Senhor começa a nos conduzir para onde podemos ter comunhão com Ele, isto é, para "fora do arraial", e nós gememos e dizemos: "Oh! Senhor. Deixa-me ser um pouco como as outras pessoas!" Jesus nos pede que tomemos um lado do jugo, dizendo: "...o meu jugo é suave..." (comp. Mt 11.29-30), vem para Meu lado, vamos puxá-lo juntos. 

Vem para fora, até mim, leva Meu vitupério sobre ti! Quem fizer isso, verdadeiramente estará buscando a santificação (Hb 12.14), ou seja, estará aceitando pessoalmente a santificação que o Senhor realizou pelo Seu sangue. Por isso, em crasso contraste, em Hebreus 10.28-29 estão escritas as sérias palavras: "Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?" 

Como filho de Deus, tua posição é de santificado pelo sangue de Jesus. Mas, como está tua situação de santificação pessoal – quão distantes estão a posição e a situação de santificação?

Olha para Jesus em Seu grande amor por ti: Ele se deixou sacrificar por ti! Não deveria ser o desejo do teu coração, sacrificar-te também por Ele? Ele se entregou por ti, Ele não ficou com nada para si, esquecendo-se completamente por tua causa. E tu irias esquecer dEle, não irias te entregar voluntariamente a Ele como sacrifício de louvor? Ele foi sepultado por ti no pó da morte; Ele suportou vergonha e a mais profunda humilhação por tua causa – e tu ainda irias cultivar teu amor-próprio e querer ter grande prestígio neste mundo, em que Ele foi tão desprezado? 

Ele curvou Sua cabeça; Sua cabeça estava cheia de sangue e feridas, de dores e escárnio – e tu ainda irias andar com pensamentos orgulhosos, mantendo tua cabeça erguida com altivez e inflexibilidade? Ele sofreu tantas dores e tormentos em Seu corpo e Sua alma, e tu ainda irias correr atrás de alegrias terrenas? Não queres também tu sair a Ele, fora do arraial, levando o Seu vitupério? Suas mãos foram traspassadas e farias armas de injustiça das tuas? Seus pés foram furados pelos cravos, e tu andarias pelos caminhos da desavença e da destruição com os teus?

Ele foi levantado nu na cruz, e tu te exibirias com pompa e vaidade? Ele obteve eterna justiça através de profundas dores, e tu Lhe roubarias a glória ao procurares estabelecer tua própria justiça? Oh! não, tudo seja lançado ao pó, desprezado e considerado como refugo por Sua causa! Dize-Lhe agora de forma clara e decidida: "Senhor Jesus, quero sair a Ti, fora do arraial, levando o Teu vitupério!

Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, abril de 1994.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

QUEM DIZEM OS HOMENS SER "JESSUS?"

"Chegando Jesus à região de Cesaréia de Felipe, interrogou os seus discípulos: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? Responderam-lhe: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou um dos profetas. Perguntou-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". O evangelista Mateus (Mateus 16:13 a 16).

"Ao ver as gravuras dos quadros pintados daquilo que dizem ser o meu Senhor, meu ser não aceita o que está na tela. É falsa a inspiração do pintor. Não creio, não creio num Cristo vencido, cheio de amargura, semblante de dor. Eu creio num Cristo de rosto alegre. Eu creio num Cristo que é vencedor!".[1] Josias Menezes (O Rosto de Cristo).

Os místicos subtraíram Jesus ao máximo e agora estão redefinindo-O. Os esotéricos tentam passar uma esponja sobre os Evangelhos neo-testamentários, querem re-editar os evangelhos de uma forma que espelhe o misticismo oriental e tencionam re-criar um "novo" Cristo. Conhecemos cada vez mais pessoas que aceitam esse "novo" Jesus. Falam de um Jesus mente-aberta, que não censura, que não reivindica ser o caminho para o céu, que ensina os dogmas das religiões orientais, o esoterismo e a busca de um suposto deus-introvertido em cada indivíduo.

Os esotéricos querem um Jesus, tipo "Santo Issa", que sincretize com Buda, Krishna, Iman Mahdi e talvez até com o futuro messias judaico. Anseiam por um Jesus que seja um mestre perfeito entre muitos mestres perfeitos. Vêem Jesus como um iluminado que não apenas alcançou a consciência do "Cristo cósmico", mas também que estava em perfeita simbiose com o futuro "Cristo cósmico" (vide Maitreya*). Para os nova erenses, o termo "o Cristo" não se refere a uma pessoa específica. "O Cristo" é um cargo, uma função, como por exemplo "o presidente" de um país. Dizem que o título "o Cristo" pertence ao "Senhor Maitreya*", mas já foi compartilhado temporariamente com alguns seres espiritualmente elevados, como por exemplo: Jesus.

