terça-feira, 29 de junho de 2010

A CONCIÊNCIADO CORPO DE CRISTO

A Consciência do Corpo de Cristo 

Nos assuntos espirituais, o conhecer a doutrina sem ter consciência dela não serve para nada. A vida, mesmo humana ou animal, é bastante difícil de se tocar ou definir. Entretanto, todos podem reconhecê-la por causa do que chamamos de consciência. Sabemos que temos vida dentro de nós por causa das sensações e reações aos estímulos exteriores que ela produz no nosso interior. Assim também é com relação à vida divina dentro de nós. 

Por exemplo, um aspecto da consciência da nova vida de Cristo em nós é a reação ao pecado. Uma pessoa que nasceu de novo não deixa de mentir somente porque outra pessoa lhe disse que é errado mentir; se não houver uma consciência interior, um sentimento de inquietação e tristeza quando mente, ela nunca deixará de mentir, mesmo que tenha conhecimento da doutrina bíblica. O que caracteriza o cristão é ter presente essa consciência da vida, não somente regras externas; aquele que não tem vida e consciência interior não é cristão. 

Com respeito ao Corpo de Cristo é a mesma coisa. Todos os que conhecem o Corpo de Cristo terão a consciência da sua realidade. Se você verdadeiramente viu o Corpo, não apenas como doutrina, mas como uma manifestação coletiva da vida de Jesus na Terra, essa vida é uma experiência e não pode deixar de manifestar-se como uma consciência no seu interior.
De acordo com 1 Coríntios 12.26, a vida do Corpo faz com que o sofrimento ou o regozijo de um membro seja sentido por todos. Ainda que os membros sejam muitos, a vida é uma, e a consciência também é uma. 

Tome como exemplo a pessoa que tem uma perna artificial. Ainda que pareça semelhante à outra perna, ela não tem vida. Portanto, não tem consciência do corpo: quando os outros membros sofrem, essa perna artificial não sente nada. Todos os outros membros têm o mesmo sentimento porque possuem uma vida em comum. Somente a perna artificial não tem esse sentimento, porque não tem vida. 

Não se pode imitar a vida, nem é necessário tentar fazê-lo. Se existe vida, a imitação não é necessária; se não existe vida, ainda assim é impossível imitá-la. A expressão mais distintiva da vida é sua consciência de si mesma, o dar-se conta dela. Portanto, um cristão que vê a vida do Corpo terá inevitavelmente a consciência do Corpo, junto com os outros membros.
Consciência do Corpo e Sectarismo 

Alguém que tem visto o Corpo de Cristo, e que por conseguinte possui a consciência do Corpo, sente-se destroçado por dentro quando faz algo que pode causar dissensão ou dividir os filhos de Deus; porque ele ama todo o que pertence a Deus e não pode dividir seus filhos. 

O amor é natural ao Corpo de Cristo, enquanto que a divisão lhe é estranha; não importa por quantas razões levante-se uma mão contra a outra, é impossível para elas romperem a relação entre as duas: a divisão é simplesmente impossível. 

Por essa razão, demo-nos conta de que todo espírito sectarista, toda atitude que leva à divisão, toda ação exterior ou pensamento interior que divide os filhos de Deus são sinais evidentes de não se conhecer o Corpo de Cristo. 

Consciência do Corpo e Individualismo 

Uma verdadeira visão do Corpo de Cristo nos resgatará do sectarismo; também nos resgatará do eu e do individualismo. Quão triste é que o princípio de vida de muitos não seja o Corpo, mas o indivíduo! 

Podemos descobrir esse princípio do individualismo em muitas esferas. Por exemplo, em uma reunião de oração, alguém pode orar só por sua conta, pois não consegue orar com os demais. Seu corpo físico pode estar ajoelhado junto com os demais, entretanto sua consciência está limitada ao seu próprio ser. Quando ele ora, quer que os demais o escutem; porém quando os demais oram, ele não os escuta. Ele não tem nenhuma resposta interior à oração do outro e é incapaz sequer de acrescentar um ‘amém’. 

Sua consciência está desconectada da consciência dos demais. Portanto, ele ora suas próprias orações e deixa que os outros orem as orações deles. Não parece haver nenhuma relação entre suas orações e as dos demais. Quando ele chega à reunião, parece vir só com o propósito de pronunciar as palavras que estão dentro dele e, depois, sente que sua tarefa terminou. Ele não se importa com o encargo da oração e nem com a consciência que os demais têm desse encargo. Esta é a regra do individualismo, não o princípio do Corpo. De fato, ele não tem visto o Corpo e, portanto, não pode cooperar com os demais diante de Deus. 

Às vezes, três ou cinco, ou até mesmo dez ou vinte irmãos, em uma reunião, falam, cada um deles, somente daquilo que afeta a si mesmos, sem se mostrarem interessados pelos assuntos do próximo e nem por escutar o que os demais pensam. Ou, pode ser que, enquanto você ou outro irmão estejam juntos com essa pessoa, ela fale animadamente de algo que lhe afeta durante um bom tempo; porém, quando você ou os outros tomarem a palavra, ela apenas escuta, sem demonstrar tanto ânimo. 

Em coisas tão pequenas como essas, você pode ver se uma pessoa realmente tem discernido o Corpo de Cristo. 

A praga do individualismo pode crescer desde o simples fato de expressar o individualismo de uma só pessoa até expressar o individualismo de um grupo de várias pessoas. Você pode ter notado que na igreja poderá haver três ou cinco pessoas, quem sabe até oito ou nove pessoas, que formarão um círculo pequeno. Só esses poucos pensam o mesmo e “amam-se” uns aos outros. Eles não se enquadram com os demais irmãos ou irmãs. Isso indica que eles tampouco têm percebido o Corpo de Cristo. 

A Igreja é uma, ela não pode ser dividida. Se uma pessoa realmente tem conhecido o Corpo, não pode reconhecer nenhum tipo de individualismo; ela não pode fazer parte de nenhuma facção ou círculo pequeno. 

Se você tem experimentado genuinamente o Corpo de Cristo, terá consciência de que algo vai mal cada vez que começa a mostrar o seu individualismo, e por certo lhe será impossível seguir. Ou, se não, ao você ou vários outros darem um passo equivocado, essa consciência do Corpo lhes recordará que assim vocês se desconectam dos outros filhos de Deus e, dessa forma, ela impedirá vocês de seguirem. Existe algo dentro de você que o freia, que lhe fala, admoesta, adverte ou põe obstáculos. Essa consciência da vida pode nos evitar toda mancha de tendência para divisão. 

Consciência do Corpo e Trabalho Independente 

Se tivermos consciência do Corpo, compreenderemos imediatamente que o Corpo é um. Desse modo, aquele que está envolvido na obra espiritual não pode ser individualista. 

Segundo o que pensam algumas pessoas, o importante é deixar a impressão de suas mãos sobre as coisas; de outra forma, considera que essas coisas não servem de nada. Tudo o que ele faz é considerado como de valor espiritual; e tudo o que não é ele quem faz não tem valor nenhum. Quando ele prega e ninguém é salvo, sente-se deprimido. Quando prega e as pessoas são salvas, mostra-se agradavelmente surpreendido. Isso ocorre porque considera a obra como sua obra pessoal. 

Porém, no momento em que os filhos de Deus percebem a unidade do Corpo, compreendem imediatamente a unidade da obra. No instante em que vêem que o Corpo é um, são resgatados de seus esforços individuais, visto que agora estão vendo que a obra é do Corpo. Isso não significa que a pessoa já não pode agir como indivíduo. Mas simplesmente significa que já não pode considerar a obra como sua propriedade exclusiva. Tanto se a obra é feita por ele ou não, isso não o preocupa mais; o que o preocupa agora é que a obra seja feita. 

Quanto necessito dar-me conta de que eu não posso ser senão um pequeno vaso na obra; eu não posso monopolizá-la. Não posso atrever-me a considerar a obra e o que resulta dela como coisas minhas. Se insisto em que tudo tem de ser feito por mim, então não tenho compreendido o Corpo. No momento em que capto o Corpo, dou-me conta de que tanto o meu labor como o de outros são de proveito tanto para mim como para o Corpo. E que toda a glória seja do Senhor e todas as bênçãos da Igreja. 

Visto que o Corpo é um, pouco importa se a obra é feita por ele ou por outros. Tanto se a obra é sua como se é de outros, toda glória vai para o Senhor e todas as bênçãos vão para a Igreja. Se alguém vê o Corpo de Cristo, haverá nele de maneira natural esta consciência: Que o Corpo é um, e que por conseguinte a obra é uma. 

Texto extraído do livro “O Corpo de Cristo: Uma Realidade”, Watchman Nee, Editora dos Clássicos
por Watchman Nee
Postado por Roberto
Fonte: Revista Impacto
Abraço

O PROPÓSITO DA VIDA

O Propósito da Vida 

O texto a seguir foi compilado a partir de várias entrevistas dadas por Rick Warren em 2003 e 2004. Rick Warren é autor de “Uma Igreja Com Propósitos” e “Uma Vida com Propósitos” (ambos Editora Vida), entre outros, e pastor fundador da Igreja Comunitária de Saddleback Valley, em Lake Forest, Califórnia, EUA, que tem uma freqüência de mais ou menos 22.000 pessoas por semana. O livro “Uma Vida com Propósitos” já vendeu mais de 25 milhões de cópias em 28 idiomas. 

As pessoas me perguntam: “Qual é o propósito da vida?”, e eu respondo: “Em síntese, a vida é a preparação para a eternidade”. Fomos criados para durar para sempre, e Deus quer que estejamos com ele no céu. Um dia meu coração vai parar, o que significa o fim do meu corpo – mas não o fim da minha existência.

Pode ser que eu viva de 60 a 100 anos na Terra, contudo vou passar trilhões de anos na eternidade. Isto aqui é apenas o aquecimento – uma espécie de ensaio geral. Deus quer que pratiquemos na Terra as coisas que vamos fazer para sempre na eternidade. Fomos feitos por Deus e para Deus e, enquanto não percebermos isso, a vida nunca terá muito sentido para nós.

A vida é uma seqüência de problemas: ou você está no meio de um problema agora, ou acabou de sair de um, ou está se preparando para enfrentar mais um. O motivo para isto é que Deus está mais interessado no seu caráter do que no seu conforto.

Deus está mais interessado em fazer a sua vida santa do que em fazê-la feliz.

Podemos até viver razoavelmente felizes aqui na Terra, mas este não é o objetivo da vida. O alvo é crescer no nosso caráter, sermos cada vez mais semelhantes a Cristo. Este último ano foi o melhor ano da minha vida, mas também foi o mais difícil, porque foi quando descobrimos que minha esposa, Kay, estava com câncer.

Eu costumava pensar na vida como uma seqüência de montanhas e vales: depois de um tempo de escuridão, você vai até o topo da montanha, sobe, desce, sobe, desce. Mas não creio mais nisso.

Agora, ao invés de compará-la a montanhas e vales, creio que a vida parece mais os dois trilhos numa estrada de ferro: em todo tempo, você tem algumas coisas boas (um dos trilhos) e algumas coisas ruins (o outro trilho) andando juntas na sua vida. Não
importa quantas coisas boas estão acontecendo em sua vida, sempre há algo ruim que precisa de atenção para ser corrigido. E não importa o quanto as coisas estão indo mal em sua vida, sempre existe algo bom pelo qual pode ser grato a Deus.

Você pode colocar seu foco nos seus propósitos ou nos seus problemas. Se você se concentrar nos problemas, vai entrar num círculo de egocentrismo: “meus problemas, meus interesses, minhas dores”. Mas a maneira mais fácil de se ver livre da dor é tirar seus olhos dos seus próprios problemas e colocá-los em Deus e em outras pessoas.

Nós descobrimos rapidamente que, mesmo com as orações de centenas de milhares de pessoas, Deus não ia curar Kay ou tornar as coisas mais fáceis para ela. De fato, tem sido uma experiência muito difícil para ela, entretanto Deus tem fortalecido o seu caráter e lhe dado um ministério de ajuda às outras pessoas. Deu-lhe um testemunho e a trouxe para mais perto de si mesmo e das outras pessoas.

É preciso aprender a viver com ambos, o bom e o ruim da vida. Na verdade, às vezes aprender a lidar com o bom é mais difícil. Por exemplo, no ano passado, de repente, quando o livro (Uma Vida Com Propósitos) vendeu 15 milhões de cópias, de uma hora para outra, fiquei muito rico.

O sucesso nas vendas trouxe-me uma notoriedade com a qual nunca antes tivera que lidar. Não creio que Deus dê dinheiro ou fama para o próprio ego de uma pessoa ou simplesmente para que ela viva uma vida tranqüila.

Por isso, comecei a perguntar para Deus o que ele queria que eu fizesse com todo esse dinheiro, fama e influência. Ele meu deu duas passagens bíblicas que me ajudaram a saber  o que fazer. A primeira, em 1 Coríntios 9, é uma passagem em que Paulo afirma que os que pregam o evangelho devem ser sustentados pelo evangelho. Apesar desse direito, garantido pelas Escrituras, Paulo afirmou que não usaria dele, para poder servir a Deus livremente e não ser escravo de ninguém.

Depois, em relação à influência, Deus me levou a uma oração de Salomão no Salmo 72. Ao ler esse salmo, pode parecer que estamos diante de uma oração egoísta. Salomão já era o homem mais sábio, mais rico e mais influente no mundo. No entanto, ele queria que Deus o tornasse ainda mais poderoso e mais influente. Mas, ao continuar lendo o salmo, você percebe que ele deseja isso para poder acudir aos necessitados, defender os aflitos e julgar os fracos e oprimidos com justiça – ou seja, para cuidar dos marginalizados pela sociedade.

Entendi que Deus estava me mostrando que o propósito da influência é ser uma voz para aqueles que não têm influência. Foi um ponto de virada para mim. Tive que me arrepender e admitir que viúvas e órfãos nem figuravam entre meus objetivos até então. Agora Deus estava me dizendo: “Estou lhe dando uma plataforma para poder representar aqueles que não têm influência alguma”.

Ao mesmo tempo, Deus estava abalando a vida de Kay com uma reportagem sobre os órfãos de Aids na África. Enquanto ela lia, Deus lhe disse: “Você pode se abrir e deixar que seu coração seja partido – ou pode fechar o coração e não ser usada por mim”. Ela decidiu se abrir e usar tudo que tinha ao seu alcance para as pessoas afetadas por AIDS.

Quando ela veio compartilhar sua visão comigo, minha primeira reação foi: “Querida, que maravilhoso! Estou muito feliz por você e por sua visão. Você me apoiou na minha visão de começar a Igreja Saddleback, e eu vou apoiar você nessa sua visão. Mas não é minha visão”.

Porém, aos poucos, à medida que ela conversava comigo, meu coração começou a ser conquistado – e partido. Depois, eu a acompanhei numa viagem para a África. Visitei um pastor e sua igreja numa pequena vila no interior. Só havia uma tenda, com 50 adultos e 25 crianças, orfanadas pela AIDS. Quando vi a situação lá e o quanto estavam fazendo com tão pouco, algo rompeu dentro de mim. Saí à noite, debaixo do céu africano, e disse: “Deus, vou dar o resto da minha vida em favor de homens como esse que estão lutando contra tamanhos desafios. O Senhor é glorificado quando enfrentamos os maiores problemas”.