Esse Jesus do Movimento da Nova Consciência seria um mero homem com um espírito bastante evoluído. Muitos sectários deste "movimento aquariano" asseguram que seu Jesus teve uma formação acadêmica esotérica no Oriente durante Sua mocidade e se tornou semelhante a muitos gurus orientais da antiguidade.

Quem é Jesus para Bhagwan Shree Rajneesh?

Bhagwan Shree Rajneesh, também chamado de Osho (1932-1990), ficou conhecido como o guru sexual por ter difundido as "cerimônias tântricas"*. Estabeleceu o seu centro espiritual em Antelope, Oregon, reivindicou ser Deus, precipitou um escândalo internacional sobre imoralidade e drogas e foi investigado pela Receita Federal americana. Foi deportado dos Estados Unidos de volta para a Índia, sem ter o direito de levar consigo seus noventa carros Rolls Royce.[2] Apesar dos críticos o considerarem um perverso, Rajneesh é respeitado e amado por muitos esotéricos e seus livros são vendidos aos montes.

Observem o conceito que este guru indiano, Rajneesh, tinha acerca de Jesus Cristo:
"Para lhe dizer a verdade, Jesus é um caso psíquico. [...] Ele é um fanático. Ele tem o mesmo tipo de mente de Adolf Hitler. Ele é um fascista. Ele acha que somente aqueles que o seguem serão salvos. [...] E os bobos continuam acreditando que eles serão salvos se seguirem Jesus. Até Jesus não está salvo e ele sabe disto".[3]

Quem é Jesus para Matthew Fox?

Matthew Fox é um ex-padre, excomungado da ordem dominicana em virtude de suas idéias homossexuais. Posteriormente, foi ordenado pelo clero da igreja episcopal americana. Autor do "best-seller" esotérico The Coming of The Cosmic Christ (A Vinda do Cristo Cósmico), Fox exerce uma tremenda influência mística no círculo protestante.

O Cristo cósmico, pregado por Fox, como também Jesus (que supostamente assimilou a consciência deste Cristo cósmico) podem ser tanto hetero como homossexual:

"Muitos cristãos têm sido levados a acreditar que o Cristo não está presente no fazer-amor. Isso não faz sentido. De fato, o Cristo Cósmico é radicalmente presente a todas as sexualidades e em todas as suas dimensões e possibilidades. O Cristo Cósmico celebra a diversidade sexual – "Em Cristo não há macho nem fêmea", diz Paulo (Gálatas 3:28). O Cristo Cósmico não é obsecado com identidades sexuais. O Cristo Cósmico pode ser ambos, feminino e masculino, heterossexual e homossexual".[4]

"Fox também pede uma substituição da pesquisa do Jesus histórico pela pesquisa do Jesus Cósmico. Ele diz que é tempo de ‘reivindicar’ o Cristo Cósmico. Nós precisamos nos mudar de um Cristianismo do ‘Salvador Pessoal’ para um Cristianismo do ‘Cristo Cósmico"’.[5]

Quem é Jesus para Elizabeth Clare Prophet?

Prophet acredita que "Deus" habita em cada ser humano e não somente em Jesus e que todos nós aspiramos nos tornar também o Cristo:

"Deus habita em cada homem e não apenas em Seu filho Jesus, o Cristo. O unigênito Filho do Pai, cheio de graça e verdade, é o Cristo pelo qual a Imagem do Senhor tem sido reproduzida repetidas vezes como a identidade-Cristo de cada filho e filha que tem vindo do Espírito infinito de Deus Pai-Mãe".[6]

"Tornar-se um Cristo é, pois, o objetivo de cada filho de Deus".[7]

Prophet também assegura que Jesus não foi o expiador dos nossos pecados:
"A doutrina errônea que diz respeito ao sacrifício sanguinário de Jesus – a qual ele mesmo nunca ensinou – tem sido perpetuada até os dias atuais. Deus o Pai não requereu o sacrifício de Seu Filho Jesus Cristo [...] como uma expiação pelos pecados do mundo; e nem é possível de acordo com as leis cósmicas que qualquer sacrifício humano equilibre o pecado original e nem os subseqüentes pecados de alguém ou de muitas pessoas".[8]

Quem é Jesus para Lauro Trevisan?