Diante de tudo isso, tomamos quatro decisões:

Primeiro, apesar de todo o dinheiro que estava chegando, decidimos não mudar nada no nosso estilo de vida. Não fizemos nenhuma grande aquisição.

Segundo, no meio do ano passado, parei de aceitar um salário da minha igreja.

Terceiro, começamos a lançar fundamentos para viabilizar uma iniciativa chamada The Peace Plan (plano de paz), que tem cinco objetivos: implantar igrejas, equipar líderes, ajudar os pobres, cuidar dos enfermos e educar a próxima geração.

Quarto, calculei todas as quantias que a igreja me pagara nos últimos 24 anos (desde a sua fundação) e devolvi TUDO. Que liberdade eu senti em poder servir a Deus de forma totalmente voluntária!

Precisamos perguntar a nós mesmos: estou vivendo para acumular bens materiais? Para ser popular? Estou sendo movido por pressões? Por culpa? Por amargura? Por materialismo? Ou decidi ser movido pelos propósitos de Deus (para minha vida)?

Quando acordo de manhã, fico sentado no lado da minha cama e digo: “Deus, se não conseguir realizar mais nada hoje, tudo bem. Só quero te conhecer mais e te amar mais”.

Deus não me colocou nesta Terra para completar uma lista de coisas a fazer. Ele está muito mais interessado no que eu sou do que no que eu faço. É por isso que somos chamados de SERES humanos e não FAZERES humanos.




 
por Rick Warren
Postado por Roberto 
Fonte: Revista Impacto
Abraço

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ÉTICA PURITANA DO TRABALHO

Ética Puritana do Trabalho 
Mesmo as pessoas que sabem pouco sobre os Puritanos usam a frase “ética Puritana do trabalho” com confiança. Para a maioria, entretanto, é simplesmente um rótulo de múltiplo alcance para cobrir toda uma classe de males correntes: a síndrome do vício de trabalhar, trabalho escravizador, competitividade, culto do sucesso, materialismo e o culto da pessoa auto-realizada.

O "Background": Divisão Entre Sagrado e Secular

Para entender as atitudes Puritanas em relação ao trabalho, devemos ver o pano de fundo contra o qual estavam reagindo. Durante séculos, foi costume dividir tipos de trabalho nas duas categorias, “sagrado” e “secular”. O trabalho sagrado era realizado por membros de uma profissão religiosa. Todos os outros tipos de trabalho carregavam o estigma de serem seculares.

Esta divisão entre o trabalho sagrado e o secular pode reportar-se ao Talmude Judaico. Uma das orações, obviamente escrita do ponto de vista do escriba, é como segue:
Eu te agradeço, ó Senhor, meu Deus, por me haveres dado minha porção com aqueles que se assentam à casa do saber, e não com aqueles que se assentam pelas esquinas das ruas; pois eu cedo trabalho, e eles cedo trabalham; eu cedo labuto nas palavras da Torah, e eles cedo labutam nas coisas sem importância. Eu me afadigo, e eles se afadigam; eu me afadigo e lucro com isso, e eles se afadigam sem beneficio. Eu corro, e eles correm; eu corro em direção à vida por vir, e eles correm em direção ao abismo da destruição.
A mesma divisão de trabalho em categorias de sagrado e secular tornou-se uma característica principal do catolicismo romano medieval. A atitude foi formulada já no quarto século por Eusébio, que escreveu:
Dois modos de vida foram dados pela lei de Cristo à sua igreja. Um está acima da natureza e além do viver humano comum... Inteira e permanente­mente separado da vida habitual comum da humanidade, dedica-se somente ao serviço de Deus... Tal é então a forma perfeita da vida cristã. E o outro, mais humilde, mais humano, permite aos homens... ter mentalidade para a lavoura, para o comércio e os outros interesses mais seculares do que a religião... E um tipo de grau secundário de piedade é atribuído a eles.
Esta dicotomia sagrado-secular foi exatamente o que os Puritanos rejeitaram como ponto de partida para sua teoria do trabalho.

A Santidade de Todos os Tipos Legítimos de Trabalho

Foi Martinho Lutero, mais do que qualquer outro, que derrubou a noção de que clérigos, monges e freiras engajavam-se em trabalho mais santo do que a dona de casa e o comerciante. Calvino rapidamente acrescentou seu peso ao argumento.

Como os reformadores, os Puritanos igualmente rejeitaram a dicotomia sagrado-secular. William Tyndale disse que se olhamos externamente “há uma diferença entre lavar louças e pregar a palavra de Deus; mas no tocante a agradar a Deus, nenhuma em absoluto”. Essa rejeição da dicotomia entre trabalho sagrado e secular teve implicações de longo alcance.

Primeiro, considera toda tarefa de valor intrínseco e integra toda vocação com a vida espiritual de um cristão. Torna todo trabalho con­seqüencial, fazendo-o arena para glorificação e obediência a Deus e expressão do amor pessoal (através do serviço) ao seu próximo.

A convicção Puritana quanto à dignidade de todo trabalho tem também o importante efeito de santificar o comum. John Cotton disse isto sobre a habilidade da fé cristã de santificar a vida e o trabalho comuns:

A fé... encoraja um homem em seu chamado por mais simples e difícil que seja... A tais empregos simples um coração carnal não sabe como submeter-se; mas agora a fé havendo-nos convocado, se requer algum emprego simples, encoraja-nos nele. Assim a fé dispõe-se a abraçar qualquer serviço sim­ples que faz parte do seu chamado, no qual um coração carnal ficaria envergonhado de ser visto.

William Perkins declarou que as pessoas podem servir a Deus “em qualquer espécie de chamado, embora seja apenas varrer a casa ou guardar ovelhas”. Nathaniel Mather disse que a graça de Deus “espiritualiza toda ação”; mesmo as mais simples, como “um homem amar sua mu­lher e filho”, tornam-se “atos graciosos”, e o “seu comer e beber são atos de obediência e, portanto, acham-se em grande conta aos olhos de Deus”.

Os Puritanos revolucionaram as atitudes em relação ao trabalho diário quando levantaram a possibilidade de que “cada passo e aspecto do seu ofício é santificado”. O objetivo era servir a Deus, não simplesmente no trabalho no mundo, mas através do trabalho.

O Conceito Puritano de Chamado

Uma segunda forte afirmação dos Puritanos, além de declarar a santidade de todos os tipos de trabalho, foi que Deus chama cada pessoa para a sua vocação. Todo cristão, diziam os Puritanos, tem um chamado (1 Co 7.17). Segui-lo é obedecer a Deus. O efeito importante desta atitude é que ela torna o trabalho uma forma de corresponder a Deus.

Para começar, a ênfase Puritana em tais doutrinas como Eleição e Providência tornou fácil afirmarem que cada pessoa tem um chamado em relação ao trabalho. William Perkins, em seu clássico Treatise of The Vocations or Callings of Men (Tratado de Vocações ou Chamados dos Homens), escreveu:

Uma vocação ou chamado é um certo tipo de vida, ordenado e imposto ao homem por Deus, para o bem comum... Toda pessoa de todo grau, estado, sexo ou condição, sem exceção, deve ter algum chamado pessoal e particular em que caminhar.
Um efeito do conceito Puritano de chamado é fazer do trabalhador um mordomo que serve a Deus. Deus, de fato, é aquele que designa às pessoas as suas tarefas. Nesta perspectiva, o trabalho deixa de ser impessoal. Além do mais, sua importância não repousa em si; o trabalho é antes um meio pelo qual uma pessoa vive sua relação pessoal com Deus.

Um outro resultado prático da doutrina do chamado cristão é que leva ao contentamento pessoal no trabalho. Cotton Mather escreveu que:
um cristão deveria seguir sua ocupação com contentamento... É o favor singular de Deus a um homem que este possa atender à sua ocupação com contentamento e satisfação... Seu negócio neste assunto está entravado com quaisquer dificuldades ou inconveniências? O contentamento sob essas dificuldades não é parte pequena da sua homenagem àquele Deus que o colocou onde você está.

Se todos têm um chamado, como as pessoas podem saber para o quê foram chamadas? Os Puritanos desenvolveram uma metodologia para determinar seu chamado; não mistificaram o processo. Richard Steele, de fato, declarou que Deus raramente chama as pessoas diretamente “nos últimos dias”, e que qualquer um que alega ter tido uma revelação de Deus “deve produzir dons e qualificações extraordinárias, a menos que não passe de presunção e engano”.

Os Puritanos preferiam confiar em tais coisas como “os dotes e inclinações internos”, “circunstâncias externas que podem levar... a um curso de vida em vez de outro”, o conselho de “pais, guardiões e, em alguns casos, magistrados”, e “a natureza, a educação e os dons... adquiridos”. Eles também criam que se as pessoas estivessem no cha­mado certo, Deus as equiparia para realizar seu trabalho: “Quando Deus me convoca para uma posição, ele me dá alguns dons para aquela posição”.

Sobre o assunto de escolha da vocação, Milton, que desde a infância teve um forte cha­mado para ser poeta, escreveu que “a natureza de cada pessoa deveria ser especialmente observada e não desviada noutra direção, porque Deus não pretende todas as pessoas para uma só coisa, mas cada uma para seu próprio trabalho”.

Os Puritanos acreditavam na lealdade a um chamado. Uma vocação não era para ser assumida nem abandonada levianamente. Enquanto os Puritanos em geral não criam que uma pessoa nunca pudesse legitimamente mudar de ocupação, eram claramente cautelosos quanto à prática. William Perkins falou de “uma perseverança nos bons deveres” e alertou contra “ambição, inveja, impaciência”, acrescentando que “a inveja... quando vemos outros co­locados em melhores chamados e condições do que nós... é um pecado comum, e a causa de muita dissensão na comunidade”.
Para resumir, a idéia Puritana de chamado cobria um conjunto de idéias correlatas: a providência de Deus em arranjar tarefas humanas, trabalho como resposta de um mordomo a Deus, contentamento com as tarefas pessoais e lealdade à vocação pessoal. Estas idéias foram ad­miravelmente captadas na exortação de John Cotton de “servir a Deus no seu chamado, e fazê-lo com regozijo, fidelidade e uma mentalidade celeste”.

A Motivação e as Recompensas do Trabalho

Desde a época em que Benjamin Franklin proferiu seus provérbios experientes sobre a riqueza como o objetivo do trabalho até nosso próprio século, quando gigantes industriais têm reivindicado que o seu sucesso era prova de que eram os eleitos de Deus, nossa cultura tem visto o trabalho primordialmente como o caminho para as riquezas e posses. Essa ética do trabalho secularizada tem sido atribuída aos Puritanos e a seu precursor Calvino, e tem sido aceita como um axioma de que a ética Puritana baseia-se na riqueza como a recompensa máxima pelo trabalho e a prosperidade como um sinal de santidade.

Mas é nisso que os Puritanos realmente criam? As recompensas do trabalho, de acordo com a teoria puritana, eram morais e espirituais, isto é, o trabalho glorificava a Deus e beneficiava a sociedade. Ao ver o trabalho como uma mordomia para com Deus, os Puritanos abriram o caminho para uma nova concepção das recompensas do trabalho, como no comentário de Richard Steele: “Vocês trabalham para Deus, que certamente os recompensará para contentamento do seu coração”. Que essas recompensas eram primariamente espirituais e morais é abundantemente claro nos comentários Puritanos.

William Perkins afirmou que:

o principal fim das nossas vidas... é servir a Deus no serviço aos homens nos afazeres de nossos chamados... Alguns homens talvez dirão: O quê, não devemos labutar nos nossos chamados para manter nossas famílias? Respondo: isso deve ser feito; mas esse não é o escopo e a finalidade de nossas vidas. A verdadeira finalidade de nossas vidas é prestar serviço a Deus no serviço ao homem.

Quanto às riquezas que devem vir do trabalho, elas “podem nos capacitar para aliviarmos nossos irmãos ne­cessitados e promover boas obras para a igreja e o Estado” (Richard Baxter).

De acordo com John Cotton, “a fé não pensará que teve um chamado satisfatório a menos que sirva não somente para seu próprio proveito, mas também para o proveito de outros homens” .

O que é notável com respeito a tais frases é a integração entre Deus, a sociedade e o “ego” que convergem no exercício do chamado pessoal. O interesse próprio não é totalmente negado, mas é definiti­vamente minimizado nas recompensas do trabalho.

Ao manter sua visão dos fins morais e espirituais do trabalho, os Puritanos extraíram a conclusão lógica de que esses mesmos objetivos deveriam governar a escolha pessoal de uma vocação. Richard Baxter instou:

Escolha aquele emprego ou chamado no qual você pode ser mais útil a Deus. Não escolha aquele no qual possa ser mais rico ou ilustre no mundo, mas aquele no qual possa fazer maior bem e melhor escapar de pecar. Quando dois chamados igualmente conduzem ao bem público, e um deles tem a vantagem das riquezas, e o outro é mais vantajoso à alma, o último deve ser preferido.

O complemento desta ênfase nas recompensas morais e espirituais do trabalho é a freqüente denúncia de pessoas que usam o trabalho para gratificar ambições egoístas. Contrário ao que muitos pensam, a idéia da pessoa “auto-realizada” não atraía os Puritanos, se por “auto-realizada” ­queremos dizer pessoas que alegam ter sido bem-sucedidas por seus próprios esforços e que ostensivamente gratificam suas inclinações materialistas com o dinheiro que ganham.

Baxter falou desdenhosamente da auto-exaltação: “Cuidem para que, sob a pretensão de diligência no seu chamado, não sejam inclinados à mentalidade terrena e a cuidados excessivos ou cobiçosos planos de prosperar no mundo”. “Cada homem por si, e Deus por nós todos”, escreveu Perkins, “é vil e diretamente contra o propósito de todo chamado”. Ele, então, acrescentou:
Profanam suas vidas e chamados os que os aplicam à aquisição de honras, prazeres, benefícios, comodidades do mundo etc., pois assim vivemos para outro fim diferente do que Deus indicou, e desse modo servimos a nós mesmos, e, por conseguinte, nem servimos a Deus nem aos homens.


Sucesso é Bênção de Deus, Não Algo Conquistado

O Puritanismo e o calvinismo mais comumente consideravam o trabalho como o meio pelo qual as pessoas conquistam seu próprio sucesso e riqueza? É normalmente afirmado que sim, mas procuro em vão pela substanciação da afirmativa. O calvinismo não ensina uma ética de autoconfiança, como ensina nossa ética moderna do trabalho. É, ao contrário, uma ética da graça: quaisquer recompensas tangíveis advindas do trabalho são o dom da graça de Deus.

Calvino mesmo havia negado que o sucesso material é sempre o resultado do trabalho. Era Benjamin Franklin, e não os primeiros protestantes, que tinha a confiança que “cedo dormir e cedo levantar tornam um homem saudável, abastado e sábio”.

De acordo com George Swinnock, o homem de negócios bem-sucedido nunca pode dizer que seus próprios esforços foram responsáveis pelo seu sucesso; muito embora os humanos façam a sua parte ativa, “não há a menor roda na engrenagem da natureza que não dependa de Deus para seu movimento a cada instante”.