Lauro Trevisan é um padre brasileiro conhecido como "o arauto do pensamento positivo e da Nova Era". Trevisan é autor de vários livros místicos e afirma que Jesus só se tornou o Cristo a partir do Seu batismo no rio Jordão:

"Lucas narra que, ao receber o batismo de João, desceu o Espírito Santo sobre Jesus, em forma corpórea de pomba", e do céu veio uma voz: ‘Tu és meu Filho bem-amado; eu, hoje, te gerei!’ (Lc 3, 21-22). Neste momento, era gerado o Cristo, o Filho de Deus. A partir deste instante, já não era mais apenas o filho de Maria e José. Já não era mais apenas o Jesus. Era o Cristo, o Iluminado, o Messias, o Salvador. E começou a transmitir a mensagem que a luz Divina lhe inspirara, chamando-a de Boa Nova".[9]

Lauro Trevisan estimula seus leitores a aprofundarem seus conhecimentos sobre a mensagem de Jesus mergulhando nas doutrinas do ocultismo:
"À medida em que a humanidade mais evolui no campo da mente, do espírito, das chamadas ciências ocultas e do conhecimento das leis universais, melhor entenderá a mensagem de Jesus".[10]

Afinal, é Jesus Cristo o verdadeiro e único Cristo?

"Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito. Poderia ser este o Cristo?" – a mulher samaritana questionando acerca de Jesus (João 4:29).

Cristo é a palavra grega que significa Messias. Messias, por sua vez, vem do hebraico Mashiah que quer dizer "ungido". Para os cristãos só houve um único Messias – Jesus Cristo. A polêmica levantada pelos esotéricos é que Jesus não é o Messias, mas assumiu a função de Messias temporariamente durante alguns anos da Sua vida terrena. Como já frisamos, para os místicos, o Messias integral é o vindouro "Cristo cósmico" (Maitreya*).

O fato é que, falem o que quiserem, "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente" (Hebreus 13:8). Mas, quem é esse imutável Jesus?

Sobre a questão da cristandade de Jesus, queremos salientar apenas cinco aspectos:
Jesus, o embrião Cristo:

Ao contrário do que o Movimento da Nova Consciência ensina, Jesus e o Cristo não são duas personalidades separadas e distintas. Jesus Cristo é uma única pessoa desde o começo e é inseparável. Jesus não incorporou o espírito do "Cristo cósmico" (Maitreya*), mas sempre foi o Cristo.

Houve tantos fenômenos e acontecimentos extraordinários cercando a gravidez de Maria, o nascimento e a infância de Jesus, que fica difícil desmentir que aquele menino era de fato o Cristo. Observemos alguns destes episódios:

O povo de Israel conhecia uma profecia de Isaías (de mais ou menos 750 a.C.) que vaticinava que o Messias nasceria de uma virgem e seria chamado de Emanuel: "Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: A virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel", o profeta Isaías (Isaías 7:14). 

Jesus cumpriu literalmente esta profecia quando nasceu, veja o texto: "Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta (Isaías): A virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus conosco", o evangelista Mateus (Mateus 1:22 e 23).

No dia do nascimento de Jesus, um anjo desceu dos céus até os pastores na circunvizinhança de Belém e garantiu-lhes que o Cristo tinha nascido: "Na cidade de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor", o evangelista Lucas (Lucas 2:11).

Talvez um dos eventos mais marcantes de reconhecimento da cristandade na infância de Jesus foi quando Seus pais O levaram ao templo em Jerusalém para O consagrarem. Havia duas personagens no templo, Simeão e a profetisa Ana, que, ao verem o Senhor Jesus, reconheceram de imediato que aquele nenê era o Messias: "Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; este homem, justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito foi ao templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para com ele procederem segundo o que a lei ordenava, ele então o tomou nos braços, e louvou a Deus, dizendo: Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois os meus olhos já viram a tua salvação [...]. O pai e mãe do menino admiraram-se das coisas que dele se diziam. [...] Estava ali a profetisa Ana [...] Era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. Chegando na mesma hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém", o evangelista Lucas (Lucas 2:25 a 38).