É verdade que o estilo de vida Puritano, uma mistura de diligência e frugalidade, tendia a fazer as pessoas relativamente prósperas, ao menos parte do tempo. A coisa importante, porém, é como os Puritanos viam sua riqueza. A atitude Puritana era de que riqueza era um bem social, não uma propriedade pessoal – um dom de Deus, não o resultado de esforço humano somente ou um sinal da aprovação de Deus.

Na ética Puritana, a virtude de trabalho dependia quase completamente dos motivos pelos quais as pessoas o realizavam.

Moderação no Trabalho

Uma última herança que os Puritanos legaram na sua visão de trabalho foi a necessidade de um senso de moderação. Eles tentaram em teoria manter uma posição intermediária entre os extremos da ociosidade ou preguiça por um lado e escravismo ao trabalho por outro. Na prática, possivelmente erraram na direção do excesso de trabalho.

Há um ponto no qual a moderna interpretação da ética Puritana está correta – que os Puritanos escarneciam do ócio e louvavam a diligência. Baxter expôs sua rudeza usual na questão da ociosidade: “É suíno e pecaminoso não trabalhar”. Robert Bolton chamou a ociosidade de “a própria ferrugem e o câncer da alma”.

Mesmo a “espiritualidade” não era desculpa alguma para a ociosidade na visão dos Puritanos. Thomas Shepard tinha o seguinte conselho para um zelote religioso que reclamava que os pensamentos religiosos o distraíam enquanto estava no trabalho:

Como é pecado nutrir pensamentos mundanos quando Deus lhe designou um trabalho em empregos espirituais e celestiais, assim é, em alguns aspectos, tão grande pecado fazer-se distrair por pensamentos espirituais quando Deus lhe põe a trabalhar em empregos... civis.

Parte da repulsa Puritana contra a ociosidade por um lado e o louvor ao trabalho por outro era a convicção de que o trabalho era uma ordenança da criação e, portanto, uma necessidade para o bem-estar humano. “Adão na sua inocência tinha todas as coisas à sua disposição”, escreveu William Perkins, “no entanto, Deus o ocupou num chamado”.

Mas a ética Puritana não levaria inevitavelmente à síndrome do trabalho excessivo? Não, de acordo com os Puritanos. Eles tentaram equi­librar sua diligência com restrições definidas contra o excesso de trabalho. “Cuidado com muitos negócios ou com o planejá-lo demais ou desordenadamente”, advertiu John Preston. Philip Stubbes advertiu que “todo cristão está comprometido pela cons­ciência diante de Deus” a não permitir que “seus cuidados imoderados” ultrapassem “os limites da verdadeira santidade”.

Sobre o assunto de “fazer bicos”, Richard Steele alegou que uma pessoa não deve “acumular dois ou três chamados meramente para aumentar suas riquezas”.

Trabalhar com zelo, mas não dar sua própria alma pelo trabalho era aquilo pelo que lutavam. John Preston expressou-se desta forma:
Você deve lidar com as coisas no mundo e não se corromper por elas, tendo afeições puras, mas quando você tem cobiça desordenada por qualquer coisa, então ela profana seu espírito.

Sumário

Para um resumo da doutrina de trabalho dos Puritanos, fazemos bem em voltar ao épico de John Milton, Paradise Lost (Paraíso Perdido). Milton incorporou muito do que os Puritanos criam sobre o trabalho em seu retrato da vida de perfeição de Adão e Eva, no Jardim do Éden. Milton repetidamente enfatizou que o trabalho no Paraíso não era apenas agradável, mas também necessário.

Não há melhor sumário da ética Puritana do trabalho do que estas palavras de Adão para Eva em Paradise Lost:
O homem tem seu trabalho diário de corpo ou mente
Designado, o que declara sua dignidade,
E a estima do céu em todos os seus caminhos.

Podemos vislumbrar aqui a crença Puritana sobre Deus como aquele que chama as pessoas a realizar tarefas, sobre a dignidade do trabalho, sobre como a atitude apropriada dirigida aos objetivos do trabalho pode transformar toda tarefa em atividade sagrada.

Extraídos de "Santos no Mundo - Os puritanos como realmente eram", Leland Ryken, Editora Fiel, 1992

por Leland Ryken
Postado por Roberto
Fonte Revista Impacto
Abraço

ESPOSA COM PROPÓSITO

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Kay Warren estava acostumada a viver como uma “mãezona” suburbana. Agora está engajada numa luta global contra a AIDS e no cuidado dos soropositivos em sua própria localidade. O que é que abalou o seu confortável mundo de classe média?

Em 2002, aos 48 anos e esposa de Rick Warren, autor do best-seller Uma Vida Com Propósitos (Ed.Vida, 2002) e pastor da mega-igreja Saddleback, no sul da Califórnia, Kay era uma “mãezona” de três filhos superocupada, que sonhava, quando o seu ninho esvaziasse, em compartilhar a plataforma com Rick e ministrar a esposas de pastores.

Certo dia, Kay pegou uma revista de atualidades, e um artigo sobre AIDS deixou-a atônita. Ao ler que havia 12 milhões de crianças órfãs na África por causa da AIDS, ela se deu conta de que não conhecia um único órfão. “Não podia imaginar que houvesse milhões deles em qualquer lugar”, admite ela. “Aquele número me assombrou. Minha vida nunca mais foi a mesma.”

Desde aquele “momento divinamente ordenado”, Kay, agora aos 52, se tornou uma mulher com uma missão. Apesar de ter passado por um tratamento para câncer de mama em 2003, nos quatro últimos anos Kay já visitou a África cinco vezes, além de mais seis outros países. Rick, com quem ela comemorou o seu 31° ano de casamento em junho de 2006, se contagiou com a paixão de Kay pelo ministério da HIV/AIDS e, juntos, eles e mais algumas equipes leigas da igreja Saddleback e de outras igrejas com propósitos viajam além-mar para trabalhar com líderes de igrejas locais, líderes políticos e homens de negócios com o fim de combater a pandemia de AIDS. Eles esperam que mais igrejas e pessoas se envolvam pessoalmente.

Mas a missão de Kay não é somente global; ela está igualmente apaixonada por ministrar a pessoas soropositivas na sua própria comunidade. Com esta finalidade, em novembro passado, Kay iniciou a primeira conferência internacional patrocinada pela igreja Saddleback chamada Disturbing Voices (Vozes Perturbadoras), com o objetivo de criar uma conscientização dentro do Corpo de Cristo sobre as necessidades urgentes de ministrar às pessoas portadoras do vírus HIV.

TCW (Today’s Christian Woman – uma revista do grupo Christianity Today) procurou a Kay para descobrir por que ela mudou de mãezona suburbana para ativista social – e o que nós podemos aprender de sua transformação.

Você já se perguntou se conseguiria fazer alguma diferença mensurável, por mínima que fosse, numa questão tão imensa quanto a AIDS?

É claro. Mas no dia em que li aquele artigo sobre a África, eu experimentei a minha própria Estrada de Damasco. Uma realidade fora da minha brilhou fortemente no meu caminho e me cegou. Depois daquilo, eu fui dormir pensando naqueles 12 milhões de crianças; acordei pensando nelas. O Senhor e eu começamos um diálogo particular. Eu disse: Isto não pode ser verdade. Porque se fosse, então eu teria que fazer alguma coisa a respeito. Mas não há nada que eu possa fazer!

Um mês depois, compreendi que eu tinha de tomar uma decisão: ou eu continuaria a seguir em frente com os meus planos, ou deixaria que o meu coração se envolvesse nesta tão grande necessidade. Senti que não conseguiria encarar Deus naquele dia quando ele viesse me perguntar: “O que você fez a respeito daqueles 12 milhões de crianças de quem eu lhe falei?” Como é que eu poderia responder: “Oh, aquilo era tão triste. Mas eu tinha tantas outras boas coisas na minha agenda. Eu sinto muito, sinceramente, mas não deu tempo de tratar desse problema. Espero que o Senhor entenda”.

A verdade é que ele não “entende” – nem eu podia entender. Decidi me envolver. Foi aí que Deus quebrou o meu coração em um milhão de pedaços, e me tornei o que chamo de uma mulher “seriamente perturbada”.

O que você começou a fazer?

Comecei a ler, assistir a vídeos, falar com qualquer pessoa que soubesse alguma coisa a respeito de HIV. Depois de oito meses fazendo isso, percebi que precisava de mais. Fora através da África que Deus cativara meu coração; então resolvi ir para lá. O primeiro país que visitei foi Moçambique, a convite de uma organização de assistência cristã.

Como aquela primeira visita impactou você?

Nada na nossa vida nos Estados Unidos me preparou para a África rural. Absolutamente nada. Até o mais pobre dos pobres aqui vive muito melhor do que a maioria das pessoas no resto do mundo.

Uma das primeiras mulheres que conheci foi Joana. Ela era magra como um palito, atormentada por uma diarréia implacável, abandonada sem lar debaixo de uma árvore, para morrer de AIDS. Joana estava tão fraca que não podia nem mesmo se arrastar para me cumprimentar. Então a tia dela pegou-a no colo e a colocou num pedaço de plástico na minha frente. Jamais esquecerei a Joana ajuntando cada grama de força e dignidade que ainda possuía para se pôr de pé, estender a sua mão e me cumprimentar.

Eu não podia dizer a Joana que ela seria curada ou que eu lhe daria um teto por sobre a sua cabeça. Mas eu pude oferecer a minha presença, e com a minha presença, a presença de Jesus. E pude lhe oferecer a esperança do céu. Eu nunca, nunca esquecerei a Joana. É por isso que a fotografia dela está na parede do meu escritório. Para mim a AIDS tem um rosto. É o rosto de Joana.

O que aconteceu depois que você voltou?
Se quando parti eu estava seriamente perturbada, voltei gloriosamente arruinada. Não dava mais para viver do jeito que eu vivia. Eu não tinha mais os mesmos valores. Mas estou constrangida em dizer que enquanto eu voava de volta para casa, meus pensamentos estavam voltados para o fato de que os pastores e as igrejas na África não estavam fazendo o suficiente para resolver o problema. Então Deus claramente me perguntou: Quando foi a última vez que você se preocupou com qualquer pessoa portadora de HIV na sua comunidade? A resposta foi “nunca”.

Imediatamente, Deus me mostrou a minha hipocrisia; eu estava me preocupando com gente bem distante, mas não com as pessoas soropositivas na minha própria igreja. Tenho vergonha em admitir que eu era cheia de temores e de preconceito. Tive que superar vários mitos, incluindo aquele de que AIDS na América era uma doença de homens homossexuais.

E daí que fosse somente uma “doença gay”? É assim que os cristãos começam a rotular as pessoas. Há “vítimas inocentes” – um bebê que nasce de uma mãe soropositiva, uma mulher infectada pelo seu cônjuge – e os perpetradores – um homem gay, um marido infiel. Por que é que um grupo parece merecer mais amor e compaixão?

Como é que nós ousamos pretender que o nosso pecado seja merecedor da graça de Deus, mas o de outro alguém não? Quando vejo listas de pecados nas Escrituras, eles estão agrupados em uma só classe. Pecado é ser arruinado. É ir contra Deus. A Palavra de Deus diz que se quebrarmos a lei em uma mínima parte, já somos culpados.

Quando você foi diagnosticada com câncer de mama, você chegou a questionar o porquê disso?

Lutei com a pergunta “por que agora?”, com o tempo de Deus e o seu chamado para a minha vida. Lutei com a minha fé, também. Embora eu tivesse os melhores cuidados médicos disponíveis e uma família amorosa e apoiadora, pensei nas muitas pessoas sofredoras que não têm nenhuma dessas coisas. “Deus, o teu sistema não presta”, eu lhe disse, indignada. “Por que criaste um universo no qual as pessoas sofrem coisas tão horríveis desde o dia em que nascem até o dia da sua morte?”

Felizmente, eu tive pessoas maravilhosas ao meu redor que me ouviram e que choraram comigo. Não me deram respostas prontas; deixaram que eu me resolvesse com Deus sobre minhas dúvidas.

Por isso, quando as pessoas me perguntam: “Qual é a resposta às suas dúvidas?”, eu não tenho uma. O que eu realmente sei é que prefiro andar com Deus no escuro a dar um passo na luz sem ele. De certa forma, agora entendo menos a respeito de Deus – mas confio bem mais nele. É um paradoxo.

Você tinha alguma pista de que Deus a conduziria nesta direção?

Acho que ele plantou as sementes, mas de algum modo, através dos anos, elas ficaram enterradas. Entre a idade de vinte e trinta anos, passei a maior parte do tempo me sentindo inadequada. No meu conceito, eu tinha poucos dons e estava casada com Rick, um homem com dons extraordinários. Quando eu me comparava com ele e com outros, meus dons pareciam muito insignificantes.

Entre meus trinta e quarenta anos, meu tempo era totalmente consumido em cuidar dos nossos três filhos. Mas quando cheguei aos 40, meu mundo desabou.

Como assim?

Quando menina, fui molestada por alguém da minha igreja. Depois de adulta, consegui disfarçar muito bem, como se aquilo não me tivesse afetado. Decorava passagens da Bíblia, orava para as pessoas serem curadas, fazia todas as coisas costumeiras, mas minha vida estava edificada num alicerce bambo.

Aquele alicerce bambo não podia suportar o peso de todas as crescentes pressões da minha vida – as necessidades dos meus filhos, as demandas de uma enorme igreja, a notoriedade do ministério do meu marido. Desfraldei a bandeira branca da rendição.

O que aconteceu?

Tive que me submeter a aconselhamento intensivo por uns dois anos. Aquele período de extremo fracasso pessoal foi uma das melhores coisas que me aconteceram; através dele, Deus reconstruiu a minha vida. Reaprendi coisas, desaprendi outras e comecei a me ver sob uma nova luz. Deus estava me preparando para aquilo que faço hoje. Eu não poderia nem mesmo começar a ministrar para crianças e adultos sexualmente feridos se Deus não tivesse consertado as minhas próprias áreas quebradas.

O que é que mais a entusiasma?

Cristãos abrindo o caminho na prática do amor. Como é que as pessoas saberão que Jesus as ama a menos que nós o demonstremos na prática? E a verdade é esta: aquele que primeiro as amar é que vai ganhá-las.

Como é que as mulheres podem começar a demonstrar o amor de Jesus?

Comece com arrependimento. Eu tive que me arrepender da minha enorme apatia. Embora eu tenha lido a Palavra de Deus desde menininha, de alguma maneira eu pulava por cima daqueles versículos que falavam dos pobres e doentes.

Um terço do ministério de Jesus foi gasto em curar as pessoas. Jesus era cheio de compaixão. Ele tocou os leprosos, as prostitutas, as pessoas com as quais a sociedade dele não queria nada.

Peça a Jesus para lhe mostrar maneiras de demonstrar o coração dele no seu dia-a-dia. Eu não posso prescrever como fazer isso para qualquer outra pessoa. Se você não se sente chamado para alcançar pessoas soropositivas na sua comunidade, peça a Deus para abrir os seus olhos para outros grupos de pobres, doentes ou abandonados. À medida que você faz isso, esse assunto sai da teoria e torna-se pessoal. E quando se torna pessoal, você começa a se importar.

Tiago 1.27 diz: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades”. O que aconteceria se mais mulheres adotassem crianças indesejadas do seu próprio país, ou abrissem os seus lares para cuidar de órfãos e crianças abandonadas? E que tal se os cristãos verdadeiramente vivessem Tiago 1.27? Acredito que nós subestimamos seriamente o que Deus quer fazer através da igreja.