Compreende-se, nestas passagens dos evangelhos bíblicos, que o ser que foi engendrado no útero da virgem Maria era o embrião Cristo. Jesus é Deus encarnado desde a "barriguinha" de Maria e José que o diga. José, ao saber que sua virgem namorada, Maria, encontrava-se gestante, tentou fugir secretamente, mas um anjo o alertou: "... em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo", o evangelista Mateus (Mateus 1:20).

Jesus não compartilhou o Seu título de Cristo com ninguém:

Jesus se identificou como o Cristo (Mateus 16:13 a 20; João 11:24 a 27). Jesus nunca incentivou as pessoas a se tornarem o Cristo, jamais disse: "desenvolva sua consciência crística – você também pode aspirar um dia tornar-se um Cristo como Eu".

Jesus alertou acerca de falsos cristos:

É importante para nós, cristãos, observar o surgimento de falsos cristos, pois assim temos a certeza de que estamos perto do fim do mundo. "Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. [...] Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim", o evangelista Mateus (Mateus 24:4 a 6).
O Oriente honrou Jesus:

Não há qualquer menção na Bíblia de que Jesus tenha visitado o Oriente, no entanto, os orientais vieram visitar Jesus. A Bíblia relata que homens sábios, estudiosos das profecias, perceberam que uma brilhante estrela no céu anunciava o nascimento do Salvador. Viajaram do Oriente até a pequena vila de Belém para presentearem e honrarem ao bebê Jesus. "...e a estrela que (os sábios orientais) tinham visto no Oriente, ia adiante deles até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. Vendo eles a estrela, alegraram-se imensamente. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o adoraram. Então, abrindo os seus tesouros, lhe apresentaram suas dádivas: ouro, incenso e mirra", o evangelista Mateus (Mateus 2:9 a 11).

Não podemos imaginar quanto tempo aqueles magos orientais esperaram por aquele sublime momento de estarem ajoelhados aos pés de Jesus. Eles reconheceram o senhorio de Cristo e a Ele expressaram seu louvor.

Ah... como seria bom se os adeptos da Nova Consciência entendessem a profundidade desta mensagem. Os magos orientais vieram contemplar e honrar Jesus; não houve qualquer tentativa do Jesus adulto de retribuir esta honra aos sábios orientais. Os nova erenses, sob pretextos infundados e sob alegações baratas querem forçar Jesus a se curvar diante das doutrinas das religiões orientais. Fabricaram um "Jesus" que abraçou o budismo e o hinduísmo, mas que na verdade não passa de uma manipulação forçada da personalidade de Jesus Cristo.

Negar que Jesus Cristo é o Cristo – aliar-se ao Anticristo:

Negar que Jesus é o Cristo é fazer parceria com o Anticristo. Infelizmente, consciente ou inconscientemente, os sectários da Nova Consciência já assimilaram o espírito do Anticristo e preparam o palco para a aparição dele – o seu "Cristo Cósmico". "Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai", o evangelista João (I João 2:22 e 23).

"Nisto conheceis o Espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus, mas todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus. Este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e agora já está no mundo", o evangelista João (I João 4:2 e 3).

Apenas para a reflexão dos cristãos: Satanás está deixando muito claro para todo mundo que o Cristo é o "Maitreya", conhecido como o futuro "Cristo Cósmico". Fica, portanto, muito óbvio para o cristão que o "Maitreya" é o Anticristo. No entanto, o diabo é safado e mentiroso por natureza – Será que ele não está blefando? Será que o maligno não está nos escondendo o verdadeiro Anticristo? Será que o diabo vai colocar o "Maitreya" no planeta só para desviar a atenção dos cristãos do verdadeiro Anticristo? Será que o "Maitreya" é mesmo o Anticristo ou apenas o testa-de-ferro do verdadeiro Anticristo?

O Movimento da Nova Consciência criou um Jesus diferente do original. Não é mais o Jesus Cristo que viveu e fixou a Sua própria história em um tempo determinado. No entanto, estamos presenciando um surgimento de um "novo" Jesus forçado a oscilar e se submeter a uma "nova" história de Sua vida sancionada pelos esotéricos. Querem tentar fazer com que o Jesus Cristo dos Evangelhos abandone Sua cristandade e se amolde ao "Santo Issa" dos evangelhos "aquarianos".

Esperamos no Senhor que os nossos leitores reconheçam que, além de Jesus, nunca houve e nem haverá outro Cristo. O que surgir por aí é simples falsificação. E mais, sem Jesus Cristo não nos resta esperança: "Em nenhum outro há salvação, pois também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12).