Todos podem fazer alguma coisa. Na sua pia, enquanto lava os pratos; no trocador de fraldas, enquanto você troca seu bebê, você pode orar pelas pessoas. A questão maior é deixar o seu coração ser partido por aquilo que parte o coração de Deus. Eu sonho com cristãos que vivam uma fé vigorosa que realmente mude o nosso mundo. Começa com oração, depois leva à ação. Sonho com mulheres que não estejam interessadas apenas em quem tem o melhor preço de frango esta semana. Deus nos pediu para fazermos e sermos muito mais do que isso.

Você tem um senso de urgência?

Sim, foi algo que surgiu do meu câncer de mama. Mas eu não vivo insegura, esperando que o câncer me pegue novamente. Meu desejo é não perder um instante sequer da minha vida presente. Todos os dias eu digo: “Deus, usa-me como tu queres. Eu viverei para o teu chamado por todos os dias que tu me deres”.

Que tipo de legado você espera construir?

Espero que os meus filhos e netos vejam uma vida de entrega e abandono radical para Deus. E, assim fazendo, eles estarão dispostos, como diz Isaías 58 e 61, a se doarem para o necessitado, o pobre, o imigrante, o doente. Derramar-se em benefício dos outros, refletir precisamente o coração do nosso Deus neste mundo – oh que honra! Que privilégio!

Traduzido e publicado de “Today’s Christian Woman” (uma revista do grupo “Christianity Today International), de maio/junho, 2006, com permissão de Christianity Today International, Carol Stream, Illinois, EUA (www.christianitytoday.com). Para outras informações sobre o ministério de Rick e Kay Warren para os órfãos de Aids, acesse www.Purposedriven.com/hivaids.

por Jane Johnson Struck
Postado Por Roberto
Abraço

inteira te servindo de

domingo, 27 de junho de 2010

EM QUE MUNDO VOCÊ TRABALHA

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Em Que Mundo Você Trabalha? 
 
Hoje somos confrontados por dois mundos, duas esferas de autoridade, sendo as duas totalmente diferentes e com caracteres opostos. Não se trata de um futuro céu e inferno; a questão está nestes dois mundos hoje, se eu pertenço a uma ordem de coisas em que Cristo é o Senhor soberano ou a uma ordem oposta de coisas que tem Satanás como seu líder efetivo.

Desde o dia em que Adão abriu a porta da criação de Deus para o mal entrar, a ordem do mundo mostrou-se hostil a Deus. Existe uma mente por trás dessa ordem, que é a do príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30;16.11; 1 Jo 5.19; Ef 6.12).

Podemos dizer que antes da Queda havia uma terra; após a Queda, passa a haver um mundo; e, quando o Senhor retornar, haverá um reino. Assim como o mundo pertence a Satanás, o Reino pertence ao Senhor Jesus.

O Curso deste Mundo


Deus está edificando sua igreja para sua consumação no reino universal de Cristo. Simultaneamente, seu rival está edificando seu sistema mundano para seu clímax no reino do Anticristo. Quão atentos devemos estar para que, em momento algum, nos encontremos auxiliando Satanás na construção de seu malfadado reino.

Quando nos deparamos com alternativas e com a escolha de caminhos a seguir, a questão não é: “Isto é bom ou mau? É útil ou nocivo?” Não; a pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: “Isto é deste mundo ou de Deus? Como isto está afetando meu relacionamento com o Pai?” Pois “se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15). Uma vez que há apenas este conflito no universo, toda vez que nos deparamos com dois cursos conflitantes, a escolha não deve ser menos do que esta: ou Deus... ou Satanás.

As Escrituras afirmam claramente: “O mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5.19). Jesus afirmou, logo antes de sua morte, que o momento chegara para “ser julgado este mundo” e para seu príncipe ser expulso (Jo 12.31). Será que temos conhecimento de que Satanás é hoje príncipe não só do crime, da corrupção, do engano e da lascívia, mas também da educação, da cultura, da ciência, das artes, do comércio e da política – de todas as coisas que constituem o sistema do mundo? Não pensemos nem por um momento que Satanás faz oposição a Deus somente pelo pecado e pela carnalidade no coração do homem; ele faz oposição a Deus por meio de todas as coisas mundanas. A natureza do mundo, e de tudo o que lhe pertence, é mover-se em direção contrária à vontade de Deus.

Veja como a “gravidade” natural do sistema puxa as coisas de um mundo para o outro: a maior parte das históricas universidades ocidentais foi fundada por homens cristãos que desejavam prover aos seus estudantes uma boa educação sob a influência cristã. Durante a vida de seus fundadores, o padrão daquelas instituições era alto, pois aqueles homens puseram um real conteúdo espiritual nelas. Mas quando morreram, o controle espiritual também morreu, e a educação seguiu seu inevitável curso em direção ao mundo do materialismo e distante de Deus.

Quando as coisas materiais estão sob controle espiritual, elas cumprem seu apropriado papel como subordinadas. Livres dessa restrição, elas manifestam, rapidamente, o poder que está por trás delas. A lei de sua natureza confirma-se, e seu caráter mundano é provado pelo curso que tomam.

Outro exemplo: há cerca de um século, a igreja começou a construir na China escolas e hospitais, com um definido padrão espiritual e um objetivo evangelístico. No início, não era dada muita importância aos prédios, enquanto a ênfase estava colocada na função da instituição na proclamação do Evangelho. Dez ou quinze anos depois, você poderia passar pelos mesmos locais e, na maioria deles, encontrar instituiçõinstituiça deles, encosntrar locaise, adrna apropriado papel como subordinadas.tambtalmente diferentes e com cares maiores e mais refinadas que as originais, mas, comparadas às dos primeiros anos, com um número muito menor de convertidos. E, hoje, muitas dessas esplêndidas escolas e universidades tornaram-se meros centros educacionais, carentes de qualquer motivação evangelística, enquanto, na mesma proporção, muitos dos hospitais que existem agora são apenas para tratamento físico, sem a preocupação com a cura espiritual. Os homens que iniciaram tais instituições conseguiram, em virtude de seu íntimo caminhar com Deus, mantê-las firmemente sob seu propósito, mas quando morreram, rapidamente estas instituições fizeram sua passagem de um mundo no qual o objetivo é servir ao propósito de Deus para um mundo organizado por Satanás.

Tome Muito Cuidado


A mesma transição pode ocorrer imperceptivelmente nas atividades cotidianas de plantar e construir, comprar e vender, trabalhar e descansar. Todas essas coisas podem ser perfeitamente legítimas, mas o poder que hoje está por trás delas pressiona os homens até que estes fiquem desnorteados e percam o equilíbrio. A força maligna que move o sistema do mundo tem precipitado uma condição hoje em que podemos ver dois extremos: o primeiro é a total incapacidade de vivermos somente com o que ganhamos, e o outro, a incomum oportunidade de juntar riquezas. Por um lado, muitos cristãos encontram-se em dificuldades financeiras sem precedentes; por outro, muitos encontram oportunidades de enriquecer também sem precedentes. Ambas as condições são anormais.

Vamos supor que eu lhe faça uma pergunta: “Em que você trabalha?”, e você responda: “Na área médica”. Assim responde, sem nenhum outro sentimento a não ser a satisfação na compassiva natureza de seu chamado e sem qualquer senso de possível perigo em sua situação.

Mas, e se eu lhe disser que a ciência médica é mais uma das unidades do sistema que é controlado por Satanás? E então? Presumindo que, como cristão, você me leve a sério, ficaria alarmado, e sua reação poderia até ser de perguntar-se se não seria melhor abandonar sua profissão. Não, não deixe de ser médico! Mas siga com prudência, pois está em território que é governado pelo inimigo de Deus e, a menos que esteja vigiando, poderá cair em qualquer uma de suas armadilhas.

Ou suponha que você seja engenheiro, ou fazendeiro, ou editor. Preste atenção, pois tais coisas também são do mundo, tanto quanto dirigir uma casa de entretenimentos ou um local que incentive os vícios (observe a diferença: em relação ao pecado, exercer uma profissão de engenheiro e trabalhar para incentivar vícios são coisas bem distintas; já em relação ao mundo, ambos pertencem ao sistema que é inimigo de Deus. O engano é achar que exercer uma profissão neutra nos isenta dos perigos desse sistema). A menos que você seja prudente, poderá ser pego em alguma rede de Satanás e perderá a liberdade que é sua como filho de Deus. Ao entrar em contato com qualquer uma das unidades de seu sistema, deveríamos pensar nisso duas vezes para que, inadvertidamente, não sejamos encontrados ajudando a construir seu reino.

Sair ou Abrir os Olhos?


Como muitos outros fatos da vida cristã, o caminho para a libertação do mundo é uma surpresa para a maioria de nós, pois vem contra todos os conceitos naturais do homem. O homem busca resolver o problema do mundo removendo-se fisicamente do que considera ser uma zona de perigo. Mas a separação física não opera a separação espiritual; e o contrário também é verdade: o contato físico com o mundo não leva à servidão espiritual do mundo. A escravidão espiritual do mundo é fruto da cegueira espiritual, e a libertação é o resultado de termos os olhos abertos. Por mais profundo que, aparentemente, possa parecer nosso contato com o mundo, estamos libertos de seu poder quando verdadeiramente conhecemos sua natureza. O caráter essencial do mundo é satânico; é inimizade com Deus. Saber disso é encontrar libertação.

Torno a perguntar-lhe: Qual é sua ocupação? É comerciante? É médico? Não fuja desses chamados. Simplesmente escreva: O comércio está sob a sentença de morte. Escreva: A medicina está sob a sentença de morte. Se assim o fizer com sinceridade, daqui em diante sua vida será diferente. Em meio a um mundo em julgamento, por causa de sua hostilidade contra Deus, você saberá como é viver como alguém que verdadeiramente o ama e o teme.

Não há razão para desistir de nosso emprego ou da nossa atividade secular. Longe disso, pois é lá que está a nossa vocação como luzeiros no meio das trevas. Neste assunto, não há considerações seculares, somente as espirituais. Não vivemos nossa vida em compartimentos separados, como cristãos na igreja e como indivíduos seculares no restante do tempo. Não há nada em nossa profissão ou em nossa atividade cotidiana que Deus deseja que seja dissociado de nossa vida como seus filhos. Tudo o que fazemos, seja no campo, seja na estrada, na loja, na fábrica, na cozinha, no hospital ou na escola, tem valor espiritual no reino de Cristo. Estamos ali para reivindicar tudo para ele.

Satanás preferiria que não houvesse cristãos em nenhum desses lugares, pois, decididamente, eles estão em seu caminho ali. Ele tenta, portanto, assustar-nos para tirar-nos do mundo, e, se não consegue fazê-lo, tenta envolver-nos em seu sistema mundano por fazer-nos pensar conforme ele pensa e por ditar nosso comportamento pelos seus padrões. Qualquer uma das duas opções seria uma vitória para ele.

Por outro lado, o fato de estarmos no mundo e, ao mesmo tempo, mantermos todas as nossas esperanças, todos os nossos interesses e perspectivas fora do mundo, significa a derrota de Satanás e a glória de Deus. A igreja não glorifica a Deus quando sai do mundo, mas quando irradia sua luz nele. O céu não é o lugar para se glorificar a Deus; será o lugar onde ele será louvado. O lugar para glorificá-lo é aqui.


 Extraído de “Não Ameis o Mundo”, Watchman Nee, Editora dos Clássicos.
por Watchman Nee
Postado por Roberto
Abraço

CARREIRA PROFISSIONAL VERSUS CHAMADO

Carreira Profissional Versus Chamado 

Hoje em dia, quase nem se fala em chamado. É mais comum pensar em termos de carreira profissional. No entanto, para muita gente, a profissão se transforma em altar, sobre o qual sacrificam a vida. Benjamin Hunnicutt é historiador da Universidade de Iowa, especializado em história do trabalho. Ele observa que o trabalho se tornou uma religião, objeto de adoração e dedicação de nosso tempo. À medida que o compromisso com a família, a comunidade e a fé encolhem, as pessoas começam a se voltar para o trabalho, na esperança de que este lhes proporcione sentido, relacionamentos, identidade e estima.
O chamado, que implica fazer algo para Deus, é substituído por uma carreira profissional, a qual ameaça assumir o papel de deus. A profissão eu escolho; o chamado eu recebo. Exerço uma profissão para mim mesmo; o chamado é algo que faço para Deus. A profissão me promete status, dinheiro ou poder; em geral, o chamado promete dificuldades e até certo sofrimento – além da oportunidade de ser usado por Deus. Profissão diz respeito à mobilidade ascendente; chamado costuma levar à mobilidade descendente.
Logo que ingressei no ministério pastoral, as pessoas às vezes me perguntavam quando eu havia recebido "o chamado", como se atuar na igreja exigisse um chamado, ao passo que uma ocupação no mercado de trabalho apenas fizesse parte de uma carreira profissional. Mas não é assim. Sei muito bem que é possível transformar o trabalho na igreja em uma carreira profissional com progressos e conquistas. Também é possível fazer do emprego secular um chamado, quando realizado para servir a Deus e aos outros.
A carreira profissional pode acabar em aposentadoria e uma porção de "brinquedos". O chamado só termina quando se morre. As recompensas da carreira profissional podem ser visíveis, mas temporárias. A importância de um chamado dura toda a eternidade. A carreira profissional pode ser interrompida por uma série de acontecimentos – mas não o chamado. Quando Deus chama alguém, ele o capacita a cumprir seu chamado mesmo sob as circunstâncias mais adversas.
As Escrituras estão cheias de pessoas escravizadas, capturadas e exiladas, lançadas na prisão. A trajetória profissional dessa gente não parecia promissora. Mesmo assim, cumpriram seu chamado de maneira extraordinária.
O faraó tinha uma carreira profissional – Moisés, um chamado. Potifar tinha uma carreira profissional – José, um chamado. Hamã tinha uma carreira profissional – Ester, um chamado. Acabe tinha uma carreira profissional – Elias, um chamado. Pilatos tinha uma carreira profissional – Jesus, um chamado.
E não só as personagens das Escrituras.
Charles Colson estava no meio de uma das carreiras profissionais de maior notoriedade dos Estados Unidos. Tinha acesso ao poder, desfrutava enorme influência. Até que foi parar na prisão. Achou que sua carreira chegara ao fim – e, de certa forma, tinha razão. Sua carreira profissional terminara de fato – mas seu chamado estava apenas começando. Seria chamado para servir a homens na cadeia, como ele.  Para servir a uma nação inteira com seus dons e sua ruína.
Ele pondera: “Meu maior fracasso foi o real legado de minha vida – o fato de me tornar um ex-condenado. Minha maior humilhação – passar pela cadeia – marcou o momento em que Deus começou a usar minha vida grandemente; ele escolheu, para sua glória, a experiência da qual eu não podia me gloriar”.
Às vezes, na providência de Deus, o fim de uma carreira é o começo de um chamado. E você tem um chamado. Ninguém é uma peça que não serve para nada – você está em missão divina.
Extraído de “Venha Andar Sobre as Águas”, John Ortberg, Ed. Vida, 2002.
por John Ortberg
Postado por Roberto