E os anos obscuros da mocidade de Jesus Cristo? O argumento de que Jesus foi um aprendiz no Oriente e um iniciado no esoterismo entre os essênios torna-se nulo e desnecessário quando cremos que Jesus é o Messias (o Cristo) desde o ventre de Maria. Jesus Cristo não precisou ser ensinado a ser um líder religioso e muito menos a ser um Cristo. Jesus sempre foi o Cristo e estava nos planos de Deus que viesse ao planeta Terra resgatar o pecador. O próprio Jesus sabia disto: "Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10:45). 

Jesus veio ao nosso planeta já ciente do que tinha de fazer e cumpriu impecavelmente a Sua missão. Ter discernimento espiritual para identificar o verdadeiro e único Cristo é fundamental para assimilarmos uma outra verdade sobre o Cristo "Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir, assim como para o céu o vistes ir" (Atos 1:11b). Jesus voltará!

Glossário
  • CERIMÔNIAS TÂNTRICAS: São relações sexuais realizadas como parte das doutrinas de uma pequena variante do budismo, chamado budismo tântrico. Seus seguidores basearam-se na crença do poder sexual de uma divindade do hinduísmo chamada Shakti. Os adeptos do tantrismo praticam o intercurso sexual como uma forma de alcançarem uma união com o divino. Acreditam que o coito é a combinação de forças opostas do Universo (o positivo masculino e o negativo feminino), resultando nas habilidades dos praticantes de realizarem atos sobrenaturais.
  • MAITREYA: Segundo a divisão Mahayana (Grande Veículo) do budismo, "Maitreya" é um título outorgado a um ser que adquiriu méritos e prerrogativas para se transformar em um Buda. O budismo afirma que o seu quinto Buda era chamado de "Maitreya" e que no futuro ele retornará ao planeta Terra. Pelo menos dois grandes monumentos ao Buda Maitreya podem ser encontrados no Oriente: Um é uma estátua esculpida em baixo-relevo em uma rocha vertical de doze metros de altura, no norte da Índia (fronteira entre Caxemira e Ladakh). O outro é uma estátua com vinte e seis metros de altura e revestida com trezentos quilos de ouro, contida no templo budista de Tashilunpo, em Lhasa, capital do Tibete. O templo é também a residência oficial do Pachen-lama, a segunda autoridade do budismo tibetano.Os esotéricos afirmam que Jesus não foi o Cristo e sim apenas um ser humano que conseguiu uma consciência crística. Declaram que o Cristo será o "Maitreya". "Maitreya" também é conhecido como o "Cristo Cósmico". Para os cristãos, "Maitreya" será apenas um dos títulos do vindouro Anticristo. Sugerimos a leitura do nosso livro A Nova Era: Um Passo Para a Manifestação do "Maitreya" e da Prostituta Babilônia (Editora Obra Missionária Chamada da Meia-Noite – 1996).
Bibliografia
  1. Cântico espiritual "O Rosto de Cristo", de autoria de Josias Menezes e contido no compact disc "Retorno" de J. Neto. Nancel Produções – Rio de Janeiro, RJ.
  2. Artigo "Jesus and The Den of Thieves", by Tal Brooke, Spiritual Counterfeits Project Journal. Spiritual Counterfeits Project, Inc – Berkeley, California, USA, volume 20:3-4, 1996, página 7.
  3. Rajneesh, Bhagwan Shree, The Rajneesh Bible. Rajneesh Foundation International – Oregon, USA, volume 1, 1985, páginas 9 e10.
  4. Fox, Matthew, The Coming of the Cosmic Christ. Harper and Row – San Francisco, California, USA, 1988, página 164. Cf. Matthew Fox, Whee! We, Wee All the Way Home. Bear Publications – Santa Fe, New Mexico, USA, 1981, página 76.
  5. Artigo "The Cosmic Christ and Planetary Healing: A Look at the New Age Christ of Matthew Fox", by Ron Rhodes, Spiritual Counterfeits Project Journal. Spiritual Counterfeits Project, Inc – Berkeley, California, USA, volume 20:3-4, 1996, página 51.
  6. Prophet, Mark and Elizabeth Prophet, Climb the Highest Mountain. Summit University Press – Los Angeles, California, USA, 1994, página 228.
  7. Id, página 160.
  8. Ibid, páginas 279 e 280.
  9. Trevisan, Lauro, Os Poderes de Jesus Cristo. Editora e Distribuidora da Mente – Santa Maria, RS, 1983, página 55.
  10. Id, página 16.